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Uma tempestade enfraquece e jipe da nasa reaparece

Foto: Nasa

Lembra do jipe Opportunity que estava perdido em meio a uma das tempestades de areia mais intensas já observadas em Marte? Ele já pode ser visto, do espaço é claro, o que já é uma boa notícia, mas infelizmente essa é a única boa notícia por enquanto.
Em julho deste ano, uma tempestade de areia eclodiu em Marte e em questão de poucos dias engoliu o planeta inteiro. A tempestade era tão intensa que a quantidade de poeira levantada na atmosfera escureceu bastante o céu. Em alguns lugares, como o local onde está o jipe, simulações mostravam que a claridade tinha caído a níveis comparáveis ao início da noite marciana. Em outros, como o sítio onde se encontra o jipe Curiosity, fotos mostraram que as simulações não estavam longe da realidade, ou seja, mesmo de dia, a iluminação era quase a mesma da noite.
Para o Curiosity que funciona à base de baterias nucleares isso não representa um problema muito grande. Alguns experimentos que precisam ser guiados pela luz do dia acabaram prejudicados e foram adiados, mas o jipe em si nunca correu risco. Mas com o Opportunity a história é outra.
O Oppy, como é chamado carinhosamente, depende de energia solar para abastecer suas baterias e, consequentemente, realizar suas atividades. Desde as mais simples, como se movimentar e se comunicar, até ligar os equipamentos científicos. Com a diminuição da quantidade de luz, o jipe entra em estado de hibernação, que pode ter dois níveis a depender da capacidade de recarregar suas baterias. No primeiro nível, as baterias ainda conseguem manter o relógio interno do computador de bordo funcionando, mantendo a contagem dos dias e das horas. Isso é importante para o jipe saber quais os horários em que a Terra estará visível, ou algum satélite estiver passando perto do local onde está. Em outras palavras, o computador de bordo sabe exatamente quando pode tentar se comunicar com o centro de controle, mesmo que seja indiretamente.

No segundo nível, a incidência de luz sobre os painéis não é suficiente para sequer manter o relógio e neste caso o jipe se perde. O computador sai da hibernação aleatoriamente e tenta se comunicar apontando a antena também aleatoriamente. É difícil acertar o alvo assim ao acaso e no final das contas o jipe acaba drenando ainda mais suas reservas de energia. E o jipe precisa de energia não só para manter seu relógio funcionando, mas também para ligar os aquecedores internos que minimizam os efeitos da gelada noite marciana nos circuitos elétricos.
Desde que a tempestade começou, simulações da NASA mostravam que o jipe poderia sobreviver a esse período. A quantidade de energia esperada sobre os painéis, as simulações mostraram, seria suficiente para manter o relógio funcionando e, no limite, ligar os aquecedores. Quando tempestades assim acontecem, a camada de poeira em suspensão acaba criando uma espécie de cobertor, retendo um pouco do calor irradiado da superfície. Como consequência, a temperatura média acaba subindo um pouco e a demanda pelos aquecedores é menor, o que por sua vez poupa as baterias. Todavia, desde o dia 10 de julho a NASA não ouve nenhum sinal do Oppy, indicativo que as simulações podem ter sido muito otimistas. Um fator muito importante e que não tem como ser estimado realisticamente é a quantidade de areia que se deposita sobre os painéis e que bloqueiam o pouco de luz que atravessa a capa de poeira. Mesmo com muita boa vontade da atmosfera, se muita areia tiver se depositado sobre os painéis, nada de energia para as baterias.
Nas duas últimas semanas o panorama em Marte mudou bastante com o enfraquecimento da tempestade. A medida utilizada para caracterizar a transparência da atmosfera (na verdade o seu inverso, mede-se a opacidade) chegou a um valor de 1,3, ou seja, o céu finalmente clareou no sítio do Oppy. Para você ter uma ideia, durante os momentos críticos da tempestade ele chegou a ser maior que 10! A transparência ficou boa a ponto do Orbitador de Reconhecimento Marciano (ou MRO na sigla em inglês) ter conseguido tirar essa foto do jipinho. Não espere grandes detalhes, o satélite estava a uma altura de 267 km e o jipe tem 1,6 metros de comprimento e 2,3 de largura apenas e é o ponto claro bem no meio do quadrado.

Apesar de não termos condições de ver detalhes do jipe, o fato dele aparecer como um ponto brilhante na foto é sinal de boas notícias. Ele aparece em destaque (OK, não muito) significando que os painéis do jipe não estão completamente cobertos de areia, do contrário ele refletiria ainda menos luz e não seria notado em relação ao terreno escuro.
Desde o dia 11 de setembro a NASA intensificou as escutas com sua rede de antenas na esperança de captar algum sinal de vida do Opportunity. Se a eletrônica do jipe tiver sobrevivido a esse período todo, com ou sem aquecedores, a bateria poderia recuperar um pouco da carga necessária para entrar em comunicação com a Terra e receber instruções para regularizar suas atividades. Ou ao menos receber alguma telemetria que permita saber a reais condições de saúde do jipe.

Até o momento as antenas da NASA não registraram nenhum sinal e as buscas continuam. Até quando? Ninguém falou nada, mas comparando com os procedimentos em relação ao jipe gêmeo Spirit a busca ainda vai durar.
O Oppy era acompanhado de um jipe exatamente igual chamado Spirit, que pousou em um lugar diferente e que depois de mais de 6 anos em operação atolou em uma região de areia muito fofa. Depois de inúmeros esforços infrutíferos para desatola-lo, a NASA decidiu mantê-lo como uma base fixa, fazendo as medidas ao alcance dele. Mas a região onde ele atolou não permitia receber luz do Sol plenamente e os problemas com a recarga de bateria fizeram com que os aquecedores não atuassem durante o inverno e o jipe foi dado como perdido. Não sem antes a NASA tentar por um ano se comunicar com o Spirit, enviando mais de 1300 comandos ao jipe.

Nessa pegada, podemos esperar que os engenheiros da NASA devem ficar ainda por algum tempo tentando. Vale lembrar que a missão, tanto do Spirit, quanto do Opportunity era de 3 meses. O primeiro durou mais de 6 anos e o segundo está aí há quase 15. Os bichinhos foram feitos para durar, quem sabe o Oppy passe por mais essa. O negócio é torcer!

CÁSSIO BARBOSA

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