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Ficção científica em breve será realidade nos carros

Um protótipo da Toyota

O carro autônomo não é mais hipótese, é certeza. Porém, para que possa cumprir sua missão de reduzir acidentes a níveis próximos de zero, ao eliminar as falhas humanas (principais causadores de incidentes no trânsito, segundo informações da sistemista alemã ZF), precisará ganhar escala e ser maioria nas ruas. Esse cenário não se consolidará na próxima década. O mais provável é que possa se tornar realidade a partir dos anos 2030.

Enquanto ele não vem, montadoras, sistemistas e outras empresas de tecnologia já desenvolvem o novo conceito de automóvel. Nesta e nas próximas páginas, você poderá conferir a visão dessas companhias sobre o futuro sobre rodas.

O veículo não será feito para motoristas, e sim para ocupantes. Dentro do carro, as pessoas vão poder trabalhar, se divertir, confraternizar, ler e descansar. Por isso, o automóvel passará a ser pensado cada vez mais de dentro para fora.

Assim, uma das principais revoluções será nas cabines dos veículos, que vão se tornar salas (de visita ou de reunião, dependendo da necessidade do proprietário). Nelas, o dono do carro poderá “receber seus convidados”, ou fazer videoconferências, por exemplo.

Outra mudança importante será na interação do automóvel com o entorno. O Concept i, conceito autônomo da Toyota, é um bom exemplo. Suas portas têm painéis que enviam mensagens de saudação aos ocupantes de outros carros, ou avisos de segurança.

Tanto na concepção da cabine quanto na interação com o entorno a peça central é a conectividade, que será responsável pela comunicação entre os carros e a do veículo com a infraestrutura (ruas e estradas), garantindo a segurança.

Quanto à propulsão, a eletricidade pura é aposta de importantes montadoras, como a Volvo, e da maioria das sistemistas (a exemplo de Bosch e ZF). O desafio é aumentar a autonomia e reduzir o custo das baterias, algo já proposto pelo Grupo Volkswagen, e aprimorar a rede de abastecimento.

INTERIOR MULTIFUNCIONAL

Alguns protótipos de carros do futuro que estão sendo mostrados por sistemistas, montadoras e outras empresas de tecnologia dispensam pedais e, em alguns casos, até mesmo o volante. Há modelos conceituais que, para o comando de direção, têm manches, como os de aviões, a serem utilizados em situações de emergência.

É o caso de um protótipo mostrado pela Bosch no início deste ano, na feira de tecnologia anual CES, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Na visão da empresa alemã, o carro passará a ser um assistente pessoal de seu proprietário.

No momento em que ele entrar na cabine, o veículo reconhecerá seu rosto e, automaticamente, aplicará suas configurações e preferências. Banco, espelhos e sistema de som serão ajustados de acordo com os padrões escolhidos ou mais usados pelo dono do carro.

Os comandos, de acordo com a Bosch, serão feitos por gestos, abolindo de vez botões e alavancas. Trata-se de uma amplificação do que já ocorre em alguns carros de luxo, como o BMW Série 7.

Nele, o controle do sistema de som e a escolha das câmeras a serem projetadas na tela central já podem ser feitos por gestos. A Bosch está aperfeiçoando essa tecnologia e expandindo-a para os demais padrões do veículo.

O interior se transformará em uma sala. Os bancos da frente serão giratórios, para que o motorista possa escolher entre guiar o carro, com as poltronas viradas para a frente, ou interagir com os outros ocupantes, posicionando-o na direção contrária ao volante.

Também na CES 2017, a Panasonic mostrou o conceito do interior de um carro do futuro. Além desse conceito de banco, o carro traz painéis com realidade aumentada, no lugar dos vidros. Ali, os ocupantes podem assistir vídeos, participar de uma conferência online ou ainda fazer pesquisas sobre os locais que querem visitar, por exemplo.

Além disso, há quatro telas com tecnologia 4K (de alta definição), que ficam na mesa central da cabine. O protótipo não é equipado com pedais para acelerar e frear.

PRÓXIMOS PASSOS

Antes da chegada do carro totalmente autônomo, veículos terão novas tecnologias de reação automáticas, que servirão como teste para consolidação do automóvel que dispensa o motorista. Entre os destaques, a ZF em breve lançará um sistema que impede conversões na contramão.
 
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Na CES 2017, feira de tecnologia em Las Vegas, nos Estados Unidos, a Toyota apresentou o Concept i, a proposta de veículo autônomo da marca japonesa. O destaque do conceito é a inteligência artificial. Esse sistema avançado é, para a maioria das empresas de tecnologia, a chave para a mobilidade do futuro.

Isso porque, apesar de sensores, radares e câmeras usados nos protótipos autônomos atuarem com precisão, eles não são suficientes para ler algumas situações de emergência.

A inteligência artificial parece ser a solução para esse problema. Por meio dela, o carro lê não apenas as reações, mas também as emoções do motorista (no caso da tecnologia utilizada no protótipo Concept i).

