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Tropas francesas na Ucrânia

Putin: nossa resposta será nuclear

Por mais disparatadas que sejam as declarações de Macron sobre enviar tropas para a Ucrânia, não se deve descartar a possibilidade da OTAN envolver-se ainda mais nesta guerra, que de convencional pode ir à nuclear.

O chefe da espionagem externa russa, Naryshkin, alertou na terça-feira que a França está preparando o envio de 2 mil soldados para a Ucrânia, na sequência da afirmação de Emmanuel Macron, no mês passado, de que uma intervenção convencional da OTAN não pode ser excluída.

Esta declaração coincidiu também com a confirmação pelo mais importante general francês de que suas forças estão prontas para serem enviadas para onde for necessário, o que desqualificou a descrição do Ministério da Defesa do aviso de Naryshkin como “desinformação”, uma vez que existe alguma verdade objetiva no que ele disse.

Embora muitos membros da comunidade de mídia alternativa tenham ridicularizado a afirmação de Emmanuel Macron no mês passado, um prestigiado especialista russo acaba de dar crédito a ela numa entrevista à Sputnik.

Alexander Mikhailov, que é o chefe na Rússia do grupo de discussão Bureau of Military-Political Analysis, disse àquele meio de comunicação na terça-feira que “Emmanuel Macron sem dúvida tem acesso tanto ao pessoal quanto aos recursos para enviar tropas para a Ucrânia”. Por isso, não é implausível imaginar que a França possa intervir convencionalmente no país.

Se isso acontecer, então será algo preventivo ou reativo, e unilateral ou como parte de uma “coalizão de interessados”.

No que diz respeito à primeira opção, a França poderia tentar justificá-la com o pretexto de obter uma vantagem antes que a Rússia consiga um avanço através da Linha de Contato, ou poderia simplesmente esperar até que esse “evento desencadeador” aconteça. Quanto à segunda opção, a França agiria sozinha ou, mais provavelmente, em parceria com o Reino Unido, a Polônia e os Estados Bálticos, com a possível participação da Alemanha.

Independentemente do pretexto e de quem mais possa participar, é quase certo que a França procurará proteger a costa ucraniana do Mar Negro se intervier de forma convencional.

A França já tem várias centenas de soldados na Romênia desde o início de 2022, que podem ser reforçados antes deste movimento, e acabou de assinar um pacto de segurança com a Moldávia no início deste mês, que poderá levar este país a também receber tropas.

Os “Balcãs Orientais”, que estão caindo na “esfera de influência” da França, podem assim tornar-se uma plataforma de lançamento francesa para a Ucrânia.

A Romênia e a Moldávia fazem fronteira com o Oblast de Odessa, na Ucrânia, cuja capital epônima tem uma importância estratégica e simbólica. É o principal porto da antiga República Soviética, mas também uma cidade historicamente russa.

Por isso, é duplamente importante para o Ocidente protegê-la do controle de Moscou, enviando para lá tropas da França, membro da OTAN, como forma de “dissuasão”, no caso da Linha de Contato colapsar ou parecer estar prestes a colapsar.

Nesse cenário, os drones navais poderiam continuar ameaçando a frota russa, enquanto os apoiadores desse país poderiam ficar desapontados depois de perceberem que a reunificação com Odessa seria quase impossível sem desencadear a Terceira Guerra Mundial, se essa cidade ficasse de fato sob o controle da OTAN por meio da França.

Uma vez que o Dnieper já provou ser um obstáculo formidável para as forças de ambos os lados nos últimos dois anos, é muito possível que a França expanda sua zona de controle ao longo da costa do Mar Negro até Kherson.

Isso faria com que a Linha de Contato russo-ucraniana se tornasse russo-OTAN, podendo mesmo expandir-se para o norte, subindo o Dnieper até à Central Nuclear de Zaporizhzhia, mas as forças francesas poderiam ficar relutantes em atravessar o rio até Zaporizhzhia e mais além, para não sobrecarregar sua logística militar.

Além disso, uma vez que este cenário de intervenção estaria ligado a um possível avanço russo, a França poderá não querer arriscar-se a entrar em conflito com a Rússia no lado oriental do Dnieper.

Por mais perigosa e sem precedentes que esta sequência de acontecimentos possa ser devido ao risco muito elevado de ser desencadeada a Terceira Guerra Mundial por um erro de cálculo, o lado positivo é que pode potencialmente congelar as posições de cada um dos lados ao longo da frente sul, pelo menos, e assim estabelecer a base parcial para um cessar-fogo.

As tropas ucranianas também poderiam fugir para oeste através do Dnieper, se a Rússia rompesse a Linha de Contato, sabendo que seus inimigos provavelmente não os seguiriam por receio de desencadear a Terceira Guerra Mundial ao entrarem em confronto com as tropas da OTAN.

Isso poderia permitir à Rússia assegurar a “zona sanitária/de segurança” prevista pelo presidente Vladimir Putin, mencionada durante seu discurso de reeleição, preparando, assim, o terreno para a divisão assimétrica da Ucrânia entre a OTAN e a Rússia, com uma “zona tampão” no nordeste da Ucrânia oriental.

Honestamente falando, a costa ucraniana do Mar Negro é para ser tomada pela França, mas apenas se Paris tiver a vontade política de fazê-lo e seu povo não se revoltar com as enormes baixas infligidas pela Rússia que poderão se seguir (provavelmente através de ataques com mísseis).

*Andrew Korybko é mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Estadual de Relações Internacionais de Moscou. Autor do livro Guerras híbridas: das revoluções coloridas aos golpes (Expressão Popular). [https://amzn.to/46lAD1d]

Tradução: Fernando Lima das Neves.

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