CARTA ABERTA A CARLOS LIMA Por JAIME DA CRUZ
Quero prestar aqui minha solidariedade, o que já fiz diretamente a você, e acho que falo por vários dos seus ouvintes que acompanharam por anos o “Jornal da Povo”.
Não espero que decline os motivos que o afastaram da Rádio Povo, assim como aqueles que determinaram a última transmissão do seu programa nesta terça-feira, embora tenhamos elementos para deduzir o que o levou a tal decisão.
Essa emissora ainda tenta se consolidar com uma nova programação após o sinal de FM ir ao ar.
Tem ainda vários horários sem programação definida, só com programação musical e, na maioria dos casos, sem uma única publicidade. É essa emissora que dispensa um comunicador como você, que faz um programa diferente, que tem uma audiência cativa.
A olhos vistos a rádio trilha por um caminho que parece ser o de impor um pensamento único aos seus ouvintes. Em vários momentos podemos perceber isso.
Seja no programa da 06:00h no qual um “explicador de mundo” entra quase todo dia para expor suas ideias sobre a reforma da previdência, reforma trabalhista, reforma política, dentre outros temas, sem sequer promover um debate, o contraditório, para que os ouvintes tomem contato com propostas alternativas; seja nas declarações de um secretário sabe-tudo que discorre sobre mobilidade urbana, “shopping popular”, BRT, trincheiras e outros temas, embora sua formação não o autorize, e que considera como inimigo todo aquele que discorda dele (você tem as gravações).
Há também aquele outro programa, hoje na parte da tarde, que mais parece o diário oficial do governo municipal.
Não é dessa forma de fazer rádio que precisamos.
Será que essas pessoas sabem que o rádio é uma concessão pública?
Que temos o direito de ser informados das posições divergentes?
O seu programa, Lima, era plural, abria espaço para várias falas sobre um mesmo tema. Mas há aqueles que não suportam conviver com ideias contrárias.
O fato é que, aberta ou veladamente, e percebemos isso, você sempre esteve na mira do sistema, principalmente nos últimos governos municipais, tendo que reformular seu programa e afastar vários bons radialista que já trabalharam com você.
Houve perseguições, também. Lembra do período em que seu carro era multado sistematicamente pelo órgão de trânsito, mesmo sem ter cometido infração alguma?
Como disse, acho que falo por uma parte expressiva dos seus ouvintes que a partir dessa quarta-feira não ouvirão mais o Jornal da Povo. Não que fosse um programa perfeito. Mas a gente sentia a preocupação de torná-lo dinâmico, com comentários, provocando o contraditório, com reportagens, notícias, música e, o que era uma marca sua, abrindo com um editorial.
Desejo-lhe sorte em novos projetos. Nos conhecemos há mais de 30 anos e sei que você não vai ficar quieto, afastado muito tempo do rádio, dos meios de comunicação. Abraços.
Jaime da Cruz – Engenheiro e Analista político