Com isso, o carro vai aprendendo a reagir sozinho em qualquer situação. A leitura das reações é feita a partir da observação, pela máquina, de sinais visuais e táteis do motorista.

A inteligência artificial já vem sendo usada em alguns modelos de série que utilizam sistemas semiautônomos (capazes de assumir o comando do carro em algumas situações).

O Audi A8, que chega ao Brasil no ano que vem, aprimorou essa tecnologia para ser o primeiro veículo autônomo de nível 3 do mundo – atualmente, os modelos de rua estão no nível 2, numa escala que vai até 5.

Isso significa que ele será capaz de assumir o comando do carro em situações mais variadas que as disponíveis nos carros semiautônomos atuais. Quando atingir o nível 5, o veículo dispensará totalmente a assistência do motorista.

CARRO SERÁ MAIS AMIGÁVEL

O carro do futuro será capaz de interagir com o motorista, com outros carros e com o entorno. O Concept i, da Toyota, usa sua inteligência artificial para emitir mensagens em painéis que ficam na parte exterior das portas.

Neles, o carro emite mensagens de saudação aos ocupantes de outros veículos. Além disso, também nos painéis, envia alertas de segurança aos carros que estiverem circulando no entorno. Tudo para melhorar a sociabilidade e a segurança.

A Bosch está desenvolvendo uma “nuvem” para conectar carros, ambiente e até as residências dos proprietários dos veículos. A partir do automóvel, será possível acionar remotamente eletrodomésticos, como o ar-condicionado ou o forno da residência, por exemplo.

Além disso, o para-brisa pode se tornar um grande painel de notificações e entretenimento. Por meio de tecnologias de realidade aumentada, os ocupantes do automóvel poderão receber e-mails e outros tipos de mensagens, consultar informações sobre o local que querem visitar (vendo fotos, inclusive) e até participar de conferências em vídeo online.

O comando de voz será um aliado importante nesse tipo de comunicação. Essencialmente, o dono do veículo usará gestos e a voz, sem ter de apertar botões.

DESIGN SIMPLIFICADO

Sabe aqueles filmes futuristas que mostram carros redondos, com portas que se abrem de maneiras pouco convencionais? Pois é exatamente assim que o carro do futuro será, na visão de sistemistas, montadoras e empresas de tecnologia.

Na CES 2017, em Las Vegas, a Panasonic mostrou sua visão de design para o carro do futuro, que poderá ter formato de bolha. A razão é que esse desenho faz com que ele ocupe menos espaço no entorno.

Além disso, o formato arredondado das cabines proporciona melhor aproveitamento no espaço interno, que passará a ser o foco do carro.

Exemplo dessa demonstração é o Concept i, da Toyota, o carro pensado de dentro para fora. Suas portas se abrem para cima, e o painel tem poucos comandos, já que a função do motorista não será tão necessária, e o veículo terá autonomia para “guiar”. Ainda assim, no protótipo o volante foi mantido.

EM BUSCA DA AUTONOMIA

A autonomia é o principal entrave à consolidação do carro elétrico. Modelos 100% a eletricidade vendidos atualmente chegam, em média, a 200 quilômetros a cada recarga de bateria. É pouco para quem precisa percorrer longas distâncias.

O Grupo Volkswagen, por meio das marcas Porsche e Audi, apresentou em 2015 conceitos elétricos capazes de atingir 500 quilômetros de autonomia. É o caso, por exemplo, do Porsche Mission E, esportivo previsto para entrar em produção em 2019.

A empresa informa que em apenas dez minutos é possível recarregar 85% da capacidade de suas baterias. Até hoje, a recarga total, que dura cerca de oito horas, é também um entrave ao ganho de escala do carro elétrico.

Outra aposta é a dos carros elétricos a célula de combustível. Nesse caso, a eletricidade é gerada no próprio veículo, a partir de reação química entre oxigênio e hidrogênio. Atualmente, os japoneses Toyota Mirai e Honda Clarity são dois dos modelos que já usam a tecnologia, que tende a ser expandida a outros automóveis.

CIDADES DEVERÃO SE PREPARAR

De nada adianta ter um carro autônomo, conectado e eletrificado se as cidades não tiverem infraestrutura para recebê-lo. Isso vai além de uma rede eficiente de postos de recarga, ou de construção de novos edifícios residenciais e comerciais com tomadas nas garagens.

De acordo com a alemã Bosch, além de faixas bem pintadas nas ruas, as cidades precisarão de infraestrutura que contemple todos os seus aspectos, como segurança, a maneira como os prédios são construídos e até a presença de estacionamentos conectados.

Por isso, a sistemista criou o projeto batizado de “Smart Cities” ou cidades inteligentes. A empresa não revelou detalhes sobre a aplicação desse projeto, mas anunciou que ele será realizado em quatro cidades: Hamburgo e Berlim, na Alemanha; São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos; e Cingapura.

Além disso, a empresa alemã informa também que já iniciou o desenvolvimento de uma cidade inteligente em Tianjin, na China. Trata-se da “cidade piloto” desse projeto.

Hairton Ponciano e Rafaela Borges

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