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Golpismo estrutural por Marcia Tuburi

Golpismo estrutural

Por “Golpismo estrutural” entende-se o golpismo naturalizado. Assim como há um machismo, um racismo e um capacitismo estrutural, bem como um classismo estrutural, há uma estrutura golpista arraigada e naturalizada no Brasil.

Isso quer dizer que as oligarquias, ou seja, uns poucos grupos econômicos, empresariais, famílias e semelhantes, tais como os agentes da estrutura chamada “mercado” – do qual certas igrejas fazem parte – agem para alcançar e dominar o governo e assim deter o poder econômico e, por meio dele, o todo do poder.

Não há limites para o golpismo em sua ânsia de dominação. Mas qual a sua estratégia?

Como o golpismo estrutural age para se manter no poder?

O golpismo se tornou estrutural no Brasil através dos meios de comunicação enquanto aparelhos ideológicos do Estado tomado pelos agentes do neoliberalismo que são parasitas do poder econômico.

Eles conseguiram construir uma ideologia, ou seja, um véu acobertador da realidade, pela qual os principais afetados na condição de vítimas da injustiça econômica são capazes de defender seus algozes.

A expressão “pobres de direita” visa escancarar a contradição na qual são colocadas essas pessoas, embora não deixe explícita a violência epistemológica da qual são vítimas para que acreditem no capitalismo e no neoliberalismo como se esses sistemas econômicos fossem bons para os trabalhadores.

A ideologia do “vencer na vida” (vejam o livro de Laura Astrolábio), conseguiu fazer o neo-escravo acreditar que ele é um empresário de si, que ele é um empreendedor, que ele vencerá por seu próprio mérito.

Apaga-se a condição de classe trabalhadora explorada e o que causa o maior pavor aos oligarcas exploradores: a consciência de classe.

É importante saber que a ideologia não nasce sozinha. Ela precisa ser organizada, construída e implantada na esfera pública e no metabolismo mental dos indivíduos.

Nisso entra o papel dos meios de produção discursiva.

A imprensa é o mais importante desses meios, daí ser preciso tomar cuidado com a construção das notícias pela imprensa, sobretudo as notícias produzidas pelas grandes empresas de jornalismo que visam parasitar a mente do povo de formas mais ou menos sutis.

Muita gente esquece que a notícia também é uma mercadoria.

Afinal, se trata de empresas a serviço do neoliberalismo no qual não há almoço grátis. Portanto é importante que cada um saiba o preço que está a pagar pelo que acredita estar a receber de graça.

A igreja também é essencial como instituição produtora de discursos para persuadir, convencer e, inevitavelmente, enganar.

Assim como nas redes sociais digitais, as pessoas são escravizadas silenciosa e sorrateiramente nas igrejas para que sirvam ao plano de poder de pastores.

O golpismo estrutural cria os agentes de que precisa para se manter, pois se trata de uma estrutura que funciona sistemicamente.

Jornalistas sem ética não são diferentes de pastores sem ética.

Todos servem ao Deus Mercado desde que ficou evidente que a alma de cada trabalhador – que esqueceu que é um trabalhador – é o acesso privilegiado ao corpo que se esforça para produzir e consumir e assim produzir riqueza para os oligarcas que não passam de exploradores diabólicos, sejam banqueiros, sejam pastores, sejam jornalistas subalternos do sistema de abuso econômico pelo qual são pagos.

Marcia Tiburi
Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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