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“Ferida aberta da Amazônia”, diz diretor de Noites Alienígenas, longa multipremiado em Gramado

Ferida aberta na Amazônia - filme acreano vencedor em Gramado

O diretor Sérgio de Carvalho e toda equipe de Noites Alienígenas foram de norte a sul do país para marcar história no cinema nacional.

Filmado e produzido inteiramente no Acre, o longa já chegou ao Festival de Cinema de Gramado premiado, por ser o primeiro filme do estado a participar da principal mostra competitiva do país.

“No dia seguinte da premiação muitos produtores do Amapá, Acre, Pará e outros estados da Amazônia me ligaram e falaram ‘a gente tá se sentindo representado’.

Espero que o filme possa ser uma vitrine para essa produção contemporânea do Norte do país”, conta emocionado o cineasta.

O longa foi consagrado com cinco premiações na 50ª edição do Festival de Cinema de Gramado, principal evento nacional do setor e com prestígio internacionalmente.

Noites Alienígenas ganhou Melhor Filme; Melhor Ator (com Gabriel Knoxx), Melhor Ator Coadjuvante (com Chico Diaz), Melhor Atriz Coadjuvante (com Joana Gatis); e Menção Honrosa.

No tapete vermelho da Rádio Brasil de Fato, o diretor apresentou e contou bastidores do multipremiado filme Noites Alienígenas, na edição desta sexta-feira (26) do programa Bem Viver.

O filme é inspirado em um livro escrito pelo próprio diretor. Inicialmente o enredo focava numa história de dependência química.

“Quando eu fui fazer o roteiro, cinco anos depois de escrever o livro, percebi que precisava adaptar, porque a história do Acre tinha mudado. Neste meio tempo percebi que a periferia do Acre era outra. A gente sofreu um impacto tremendo com a chegada das facções criminosas do Sudeste. Chegou de maneira bruta, cooptando muito dessa juventude, mudando o tecido social da cidade e de outras do Norte.”

A partir do realismo fantástico, Noites Alienígenas se passa na periferia de Rio Branco (AC) e conta o impacto social da chegada do crime organizado no Norte do país.

O protagonista Rivelino é interpretado por Gabriel Knoxx, cantor e compositor da capital acreana que fez a estreia no cinema em Noites Alienígenas.

“Gabriel Knoxx nunca tinha feito nada de audiovisual. Ele vem da periferia e vive muitas das questões que o filme traz.

Quando ele ganhou melhor ator eu não consegui ver mais nada. O Acre inteiro estava vendo, todo mundo ligado nessa emoção”, relata Sérgio de Carvalho.

Ferida aberta

Segundo o diretor, o filme conta sobre uma “ferida aberta da Amazônia. Esse tráfico de drogas está ligado aos garimpeiros, aos madeireiros.”

O diretor defende a importância do longa falar sobre a Amazônia urbana.

A produção foge do lugar comum de produzir um filme que aborde exclusivamente a pauta ambiental ao tratar da floresta. Ao mesmo tempo que não ignora a temática.

“A Amazônia urbana está diretamente ligada à floresta. Mas existe uma ruptura, e isso se percebe na identidade plural de alguns personagens.”

Sérgio de Carvalho mora há 20 anos no Acre, mas nasceu no interior de São Paulo e se formou em Cinema no Rio de Janeiro. “

É importante falar de qual é o meu local de fala. Quando eu cheguei aqui, logo depois de formado, o Acre me arrebatou. É um estado riquíssimo com uma diversidade impressionante.”

O diretor também valoriza o momento em que chegou no estado. “Cheguei num lugar de políticas progressistas, um momento muito especial. O Acre estava valorizando muito os povos tradicionais, um momento muito bonito e forte.”

Por fim, Sérgio de Carvalho promete que mais produções vão seguir surgindo. Ele está confiante que Noites Alienígenas pode funcionar como um impulsor de mais investimento ao audiovisual da região.

“A Amazônia nunca produziu tanto como agora. Ainda que este momento esteja tudo muito frágil. Mas as políticas de descentralização fizeram diferença e espero que Noites retome essa produção.”

Lucas Weber

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