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Não é só na Fifa. Cruz Vermelha recebeu US$ 500 mi para fazer seis casas no Haiti

Para o pessoal que gosta de achar que “é só no Brasil” que acontecem as malfeitorias com o dinheiro de população, depois do “Fifalão”, outro escândalo estoura, este sem a devida exposição na mídia, porque não tem, ao contrário do que ocorre com o futebol e com a Petrobras, oportunidades de poder e dinheiro.

 

A agência de jornalismo investigativo norte-americana ProPublica, de Nova York publica uma extensa, detalhada e documentada reportagem sobre como a Cruz Vermelha Norte-Americana recolheu meio bilhão de dólares para a “reconstrução” do Haiti e, ao final do projeto, embora seus relatórios falem em casas para “mais de 130 mil haitianos” seus próprios relatórios, construiu apenas seis casas naquele país devastado por um terremoto.

 

Os repórteres Justin Elliott, ProPublica, e Laura Sullivan, da NPR de Washington tentaram, inutilmente, que a a instituição mostrasse aquilo que dizia ter feito, Como ela se recusou, foram ver. E o panorama é devastador.

 

Os projetos, por diversas razões, não andaram.

 

Mas o dinheiro andou, sim.

 

E o desperdício chegaria, se não fosse trágico, às raias do hilário.

 

Num dos relatórios da entidade, admite-se que gastou-se à toa o dinheiro de uma campanha estimulando a lavagem das mãos – houve lá epidemias de cólera e outras – não foram eficazes porque “as pessoas não tinham acesso a água e sabonete.”

 

Noutro e-mail, a presidente da Cruz Vermelha dos EUA pergunta se não há outras ideias para gastar o “resto” do dinheiro de um programa “além da maravilhosa ideia do helicóptero”.

 

Tudo documentado com e-mails, visitas e depoimentos de haitianos.

 

O professor Nilson Lage, que me envia o link da matéria, publicada ontem, observa, com sabedoria:

 

“Na propaganda da globalização insistiu-se em dizer que fundações beneficentes, empresariais e religiosas seriam mais honestas, eficientes e criteriosas do que os governos (sobretudo os dos países pobres) na aplicação dos recursos.”

Claro que há muitas organizações sérias, inclusive a própria ProPublica, que é uma associação de jornalistas. E que a ação de um setor da Cruz Vermelha não permite que se condene todos os membros da instituição pelo mundo.

 

Não se nega que, sobretudo quando se trabalha em “nichos” de problemas, ações voluntárias podem ser muito eficientes.

 

Mas achar que, por princípio, a “terceirização” da assistência e promoção social, tarefas de Governo, sempre serão exercidas com mais eficácia e honestidade por privados, é uma maneira de fazer rejeitar a ideia de que a maior ferramenta de uma sociedade para produzir o bem-estar é o Estado, representada-a e sendo dirigido legitimamente.

 

E, de quebra, além da ideologia, ainda arranjam meios para que os “espertos” de toda parte pratiquem certa “onganação”.

Fonte: Fernando Brito

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