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Reação severa à covid-19 faz idosa perder três dedos

Idosa tem dedos amputados por causa da covid-19

Uma senhora de 86 anos precisou amputar três dedos da mão após desenvolver uma reação rara à covid-19. O caso aconteceu em abril do ano passado e foi descrito na revista médica “European Journal of Vascular and Endovascular Surgery”.

De acordo os médicos que fizeram o relatório do caso, o segundo, quarto e quinto dedos da mão direita tiveram gangrena seca, que os deixaram necrosados.

Esse tipo de condição que deixa as extremidades do corpo pretas acontece quando há falta de suprimento de sangue na região.

A morte de tecidos é mais comum de ser ocasionada por causa do frio ou congelamento dos membros. Também pode ocorrer com o uso de gesso ou bandagens muito apertadas. A relação com a covid-19 é rara.

No caso da idosa, ela contou aos médicos que havia sofrido de síndrome coronariana aguda, que é quando o sangue fornecido ao músculo cardíaco é repentinamente bloqueado. Para tratar o problema e evitar coagulação do sangue, ela estava fazendo terapia antiplaquetária dupla.

No entanto, um exame mais aprofundado revelou que o bloqueio no fluxo de sangue para os seus dedos foi causado pela covid-19. A condição, que tem sido chamada de “dedos de covid”,já foi relatada em outros pacientes.

A maioria, no entanto, apesenta apenas pequenas lesões avermelhadas nas pontas dos dedos das mãos ou dos pés.

Os sintomas de covid-19 ainda não são totalmente claros e podem manifestar-se de formas diferentes em cada pessoa. Na Itália, médicos começaram a observar lesões avermelhadas ou arroxeadas nos dedos das mãos e dos pés e também na região plantar dos pés de crianças e jovens com suspeita da doença.

De acordo com um artigo publicado no European Journal of Paediatric Dentistry, o primeiro relato do tipo foi documentado por um pediatra em um menino de 13 anos, inicialmente sem sintomas clínicos de covid-19.

O paciente apresentou lesões arredondadas de 5-15 mm de diâmetro nos dedos dos pés. E só dois dias depois, apareceram os sintomas mais comuns da doença, como febre, dor muscular e de cabeça.

Enquanto isso, uma bolha de aproximadamente 1 cm de diâmetro se formou na lesão, que piorou ainda mais nos dias seguintes com a formação de crostas escuras.

O que chamou atenção dos médicos é que a mãe e a irmã do garoto apresentaram febre e tosse seis dias antes do aparecimento das lesões nos pés do menino. Por conta da situação de emergência no país, eles não conseguiram fazer exame para confirmar se estavam ou não com a doença.

Desde então, começaram a circular nas redes sociais de médicos, inúmeras imagens de lesões parecidas com as do garoto italiano, em particular, no Twitter e nos fóruns de dermatologia pediátrica. Todas os casos eram de crianças e jovens assintomáticos, mas que estavam inseridos num contexto familiar de covid-19.

“Cada um dos nossos pacientes apresenta este aspecto que corresponde à perniose (ferida que aparece em temperaturas muito frias) com vasculite (inflamação na parede dos vasos) ou microtrombose (coágulos em pequenos vasos).

Necessitamos realizar estudos com estes jovens para entender melhor a patogenia”, publicou o dermatologista italiano Ramon Grimalt em sua conta no Twitter.

Outro médico, o espanhol Txema Almela, argumenta que o fato de não ser oficialmente reconhecido como um sintoma da infecção pelo SARS-CoV-2 não significa que não o seja, assim como acontece com outro sintoma menos falado, que é a anosmia (redução ou a perda de olfato).

“É muito estranho ver tantas dessas inflamações em crianças e jovens no mês de abril”, observou ele em seu Twitter.

Manifestações virais

Esses casos não são necessariamente uma surpresa, já que erupções cutâneas são comuns em outras infecções virais, como lembra o dermatologista Gunter Hans Filho, do Departamento de Doenças Bolhosas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

“Qualquer vírus em potencial poderia fazer uma manifestação desse tipo aí. As viroses podem manifestar-se por formas inespecíficas, a mais frequente é o rash cutâneo, um exantema. Outro tipo também relacionado a vírus são lesões que lembram urticárias”, disse o médico.

Segundo ele, essas manifestações de virose na pele são mais comuns em crianças, enquanto que, em adultos, o rash é, na maioria das vezes, causado por medicamento.

Hans Filho lembra, no entanto, que esses são relatos pontuais e que nem todas as crianças com sintomas de covid-19 apresentam isso. “São achados clínicos, morfológicos, sem respaldo laboratorial, porém, com forte evidência epidemiológica”, completa.

Os quadros até agora descritos mostram que as lesões podem apresentar queimação e coceira e evoluir para a formação de bolhas ou crostas escuras.

Ainda de acordo com o especialista Gunter Hans Filho, o quadro caracteriza um problema de natureza vascular.

“O que tem sido observado com a covid-19, não só na pele, como em outros órgãos, é um quadro que simula um distúrbio de coagulação, onde os pacientes podem apresentar microtrombo em alguns órgãos”, diz.

Esses microtrombos, citados pelo médico, também estão associados à gravidade e à letalidade do coronavírus.

São eles os  responsáveis por não deixar o sangue chegar aos pulmões de pacientes graves para remover o CO2 e levar oxigênio aos órgãos, por exemplo. É por isso, que muitas vítimas morrem de embolia pulmonar.

Amputações por Covid-19

A idosa não é a primeira paciente a passar por amputação em consequência da covid-19.

Também em abril do ano passado, o ator canadense Nick Cordero, conhecido por atuar espetáculos da Broadway e na TV norte-americana, teve problemas de coagulação e precisou amputar a perna enquanto estava internado.

Infelizmente, o ator não resistiu à gravidade da doença e acabou morrendo aos 41 nos, depois de 90 dias de luta contra o vírus.

RCL

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