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Ministra admite ‘desconforto’ de árabes com Brasil

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina — Foto: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reconheceu nesta terça-feira (2) que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de abrir um escritório comercial em Jerusalém gerou um “desconforto” na relação dos países árabes com o governo brasileiro. A titular da Agricultura ressaltou, entretanto, que, no que depender dela, vai se esforçar para que o episódio diplomático não tenha impacto econômico ao Brasil.

Tereza Cristina confirmou que vai se reunir no dia 10 de abril com 51 embaixadores de países árabes para, entre outros assuntos, tratar do mal-estar diplomático criado pela decisão de Bolsonaro. Segundo ela, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – entidade que representa os ruralistas – vai participar do encontro com os diplomatas árabes.

No último domingo (31), no primeiro dia de sua visita oficial a Israel, Bolsonaro anunciou a abertura de um escritório comercial do governo brasileiro na cidade considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos e que não é reconhecida internacionalmente como capital israelense.

A instalação do escritório em Jerusalém foi uma saída diplomática para tentar driblar o embaraço gerado com países árabes após o presidente ter manifestado publicamente, logo após ser eleito, a intenção de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo do que fez o presidente norte-americano Donald Trump.

O recuo de Bolsonaro em relação à transferência da embaixada se deu após ponderações da ala militar do governo, de ruralistas e da própria ministra da Agricultura de que a medida poderia gerar um prejuízo bilionário para a economia brasileira.

Mesmo com o recuo em relação à transferência da chancelaria, o anúncio da instalação da repartição comercial em Jerusalém causou indignação de opositores do Estado israelense.

A Autoridade Palestina condenou a decisão de Bolsonaro e anunciou que vai chamar de volta ao Oriente Médio o embaixador no Brasil para consultas, o que no protocolo diplomático significa uma grande insatisfação e reprovação por parte do governo palestino.

“Existe, é claro, um desconforto, vamos assim dizer. Mas as relações vão continuar. No que depender de mim, como ministra da Agricultura, e do setor produtivo que apoia esse relacionamento, essa cooperação comercial entre os países do mundo árabe e do Brasil, nós vamos continuar fazendo com que ele cresça”, declarou Tereza Cristina nesta terça a jornalistas.

“Esses problemas de geopolítica são para o presidente da República, para o embaixador, chanceler”, complementou.

O episódio do escritório comercial em Jerusalém suscitou o receio de retaliações comerciais de países árabes, grandes compradores de carne bovina e de frango do Brasil.

Na mesma entrevista coletiva concedida nesta terça-feira, a ministra da Agricultura também disse que a “saída” do escritório de negócios é um meio termo entre manter a embaixada em Tel Aviv e transferi-la para Jerusalém.

“Eu acho que a saída do escritório é realmente um meio termo. Não é uma embaixada lá, é um escritório de negócios. A gente sabe do ânimo que existe lá naquela região, mas o Brasil é um país que é amigo de todos os países e na área comercial nós temos um peso muito grande no mundo árabe, no mundo islâmico. Então eu acho que nós temos que continuar conversando”, ponderou.

Mourão

Questionado por repórteres nesta terça-feira sobre a reação dos países árabes à decisão de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão minimizou a repercussão do caso.

“Não tô vendo reação do mundo árabe. Eu vi uma reação pontual do Hamas, que detêm parte do poder da autoridade palestina. E é obvio que cada um tem sua opinião a respeito disso. O Brasil, representado pelo atual governo, tem a liberdade de escolher aquilo que julgar melhor”, disse Mourão.

Nesta segunda (1º), o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, divulgou comunicado condenando a visita de Bolsonaro a Israel e afirmando que a presença do presidente brasileiro no país do Oriente Médio “não só contradiz a atitude histórica do povo brasileiro, que apoia a luta pela liberdade do povo palestino contra a ocupação [israelense], mas também viola as leis e as normas internacionais”.

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