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O beijo da morte: vídeo que viralizou expõe mais de uma tragédia abissal

Beijo da Morte

Quando um gesto tão lindo e repleto de signos de amor, erotismo, paixão, ternuras, é uma pantomima grotesca, um modo de usar o outro com um objetivo político-social – ou qualquer outro que seja –, sempre será algo abominável

Viralizou nas redes sociais um vídeo (assista abaixo) que, entre outras coisas, desnuda de modo obsceno duas tragédias em nossa nação: a primeira, a fratura social abissal, porque para alguns é a prova da “macheza” do ser que ocupa a presidência, para outros, uma fonte de tristeza, perplexidade e vergonha pelos símbolos ali contidos.

Na verdade, há uma terceira tragédia exposta no vídeo e sobre ela vou falar nesse artigo: o machismo, essa doença perversa e covarde tão presente no nosso país. O vídeo?

Facilmente encontrado: um beijo de Jair Bolsonaro em sua mulher, ou, como assim mereceria ser tratada.

Por isso o título da reflexão:

“O beijo da morte” – quando um gesto tão lindo e repleto de signos de amor, erotismo, paixão, ternuras, é uma pantomima grotesca, um modo de usar o outro com um objetivo político-social – ou qualquer outro que seja, sempre será algo abominável. Mas falemos do machismo, tão óbvio no gesto eminentemente político de Bolsonaro.

O machismo não é apenas um processo psíquico e social covarde, sórdido, brutal… ele também pode apresentar um lado ultra perverso da “desconstrução do outro enquanto ser”, sua instrumentalização, uma coisa maligna que passa mensagens do tipo:

“tô te usando porque você não é só a minha mulher, é a minha COISA, que posso usar e usar e usar, no privado ou em público, do jeito que eu quiser…”

Esse filme viralizado é um trágico exemplo do quão longe essa perversão, essa maldade, essa humilhação com o outro pode chegar.

A expressão corporal da sra. Michelle Bolsonaro, mas acima de tudo, seu olhar, triste, envergonhado, que vislumbramos num décimo de segundo, é de um constrangimento assustador!

Nem consigo julgá-la por mais nada, é como se tudo fosse ofuscado, tamanha a compaixão que sinto por alguém se permitir chegar a isso ou a isso ser levada sem ter forças para resistir.

Não foi e nem é um beijo “de amor”.

É um ato repulsivo, de um macho inseguro, frustrado e dominante sobre sua presa, sua caça por assim dizer. O “beijo”, é a carne da presa exposta aos débeis mentais que idolatram esse ser bestial.

Bofetadas, tiros, as tragédias terríveis advindas do machismo, são seu ápice, mas jamais encerrariam suas únicas formas de manifestação cruel.

Muito antes disso, durante todo o processo das relações onde o machismo está presente, o que temos é esse exemplo abjeto e constante: uma mulher transformada em troféu “do macho dominante”, uma coisa a ser usada e exibida para um fim qualquer…

Sinto uma pena que me constrange, e uma repulsa que não dá para controlar.

O que vimos no triste filme é só mais um caso do que chamo “O beijo da morte”. A ausência do amor é o absoluto presente nesses casos.

Eduardo Ramos

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