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Zuzu Angel será incluída no livro dos heróis brasileiros

zuzu angel Zuzu tornou-se conhecida por usar desfiles de moda como denúncia da ditadura e do desaparecimento de seu filho Stuart Edgar Angel Jones, morto em maio de 1971

Aguarda sanção presidencial projeto que inscreve Zuzu Angel no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria.

A estilista Zuleika Angel Jones, que morreu em 1976, em circunstâncias nebulosas, ficou conhecida por sua luta para localizar o filho Stuart, torturado e assassinado durante a ditadura – militante político, seu corpo nunca foi encontrado.

O projeto foi aprovado na Câmara e no Senado neste mês de março.

A estilista “não só foi uma heroína da costura como também da maternidade, já que sacrificou sua vida na busca do corpo de seu filho”, escreveu a jornalista Hildegard Angel, sua filha.

“Zuzu desafiou, não se calou, prosseguiu corajosamente na sua luta, denunciando o arbítrio, apesar das perseguições e ameaças”, disse Hildegard no último dia 9, logo após a aprovação do Projeto de Lei (PL) 4.411 na Câmara.

O texto, que teve como autora a deputada Jandira Feghali (RJ) e como relatora Alice Portugal (BA), ambas do PCdoB, seguiu para o Senado onde, relatado por Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), foi aprovado no dia 22. Agora, aguarda sanção do presidente Michel Temer.

Zuzu tornou-se conhecida por usar desfiles de moda como denúncia da ditadura e do desaparecimento de Stuart Edgar Angel Jones, morto em maio de 1971, aos 26 anos, sob tortura na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro.

Ele era militante do MR-8.

A busca da estilista teve repercussão internacional.

O pai de Stuart, Norman, era natural dos Estados Unidos.

Ela conseguiu, inclusive, entregar ao então secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, uma carta com a denúncia sobre o caso.

“Tanto, recentemente, a Comissão da Verdade, quanto, em 1998, a Comissão dos Mortos e Desaparecidos confirmaram o assassinato de Zuzu Angel por agentes do Governo Brasileiro”, escreveu Hildegard em sua página na internet.

A estilista, que vivia sob ameaças, morreu em um acidente na madrugada de 14 de abril de 1976, na auto-estrada Lagoa-Barra, no Rio.

Em 1998, uma testemunha relatou à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos ter visto o carro de Zuzu ser fechado.

Durante as atividades da Comissão Nacional da Verdade, em 2014, o ex-delegado Cláudio Guerra identificou o coronel do Exército Freddie Perdigão em uma fotografia, do jornal O Globo, no local do acidente.

Perdigão é apontado como responsável pela chamada Casa da Morte, de Petrópolis (RJ), e pelo atentado do Riocentro, em 1981.

Quarenta anos atrás, em 1977, o cantor e compositor Chico Buarque e Miltinho, do grupo MPB-4, fizeram a canção Angélica, que narra a história de Zuzu e seu filho.

Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar

Em entrevista à Rádio Atividade, do Centro Cultural de São Paulo, em 1985, Chico Buarque contou que Zuzu dizia que se alguma coisa acontecesse com ela, a responsabilidade seria dos mesmos assassinos de seu filho.

“Na manhã do dia em que aconteceu o acidente com ela, ela tinha estado lá em casa e deixado as camisetas que ela fazia, gravadas com aqueles anjinhos que eram a marca dela, para as minhas três filhas. Aquilo me chocou muito.”

Em 2006, um filme dirigido por Sérgio Rezende também abordou o caso. Patrícia Pillar e Daniel de Oliveira fizeram os papéis de Zuzu e Stuart, respectivamente.

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