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‘O triunfo da verdade’: entrevista de Putin a Tucker Carlson coloca o Ocidente contra a parede

O presidente russo, Vladimir Putin, fala durante uma entrevista com o jornalista norte-americano Tucker Carlson no Kremlin em Moscou, Rússia, 9 de fevereiro de 2024

A histeria em torno da entrevista de Vladimir Putin a Tucker Carlson no último dia 8 mostrou o quanto o Ocidente teme se deparar com a verdade. Aliás, não somente com a verdade, como também com os reais motivos por trás do atual conflito na Ucrânia.

Esse, por sua vez, foi um dos principais aspectos da entrevista concedida por Putin ao jornalista americano. De início, Putin precisou fazer um passeio histórico pela trajetória política da Rússia, desde suas origens até o período moderno, de forma a situar tanto o entrevistador quanto a audiência a respeito dos problemas que vivemos hoje.

A escolha feita pelo presidente russo é bastante justificável. Afinal, a experiência dos Estados é, de certo modo, comparável à dos indivíduos, no sentido de que ambos interpretam e utilizam o passado para formular não só atitudes, como a sua própria identidade.

Após esse exercício inicial, Putin evidenciou os múltiplos fatores que ligam russos e ucranianos, em especial aludindo a uma situação real, que ocorreu recentemente no âmbito do conflito na Ucrânia. Nela, um grupo de soldados russos cerca determinado destacamento ucraniano, exigindo-lhes a rendição, ao passo que o último grita em resposta que os “russos não se rendem”.

Tal exemplo foi certamente um dos pontos altos da entrevista, pois demonstra que ainda existem laços indissociáveis entre russos e ucranianos — praticamente duas partes de um mesmo povo —, laços esses que conflito nenhum será capaz de destruir.

Para além dessa questão, Putin também fez alusão a determinados episódios dos anos 1990, em que a Rússia tentou de todas as formas se aproximar do Ocidente. Ainda assim, as lideranças americanas e europeias ignoraram os interesses legítimos de segurança de Moscou e se recusaram a trabalhar em conjunto com a Rússia para construir uma nova arquitetura de defesa.

Putin destacou que, no começo dos anos 2000, os russos propuseram um projeto conjunto com os Estados Unidos e a Europa no segmento de sistema de defesa de mísseis. Porém, as propostas de Moscou nunca foram levadas adiante.

Rememorando uma conversa com Bill Clinton, Putin expôs a pergunta que fizera ao então presidente americano a respeito da possibilidade de a Rússia aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A princípio, Clinton não se opôs à ideia, mas depois de uma conversa a portas fechadas com sua “delegação”, Clinton disse que tal possibilidade não era viável.

Tal episódio é altamente ilustrativo e mostra como a Rússia tentou se aproximar do Ocidente em diversos momentos de sua história, propondo mecanismos que pudessem superar o legado de animosidade mútua e de desconfiança do tempo da Guerra Fria.

Em vez disso, infelizmente os Estados Unidos optaram por apoiar processos que enfraquecessem a Rússia doméstica e internacionalmente. Um exemplo trazido por Putin a esse respeito foi o apoio da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) aos grupos terroristas do Cáucaso nos finais da década de 1990 e começo dos anos 2000.

Depois veio o apoio americano ao golpe de Estado na Ucrânia em 2004, a famigerada Revolução Laranja, e a incitação a movimentos nacionalistas naquele país, em torno de figuras controversas como Stepan Bandera.

Bandera, que atuou como um apoiador dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, foi elevado inclusive ao status de herói nacional na Ucrânia. A Rússia não só não poderia aceitar tais desenvolvimentos no país vizinho, como também defenderia como um dos objetivos da operação militar especial a desnazificação da Ucrânia.

Não obstante, Putin mencionou os planos do Ocidente de desmembrar a Rússia, de forma a poder controlá-la de modo eficiente. Tal intenção parte da recusa em aceitar que a Rússia seja uma voz forte e independente no cenário internacional e da recusa em aceitar a realidade de um mundo multipolar.

Contudo, o presidente russo aludiu à velocidade das transformações hoje em curso, colocando em xeque a hegemonia ocidental de modo irreversível.

“É como o nascer do sol”, afirmou Putin, “ninguém pode impedi-lo, é preciso se adaptar a ele”. No passado grandes impérios ascenderam e caíram. Foi assim com o Império Mongol de Gengis Khan, foi assim com o Império Romano. Será assim com o atual Império Americano.

Aliás, são os próprios Estados Unidos que contribuem para acelerar a sua queda, quando se utilizam do dólar como arma política, por exemplo.

A partir de 2022, em vista da política de sanções do Ocidente contra a Rússia liderada por Washington, mais e mais países vêm diminuindo o papel do dólar no comércio e em suas reservas internacionais, um verdadeiro golpe para o poderio dos Estados Unidos no mundo.

Não à toa, diante das respostas do presidente russo, Tucker Carlson foi se mostrando ora surpreso, ora pensativo. Relegado pela Fox News depois de anos como principal âncora da emissora, o jornalista americano fez de sua entrevista com Putin um projeto de redenção pessoal.

E conseguiu! Não só este foi o ponto mais alto de toda a sua carreira, como a entrevista serviu para mostrar aos Estados Unidos e ao Ocidente no geral a verdade sobre a Rússia.

Afinal, independentemente das barreias que foram impostas à Rússia ao longo dos últimos anos, a verdade sempre encontra um meio de se revelar.

A conversa de Tucker Carlson com Putin representou justamente esse momento. Representa também um obstáculo à narrativa autoritária do Ocidente que não permite que opiniões diferentes sejam expressas a respeito do conflito na Ucrânia.

De qualquer modo, ficou claro pela entrevista que Tucker Carlson também anseia pelo fim das hostilidades no Leste Europeu. Por vezes, o jornalista americano perguntou a Vladimir Putin se a Rússia estaria disposta a terminar o conflito por meio de negociações.

A resposta do presidente russo foi clara.
Moscou nunca se recusou a negociar e, mais do que isso, em abril de 2022 russos e ucranianos estavam muito próximos de assinar um acordo de paz.

Não fosse o Ocidente, na figura de políticos irresponsáveis como Boris Johnson e Joe Biden, atrapalharem o processo negociador, o conflito, como afirmou Putin, teria terminado há 18 meses.

Logo, a ideia de que a Rússia estaria interessada no prolongamento da guerra sempre foi uma mentira.

Foram os Estados Unidos e seus asseclas que, ao acreditarem na ilusória derrota estratégica da Rússia, alimentaram a continuidade da tragédia. Seja como for, esperar que a entrevista de Putin faça com as elites ocidentais caiam no “bom-senso” seria ingênuo demais.

Todavia, ela certamente colocou o Ocidente contra a parede. No mais, parabéns a Tucker Carlson que teve a coragem de contribuir não só para a liberdade de expressão como também para o triunfo da verdade.

Sputnik

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