Antes de qualquer pergunta, Marcus Mumford e Winston Marshall, da banda britânica Mumford & Sons, querem deixar claro que amam o Brasil e prometem voltar em breve ao País, mesmo que ele não esteja nas 60 datas já anunciadas da turnê atual, que começou junto com o lançamento do quarto álbum da banda, Delta.
“Nosso show em São Paulo, no Lollapallooza, foi o meu favorito, junto com o de Glastonbury”, disse Marcus Mumford, vocalista e guitarrista, no bate-papo exclusivo com o jornal “O Estado de S. Paulo”, em Los Angeles.
“O público era insano. Eles foram exatamente como nos disseram que seriam. Foi demais.”
Delta chega três anos após o último álbum, Wilder Wind, que tirou o Mumford & Sons da pegada folk, com som marcado pelo banjo, e levou para uma seara mais de indie rock.
O disco novo foi produzido por Paul Epworth, que trabalhou com Kate Nash, Florence and the Machine, Adele, Bruno Mars e Coldplay, entre outros, e soa bem diferente dos demais.
“Queríamos explorar mais criativamente”, explicou Mumford. O estúdio ficava aberto, com todo o tipo de gente entrando e saindo o tempo todo.
“Foi um privilégio poder observar pessoas e ser inspirado por elas.
Para Winston Marshall, a cargo da guitarra e do banjo, a banda encontrou sua maneira ideal de compor, trabalhando suas músicas com essas pessoas também em vez de exclusivamente no palco.
“Nós gostamos de gente, gostamos de colaboração.”
A própria banda é um coletivo, com os quatro integrantes compondo.
“Foi um processo intenso tentar resumir as experiências mais adultas dos últimos três anos das nossas vidas no álbum.
Como somos quatro, é como se fossem 12 anos”, garantiu Mumford. “Tínhamos de cuidar para não ficar sincero demais. Queríamos um disco cheio de cores diferentes.
Então não queríamos só músicas sombrias ou só alegres. É bem autobiográfico.”
Delta foi descrito como o álbum dos 4 “Ds”, “death” (morte), “divorce” (divórcio), “depression” (depressão) e “drugs” (drogas). Marcus Mumford contesta a definição.
“É também sobre nascimento e amor e casamento”, afirmou. “Passamos muito tempo na estrada, é como se estivéssemos numa bolha, parcialmente protegidos da vida doméstica.
Não estávamos tendo a experiência do dia a dia com amigos e família. Mas, como no ano passado fizemos poucos shows, ficamos mais em casa e compusemos mais sobre isso.”
Nesse período, por exemplo, Mumford se tornou pai – ele tem dois filhos com a atriz Carey Mulligan – e viu da janela de casa o incêndio que consumiu a torre Grenfell, em Londres, matando 72 pessoas.
Mumford se envolveu com a comunidade atingida pela tragédia.
“Tenho certeza de que isso entrou no álbum”, lembrou.
“Passamos esses últimos três anos ouvindo os outros.
Tive o privilégio de poder ouvir o que tinham a dizer.
Fomos também a Israel e à Palestina e falamos com muitas pessoas. Tentamos não falar muito, mas ouvir, o que é irônico porque nossa sociedade, nossa geração especialmente, não ouve o suficiente.”
Marcus Mumford contou também ter feito um esforço para não falar em nome das vítimas, só usando sua posição para dar voz a elas. Eles veem como os artistas têm sido levados a se posicionar sobre as questões políticas e sociais de hoje, de Kanye West a Taylor Swift.
“Quando você começa sua carreira, não é com a intenção de ser fotografado ou ter tudo o que diz levado a sério. Só quer tocar suas músicas.
Entendo que há uma responsabilidade no que se diz, mesmo por meio das músicas. Mas não sei se há uma obrigação de ser porta-voz de todo tipo de questão.
Tem sido interessante ver como artistas têm tentado navegar essa realidade.”
Winston Marshall afirmou que se posicionar ou não é algo em que ele tem pensado muito. “Nem sei se artistas têm tanto poder assim para mudar a cabeça dos outros.
Talvez tenham.” Indagado sobre o caso de Roger Waters, que se posicionou politicamente no Brasil, disse que pessoalmente não gosta disso em shows.
“Porque desperta partes do meu cérebro, me fazendo pensar em certas coisas, o que atrapalha a maneira como gosto de curtir a apresentação.”
Em relação à própria turnê, Marcus Mumford contou estar empolgado e um pouco nervoso.
“Somos uma banda ao vivo, sempre senti que nossos álbuns eram grandes anúncios para nossos shows”, afirmou.
Mas a turnê de Delta é bem mais ambiciosa do que as anteriores, com uma disposição do público em esfera, o que reflete a experiência imersiva que tiveram ao fazer o álbum.
“A ideia é ter público atrás da gente, na frente, em cima e embaixo.”
Antes do fim da entrevista, os dois integrantes do Mumford & Sons voltam a prometer vir para a América do Sul.
“Vamos voltar!”
JB