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Diretrizes por uma nova educação no Sertão

Especialistas em educação elaboram documento com várias propostas para a região e entregam ao Ministério da Educação

Um documento apresentando diretrizes para a implementação de uma Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido Brasileiro (ECSAB), produzido por dezenas de especialistas em educação, foi entregue na última terça-feira (13) a uma representante do Ministério da Educação (MEC). O arquivo foi criado com a pretensão de orientar o órgão com relação ao tratamento especial que a região precisa. Produto de uma série de discussões, foi realizado baseado em relatos de experiências aplicadas em todo o nordeste do País, inclusive em Pernambuco.

De acordo com professor Edmerson Reis dos Santos, que coordenou a relatoria dos debates, um dos méritos do encontro foi a capacidade de congregar experiências que vão desde o Ensino Básico até o Superior. “O mestrado da Universidade Estadual da Bahia em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos, por exemplo, é voltado para a formação de mestres que tenham essa atenção à demanda específica dessa região. Então, eles vão compreender as potencialidades da caatinga e vão ajudar os alunos no caminho da superação do estereótipo”, relatou Edmerson.

Não é coincidência que assegurar o financiamento público para o investimento na educação básica e em programas de graduação e pós-graduação em ECSAB se tornou uma das orientações do documento para o MEC.

Mapear experiências de sucesso é uma das peças chave para trabalhar o ensino no campo. No País, há organizações especializadas no tema. São exemplos a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (Resab) e a pernambucana Articulação Semiárido Brasileiro (Asa), que promoveu, no ano passado, um Encontro Nacional de Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido.

Outras demandas se referem ao material didático e à tecnologia aplicada ao semiárido. E a água, como não poderia deixar se ser, tem muita significação para as escolas da caatinga. A formação no reuso e a captação da chuva, por exemplo, não foram esquecidos pelos especialistas. A pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco que coordenou o evento, Janirza Cavalcanti, comemorou o passo dado no encontro.

“Saímos do campo das ideias para um objeto concreto. Um documento em que expressamos esse processo de construção coletiva. Agora temos um fundamento, trazendo essas experiências para criar a carta-final, entregue ao MEC.”

Para a representante do MEC no evento, a coordenadora geral de Políticas de Educação do Campo, Divina Bastos, o documento é uma boa estratégia para os educadores conseguirem a atenção necessária para o semiárido, mas não é a única. “Quando ele for revisado, para o stado e para o município, precisa estar com todas essas perspectivas”, julgou.

Diretrizes para lidar com a educação no semiárido :

– Fazer mapeamento de experiências já realizadas com a perspectiva da ECSAB
– Orientar a ECSAB como política pública nas Leis Orgânicas municipais e nos Planos Estaduais e Municipais de Educação
– Assegurar o financiamento público para o investimento na educação básica e em programas de graduação e pós-graduação em ECSAB
– Encaminhar demanda de projetos de pós-graduações em ECSAB junto a Universidades, Institutos Federais e Órgão de Fomento do Semiárido

– Articular programa de formação de gestores de Educação no Semiárido

– Articular fóruns de apoio comprometidos com a ECSAB
– Garantir a formação político-pedagógica de educadores atentando para a justiça social e para a democratização do poder e do saber na cidade e no campo
– Implantar Política Nacional de formação de professores e gestores na perspectiva da ECSAB, contemplando necessidade específicas de pessoas com deficiência
– Criar linha de financiamento específico para produção de material didático e/ou paradidático alinhado à ECSAB
– Garantir Políticas públicas que possibilitem a produção e distribuição desse material
– Considerar a necessidade mínimas de terra para a escola, para caberem, por exemplo, reservatórios hídricos e unidades de produção animal
– Equipar escolas para a criação de produtos de comunicação, como programas de rádio ou jornais
– Garantir implementação de tecnologias sociais de preservação e manejo da caatinga, como a captação de águas das chuvas e a formação em gestão de seu reuso
– Garantir produção animal e vegetal nas escolas, como bancos pedagógicos de sementes e hortas pedagógicas

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