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Livro de Tolstói é apontado como pivô da separação de Sandy e Lucas Lima; fãs do escritor ironizam

Fiodor Dostoiévski citou Tolstói (foto) como um dos maiores escritores de todos os tempos

A separação de Sandy e Lucas Lima ultrapassou a bolha das notícias de celebridades e passou a circular entre entusiastas da literatura russa e até tradutores.

Tudo começou quando internautas resgataram um post em que Lucas comenta os efeitos da leitura de ‘A Morte de Ivan Ilitch’, novela de Lev Tolstoi publicada em 1886. “Que livro forte”, escreveu Lucas. “Deu uma chacoalhada legal do Lucão. Recomendo”, acrescentou.

O post foi compartilhado no dia 5 de setembro e tem duas imagens. Na primeira, Lucas, que é um leitor experiente e compartilha dicas de livros em seu perfil, mostra a capa do livro da editora 34, pioneira em traduzir autores russos a partir do original.

Na segunda foto, ele sublinha, em amarelo, um trecho da obra: “Talvez eu não tenha vivido como deveria”, ocorreu-lhe de repente. “Mas, como, se eu sempre fiz o que devia fazer?” O texto segue com “respondeu, imediatamente descartando essa hipótese (…)”.

“Russo não tem o menor jeitinho na hora de falar as coisas na lata, né? Texto muito direto, sólido, sem firula nem carinho. Verdade sem desvios. Baita reflexão sobre a vida, sobre escolhas e os porquês destas”, publicou Lucas Lima, 20 dias antes de o casal anunciar a separação. Sandy e o músico estavam juntos havia 24 anos.

Quando escreveu esse livro, coincidentemente, Tolstoi estava casado havia 24 anos. Ele tinha 58 anos e 13 filhos.

Na apresentação do volume Novelas Completas (Todavia, 2020), em que este texto também pode ser lido, o tradutor Rubens Figueiredo escreve, na apresentação, que naqueles anos em que Tolstoi trabalhou em A Morte de Ivan Ilitch (1882-1886), “o ambiente conjugal e familiar de Tolstoi já adquirira o caráter conflituoso que, com altos e baixos, iria perdurar até o fim de sua vida, em 1910″.

Tolstoi chegou a pensar em sair de casa. Além da crise conjugal, o autor vivia uma crise intelectual, com questões acerca de experiências pessoais e sociais.

O enredo parece simples: é a história de Ivan Ilitch, um juiz de instrução que, depois de alcançar uma vida confortável, descobre que tem uma grave doença.

A partir daí, passa a refletir sobre o sentido de sua existência. O resultado, porém, é profundo. E pode ser lido nesta chave: “o que estou fazendo com a minha vida?”.

O também escritor russo Nabokov dizia que essa era uma das obras máximas da literatura russa.

“Meu primeiro ponto é que não se trata da história da morte de Ivan, e sim da vida de Ivan”, escreveu Nabokov.

Ele segue: “A fórmula tolstoiana é: Ivan viveu uma vida má, e como a vida má é simplesmente a morte da alma, então Ivan viveu a morte em vida”.

São três questões principais na história de Ivan Ilitch, como ressalta Rubens Figueiredo: “a presença da morte como metonímia da morte”, “o sentido de propriedade privada e da acumulação de riqueza na vida cotidiana da classe dominante e da camada média a ela associada, a que pertence o protagonista” e, por fim, “a fraude”.

O tradutor explica o último como um “conceito repisado no curso do relato e cuja função consiste em impedir que as pessoas enxerguem a morte e admitam seus efeitos sobre as escolhas cotidianas e sobre a maneira de viver”.

Tolstói e a repercussão nas redes

Nas redes sociais, tradutores e leitores de literatura russa brincaram dizendo ‘ainda bem que ele não leu Sonata de Kreutzer’.

A sinopse: “uma narrativa de caráter alucinatório sobre a infidelidade no casamento, contada sob a perspectiva de um assassino. Publicado em 1891, o livro investiga o desequilíbrio nas relações entre homens e mulheres e a hipocrisia que reveste o comportamento sexual na sociedade”.

A brincadeira seguiu com as questões conjugais em Tolstoi, quase sempre com desfechos trágicos – iniciando com A ‘Felicidade Conjugal’, que ele escreveu antes de ser casado – uma novela contada a partir da perspectiva da mulher que se conforma com o fim do amor pelo marido e com sua transformação em uma espécie de amizade.

Falam também de ‘Anna Kariênina’, que tem questões de traição e suicídio. E dos livros de Sofia Tolstoi, mulher do escritor: ‘De Quem é a Culpa?’ e ‘Canção Sem Palavras’, novelas em resposta à Sonata Kreutzer.

“É ler esse daí e nunca mais ser o mesmo. Isso sendo bom ou ruim”, escreveu um internauta.

“O tal poder transformador da literatura”, citou outro. “Êita! Mas essa obra abala estruturas mesmo. Ainda bem que não leu A felicidade conjugal”, apontou um terceiro. “Sandy tem que agradecer por não ter sido ‘Sonata a Kreutzer’”, escreveu mais um leitor.

Maior de todos os tempos

Lev Tolstói é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Seus contemporâneos prestaram-lhe diversas homenagens.

Fiodor Dostoievski o classificou como o maior romancista de sua época. Gustave Flaubert, ao ler uma tradução de Guerra e Paz, exclamou: “Que artista e que psicólogo!”

Anton Chekhov, que muitas vezes visitou Tolstói em sua propriedade rural, escreveu: “Quando a literatura possui um Tolstói, torna-se fácil e agradável ser escritor, mesmo quando você sabe que não foi bem sucedido e que continuará fracassando.

Isso não soa tão terrível, pois Tolstói já foi bem-sucedido o suficiente por todos nós”.

O poeta e crítico britânico Matthew Arnold opinou que “um romance de Tolstói não é uma obra de arte, mas um pedaço de vida”.

Virginia Woolf o nomeou como “o maior de todos os romancistas”. James Joyce observou que: “Ele nunca é maçante, estúpido, cansativo, pedante ou teatral!”.

Thomas Mann elogiou a arte aparentemente inocente de Tolstói: “Raramente a arte trabalhou tanto quanto a natureza”. Tais sentimentos foram compartilhados por Proust e Faulkner.

Guerra e Paz, de Tolstói, é uma das obras mais volumosas da história da literatura universal, com cerca de 1.200 páginas. A riqueza e realismo de seus detalhes assim como suas numerosas descrições psicológicas fazem com que seja considerado um dos maiores livros da História da Literatura.

RPP

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