“Não estamos alegres, É certo, Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?”
São com estes versos que Vladimir Maiakóvski inicia um de seus mais importantes e reconhecidos poemas. O correr do tempo me fez refletir um tanto sobre eles. Sim, não estamos alegres, mas tristes. Afinal, por qual razão haveríamos de estar felizes?
Há certa estranheza no ar. Aqui e em todo lugar do planeta. Brasileiros são apenas “privilegiados” com a maldição de estarmos vivendo um dos períodos políticos mais tétricos de sua História.
Mas outras regiões do continente Latino-Americano e de todo o Sul Global, principalmente, vivem situações catastróficas.
Um vírus mortal, clausura, desigualdade social galopante, flexibilizações no mundo do trabalho, quando não desemprego e migrações em massa. Uma tragédia anunciada pelos senhores do Capital e de seu neoliberalismo triunfante.
Contudo, há uma estranheza mais subjetiva no ar. Uma estranheza no olhar do outro. Sentimentos e emoções que estão carregados de uma enorme tristeza e solidão.
Ao mesmo tempo em que estamos todos enredados numa teia virtual de infinita magnitude, sem contar a impossibilidade de quarentenas rígidas ou clausuras seguidas à risca, próximos uns dos outros, nos sentimos estranhos e vazios na multidão crescente, carentes de um sentido maior.
Aqui não me refiro ao deus transcendental dos cristãos, muçulmanos, judeus ou toda a sorte de religiões que a cada dia nascem e morrem como todos.
Há uma estranheza perante o outro (o diferente, o estrangeiro, etc.) como há uma diferença, insatisfação e confusa estranheza frente aos parentescos, aos mais íntimos, aos que amamos ou amávamos.
Os infortúnios da vida e do ano que se passou – e que se arrasta, como bem escrevi em minha última coluna “Perda: breve cônica” – parecem ter feito terra arrasada na vida subjetiva, na saúde mental e na construção de expectativas de milhões de pessoas, quiçá de todo o mundo.
Aqui, retiro do “mundo das dificuldades abrangentes” milionários e bilionários que viram seus lucros aumentarem e seu cotidiano opulento permanecer inalterado. Falo do restante.
Luís Felipe Machado de Genaro