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Na Chapada do Apodi, avanço do agronegócio tem expulsado famílias agricultoras

Agrotóxicos ameaçam a vida dos moradores da Chapada do Apodi

O cheiro forte trazido pelo vento, anuncia o avanço do agronegócio na Chapada do Apodi, na divisa do Ceará e Rio Grande do Norte.

O veneno que está sendo utilizado pelas grandes empresas nas plantações de algodão e soja ultrapassa os limites da convivência e entra no plantio e nas casas dos agricultores.

A agricultora Eliete Alves relata o quão difícil é conviver com o cheiro.

“Eu estava aqui e falei assim: ô catinga. E o meu filho falou assim: mãe é o veneno, o vento traz”.

Não é de hoje que as famílias enfrentam esse malefício, mas o crescimento das empresas na área se intensificou a partir de 2020, trazendo maiores impactos socioambientais para as famílias camponesas que não têm muito o que fazer, a não ser deixarem suas casas.

Mas, independente da produção agroecológica, o agronegócio continua violando os camponeses.

As grandes máquinas ao redor das propriedades fazem muito barulho dia e noite e afeta a condição psicológica dos moradores da chapada.

O desmatamento e a poeira, aliada ao maquinário, invadem as casas e expulsam as vidas.

Outro grande problema é que além dos impactos ambientais e à vida de quem mora na região, o avanço do agronegócio tem deixado as comunidades ilhadas.

Fortalecimento da Agricultura Familiar

Uma medida que tenta impedir o êxodo desses moradores e fortalecer a agricultura familiar é o projeto “Comunidade que sustenta a agricultura – meu quintal em sua cesta”.

Em um trabalho coletivo, os agricultores disponibilizam seus produtos a uma associação, que monta e entrega as cestas nas comunidades da chapada, como explica Aline Maia, técnica da Cáritas de Limoeiro do Norte, no Ceará.

“As cestas são entregues por um valor simbólico. As pessoas pagam pelo produto que elas adquirem, que são produtos diversos até a carne em algumas épocas nós temos.

A carne de caprino, a carne de porco, a de galinha caipira, o ovo, a acerola, são os produtos que temos nos quintais”, relatou Aline.

Segundo Anjerliana Souza, geógrafa e técnica da Cáritas, o Estado deve agir para que o agronegócio não afete ainda mais a vida da população camponesa.

“O estado tem ferramentas para proteger esses territórios, para que essa produção não fique ao redor das comunidades, para que ela não gere um impacto maior do que o que ela já está gerando.

Sem falar no agrotóxico que sabemos que vai no ar, penetra no solo e vai chegar no aquífero.

Então, essas comunidades não tiveram acesso à água e agora que cavaram dois poços, e não sabemos se vai dar água, e se quando der se eles vão ter acesso a água, e se essa água vai ser de qualidade, se ela já não vai estar envenenada”, complementa Anjerliana.

Rodolfo Rodrigo

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