Toda a vida marinha será afetada por causa das emissões de gás carbônico, que vêm elevando a acidez dos oceanos no mundo, revela um novo estudo.
A pesquisa, que durou oito anos, foi conduzida por mais de 250 cientistas.
Os resultados apontam que criaturas marinhas em estágio inicial de desenvolvimento devem ser as mais prejudicadas pelas mudanças.
Um exemplo é o bacalhau. Segundo os cientistas, com a acidificação dos oceanos, 25% dos filhotes chegariam à fase adulta – no pior cenário, apenas 12% sobreviveriam.
As constatações foram feitas pelo projeto Bioacid, liderado pela Alemanha.
O resumo das principais descobertas do estudo será apresentado a negociadores do clima em novembro, numa cúpula em Bonn, no oeste alemão.
Mas nem todas as espécies estão ameaçadas. Os impactos biológicos da acidificação dos oceanos, explicam os cientistas, podem beneficiar diretamente alguns animais.
Ainda assim, mesmo esses podem ser afetados com as alterações na cadeia alimentar marinha.
Esse processo de acidificação tende a se agravar com mudanças climáticas, poluição, desenvolvimento urbano no litoral, uso de fertilizantes agrícolas e pesca predatória.
O nível de acidez está aumentando porque, à medida que o dióxido de carbono de combustíveis fósseis se dissolve na água do mar, produz ácido carbônico e reduz o pH da água.
O pH médio identificado na superfície da água caiu de 8,2 para 8,1, o que representa um aumento na acidez de cerca de 26%.
O estudo foi liderado pelo professor Ulf Riebesell, do Centro Helmholtz de Pesquisas Oceânicas (Geomar) em Kiel, no norte da Alemanha.
Considerado uma das maiores autoridades do mundo no assunto, ele tem mantido a cautela ao falar sobre efeitos da acidificação.
Ele disse que todos os grupos marinhos serão afetados pelas mudanças químicas, ainda que em diferentes níveis.
“Corais de águas aquecidas são geralmente mais sensíveis do que corais de água fria. Já os moluscos e os caracóis são mais sensíveis do que os crustáceos”, explicou o especialista.
“Também identificamos que essas mudanças geram maior impacto em filhotes do que em adultos”, completou. Desde 2009, pesquisadores que trabalham no programa Bioacid têm estudado como espécies marinhas estão sendo afetadas pela acidificação em diferentes fases da vida e seu impacto na cadeia alimentar. Também tentam verificar se há como reduzir os efeitos pela adaptação evolutiva da fauna e flora.
O estudo foi conduzido em laboratório e também nos mares do Norte, Báltico, no Oceano Ártico e na Papua Nova Guiné.
Um resumo de mais de 350 publicações acadêmicas sobre os efeitos da acidificação – que será apresentado no próximo mês – revelou que quase metade da fauna marinha testada reagiu de forma negativa ao aumento, ainda que moderado, da concentração do dióxido de carbono.
Entre as espécies ainda em crescimento no Atlântico, bacalhau, mexilhão-azul, estrela-do-mar, ouriço e borboleta-marinha aparecem como as mais afetadas pela mudança no pH da água.
Um experimento com os cirrípedes (tipo de crustáceo) mostrou que eles não são sensíveis à acidificação e algumas plantas – como algas que usam carbono para a fotossíntese – podem até se beneficiar.
Carol Turley, especialista em acidificação oceânica no Reino Unido, avaliou a pesquisa como “extremamente importante”.
“A pesquisa contribuiu com importantes dados sobre os impactos que a acidificação pode gerar em uma ampla gama de organismos marinhos, de micróbios a peixes”, concluiu.
Roger Harrabin