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FÓRUM DE PAZ PARA UCRÂNIA PROPOSTO POR LULA BUSCA EVITAR MAIOR PROPORÇÃO NO CONFRONTO

Lula e o chanceler alemão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propôs na terça-feira (31) a criação de um fórum de paz para auxiliar as negociações entre Rússia e Ucrânia diante do conflito em solo europeu.

Especialista ouvido pela Sputnik Brasil aponta que esse mecanismo é necessário em razão do cenário de consolidação de um embate de trincheiras.

Lula defendeu a construção do mecanismo de diálogo entre Rússia e Ucrânia após encontro com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, que havia pedido que o Brasil se comprometesse com o envio de munições a Kiev.

O mandatário brasileiro, no entanto, negou a solicitação e disse que sua guerra é contra a fome, não contra a Rússia.

“O Brasil não tem interesse em passar munições para que elas sejam utilizadas no confronto entre Ucrânia e Rússia. O Brasil é um país de paz […].

O Brasil não quer ter nenhuma participação [nesse conflito], mesmo que indireta”, disse Lula.

Na oportunidade, o presidente brasileiro fez um apelo às lideranças mundiais para que se concentrem nas negociações de paz.

Lula afirmou que tem ouvido “muito pouco” sobre essa possibilidade e defendeu a construção de um fórum internacional reunindo países interessados em fomentar as negociações entre Rússia e Ucrânia. Entre os possíveis participantes, ele mencionou Estados Unidos e China.

Para o historiador Leonardo Trevisan, professor de Economia e Relações Internacionais da ESPM, um esforço de paz é necessário para a resolução do conflito na Ucrânia, evitando que se escale para um “confronto imaginado”.

O analista avalia que a postura de Lula, de evitar se envolver diretamente com o conflito, é coerente com a tradição diplomática brasileira.

“É uma guerra com posições cristalizadas se encaminhando para uma guerra de trincheira, da qual o mundo tem horríveis memórias. Desde a Primeira Guerra. Então, [alimentar o conflito] é o caminho da insensatez.

Frente a esse cenário de uma consolidação de posições e de perdas humanas e materiais, não há dúvida alguma de que há uma necessidade de fazer esforços por uma paz.

Até hoje, o que a gente teve — e já não foi pouco — foram algumas tentativas que não deram certo. Então, o que o presidente Lula está fazendo é absolutamente coerente com a história da diplomacia brasileira e com as posições tradicionais da política externa brasileira.”

“O Brasil em nenhum conflito toma posição. Isso é de décadas. O Brasil sempre procura ter uma posição de equidistância de terços. Não é diferente. E sempre apoiando uma posição de negociação de paz. A posição do presidente Lula está coerente com essa história da diplomacia brasileira”, reforça.

Trevisan destaca que o conflito “sintetiza uma grande mudança no mapa geopolítico do mundo” em razão do embate de hegemonia entre Estados Unidos e China.

“Essa guerra, na prática, representa uma definição da Europa sobre qual lado ela pretende ficar. Com qual lado ela pretende comercializar mais. Nós estamos nesse embate, que é um embate tecnológico, é um embate comercial, é o embate de preponderância geopolítica.

A Europa está sendo convidada a fazer uma escolha. Como a Europa já tinha feito uma escolha de maior aproximação com a China, os Estados Unidos, de alguma forma, cobraram uma posição mais próxima daquilo que eram as tradicionais alianças entre Estados Unidos e Europa desenhadas desde a Segunda Guerra Mundial com a Organização do Tratado do Atlético Norte (OTAN). É disso que nós estamos falando”, analisa.

“Nós estamos diante de uma escolha europeia sobre de qual dos lados a Europa pretende se alinhar economicamente.

O lado chinês tem as ofertas, mas o lado americano também tem. De alguma forma, essa pressão dos dois lados está muito presente nas definições que a Europa terá que enfrentar.

A Europa terá que enfrentar no pós-guerra da Ucrânia uma escolha tão difícil quanto tinha na pré-guerra da Ucrânia: qual dos dois lados vai privilegiar quando fizer acordos comerciais, Estados Unidos ou China.

O presidente Lula quando fala de um fórum de paz ele está falando do redesenho geopolítico do mundo pós-Guerra Fria, pós-ascensão de uma nova potência desafiando a potência original.

É disso que nós estamos falando. Quando nós olhamos esse quadro, nós percebemos com mais sutileza o rol de interesses envolvidos numa guerra em que esses dois atores Ucrânia e Rússia, de algum modo, não são os atores preponderantes desse conflito.”

Com informações Brasil

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