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Contabilidade dos prejuízos no campo com a paralisação dos caminhoneiros

Douglas Magno

O movimento de paralisação dos caminhoneiros entra em seu 10º dia, mas já sem tanta força quanto no início. Ainda assim, os prejuízos continuam a ser contabilizados em quase todos os setores e no agronegócios as perdas são bilionárias. Segundo uma estimativa prévia da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), as perdas são de R$ 6,6 bilhões para os produtores rurais após nove dias de bloqueios.

“Este prejuízo é apenas na produção primária, sem considerar ainda o processamento, as indústrias e a parte de insumos, que estão tendo prejuízos severos. E ainda fora o que está por vir, porque a recuperação não é imediata”, afirmou o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, que alertou para o “caos extremo” na produção de alimentos se os bloqueios continuarem.

Diante desses números e de prejuízos que se agravam a cada novo dia de paralisação, produtores chegam a se revoltar ao sentirem suas atividades e seu dia a dia cada vez mais prejudicados. Em Ibirubá, no Rio Grande do Sul, um produtor se manifestou na tarde desta terça-feira (29) despejando litros de leite no meio da rua lamentando os efeitos do movimento.

A cena representa o fim do movimento no campo e deixa claro o dilema da paralisação: beneficia uns, mas causa enormes injustiça a outros.

No estado gaúcho, assim como nos demais, dez dias aprós o início da paralisação dos caminhoneiros, muitos serviços continuam afetados e ainda não tiveram seu ritmo normalizado. Cerca de 200 cidades têm decretos de emergência ou calamidade pública.

Em reunião encerrada na tarde desta terça-feira (29) com o setor de proteína animal, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, comunicou que a cadeia produtiva tem condições de tratar os plantéis de aves e suínos apenas até esta quinta-feira (1) caso a paralisação dos caminhoneiros não se encerre no curto prazo. “O setor, que é altamente encadeado e já está capengando (com a greve), pode entrar em colapso”, disse Maggi, após encontro paralelo durante o Fórum de Investimentos Brasil 2018, em São Paulo. Participaram da reunião o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, e o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Rui Vargas.

Maggi ressaltou não estar fazendo este alerta para o governo, que já tem conhecimento da situação, mas para os caminhoneiros que ainda estão parados e também para a população, que corre risco de desabastecimento. “Deve-se alertar a população para o que está por vir pela frente”, disse ele, informando que a capacidade diária de abates de aves é de 23 milhões de aves, e provavelmente elas não serão abatidas. “Essas aves entrarão em colapso e vão morrer por falta de comida”, assinalou. “E se não tem como alimentar os animais e abater, vai faltar (carne) também para a população.” O ministro afirmou também que há risco de alta nos preços da carne de frango por causa da escassez que pode ocorrer, o que vai certamente afetar a população mais pobre, grande consumidora da proteína.

Produtores de cana perdem R$ 180 milhões ao dia e são alvo de vandalismo

Prejuízos diários de cerca de R$ 180 milhões por dia têm sido impostos até o momento às 150 empresas produtoras de cana-de-açúcar do estado de São Paulo como parte do saldo da greve dos caminhoneiros, segundo divulgou nesta terça-feira (29/5) a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). Como agravante, a entidade denunciou a ocorrência de ações criminosas  contra o patrimônio das empresas.

Entre os casos relatados está o de grevistas contrários à retomada das atividades agrícolas e industriais que atacaram as companhias apedrejando ônibus de funcionários, incendiando canaviais e impedindo circulação de caminhões-tanques e demais veículos de carga do setor. A linha férrea na região de Bauru teria sido danificada em decorrência de investidas do tipo.

No levantamento mais recente da Única sobre os impactos da greve no setor sucroenergético, todo o grupo de unidades produtoras de cana permanece paralisado, com inúmeros bloqueios em rodovias e vias secundárias que dão acesso às usinas.

Carla Mendes

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