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NÃO TEREI UM DIA DE DESCANSO ATÉ A ELEIÇÃO, DIZ O GOVERNADOR RUI COSTA

A militância sindical na petroquímica foi um trampolim para a carreira política?


Comecei movido pela curiosidade. Como meu pai era metalúrgico, queria ver de perto uma negociação coletiva. Mal havia entrado na Companhia Petroquímica do Nordeste (Copene, subsidiária da Petrobras na época), no início dos anos 1980, como desenhista da área de projetos, resolvi acompanhar uma rodada. Conhecia bem a fábrica.

 

Por isso, no momento em que o diretor patronal garantiu que as condições de trabalho eram seguras, sai do fundão da sala do sindicato e pedi a palavra para contestá-lo.

 

Sempre fui tímido, mas falei o que pensava. Disse que o diretor estava recebendo relatórios errôneos. Os terceirizados trabalhavam de sandálias havaianas e usavam solvente carcerígeno para limpar as mãos.

 

E o que aconteceu?

As condições melhoraram logo depois, mas o diretor me chamou de abusado. Os colegas, dando a minha demissão como certa, me inscreveram à revelia na chapa que disputaria a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).

 

Quem entrasse, teria estabilidade. Fiz campanha contra. Não queria de jeito nenhum. Meus chefes ainda me ajudavam, arrancando cartazes que faziam referência ao meu nome.

 

E acabei sendo o mais votado, com 300 de um total de mil votos. Dali, foi um pulo para o Sindicato dos Petroquímicos, onde conheci Jaques Wagner (atual governador da Bahia), também sindicalista.


O senhor estudou Ciências Sociais, mas acabou formando-se em Economia. Na universidade, no regime militar, militou no movimento estudantil?


Não tive tempo de fazer movimento estudantil. Sempre fui pragmático. Trabalhei muito na adolescência. Uma das fontes de renda era dobrar caixinhas de papelão para uma fábrica de velas na Rua Nilo Peçanha (Salvador). No final da jornada, tínhamos dinheiro suficiente para comprar o lanche da noite para a família.

 

Às vezes, quando a situação apertava, minha mãe apelava para o mingau de café, uma mistura do resto do café da manhã com farinha.

 

Outra saída era pescar siri, o que eu fazia com prazer na Praia do Cantagalo. Até hoje, em casa, gosto de misturar biscoito e café com leite. Vira um mingau. Minha filha de um 1 ano me imita (risos).

 

Quando disputou uma eleição para valer?

No sindicato. Wagner candidatou-se a presidente, e eu a vice, enfrentando Nilson Bahia, um dirigente antigo, que seguia a receita assistencialista. Como a eleição era proporcional, ficamos com 38 vagas, e eles, com 42.

 

Na eleição seguinte, finalmente derrotamos Nilson. Como vice, acabei assumindo o comando do sindicato, mas fiquei pouco como presidente. Logo, criamos uma diretoria colegiada.

 

Em 2000, me elegi vereador em Salvador. Senti a diferença. Uma coisa era ser líder de massa, atuar no sindicato. Outra, entrar na vida parlamentar. O jogo é diferente. Leva tempo para se acostumar.


O senhor elegeu-se pela primeira vez quando o carlismo ainda era hegemônico na Bahia. Como foi enfrentar ACM?


O carlismo é a expressão do modelo dos coronéis à la Bahia. Todos os poderes sob a coordenação do governador. Como dirigente sindical, enfrentei muito a polícia baiana, inclusive as baionetas que nos feriam. As empresas agiam articuladas com ele, inclusive a imprensa.


Sua vitória no primeiro turno pode ser entendida como o fim definitivo do ciclo do carlismo?


Comecei com seis pontos nas pesquisas. Nunca havia disputado uma eleição majoritária. O nível de desconhecimento do meu nome chegava a 97% da população, alertavam as pesquisas. Já o meu adversário, Paulo Souto (DEM), havia participado de todas as eleições desde 1990. Era preciso ter sangue frio e assumir que patinaríamos por mais da metade da campanha.

 

Então, para acalmar os companheiros, garantia que campanha para valer só depois, no horário eleitoral. O problema é que a Bahia é um estado do tamanho da França, e metade não assiste às redes de TV locais.

 

Suas parabólicas captam os sinais de outros estados. O jeito foi ganhar a estrada. No primeiro semestre, só não viajei no Dia das Mães e no carnaval. Visitei muita gente, dei muita entrevista às rádios. Cerca de 50 mil pessoas participaram da discussão do meu programa de governo.


Gosta de carnaval?


Gosto do carnaval baiano, mas a maior festa popular da Bahia é o São João. Acontece em praticamente todas as cidades. Lugares como Senhor do Bonfim e Cruz das Almas reúnem em suas festas de 50 mil a cem mil pessoas.

 

O senhor disputou a indicação do PT com Walter Pinheiro e Sérgio Gabrielli, ambos também secretários do governo Jaques Wagner. Concluir o metrô foi o seu grande trunfo?


A prefeitura não tinha condição de alavancar a obra do metrô. Por isso estava parada há tanto tempo. Conseguimos assinar com o prefeito ACM Neto, em abril de 2013, um convênio que repassava a responsabilidade para o governo do estado. Pouco mais de um ano depois, estávamos inaugurando os primeiros sete quilômetros e meio de um total de 41 quilômetros (Linha 1).

 

Na campanha, o senhor foi alvo de uma denúncia que vinculava o seu nome ao escândalo de desvio de verbas do Instituto Brasil para políticos do PT. Como reagiu às acusações?


Foi o que mais me incomodou. Quando perceberam a minha ascensão nas pesquisas, com uma curva forte de crescimento, montaram essa farsa publicada pela “Veja”.

Antes, essa senhora (Dalva Sele, presidente do instituto e autora da denúncia) tentou fazer contato para nos extorquir. Mandava recado.


Dizia-se endividada, doente, passando fome. Nem quis vê-la. Sugeri que procurasse o Ministério Público, que já investigava o caso há quatro anos. Lá, ela nunca apareceu. Tampouco o meu nome nas investigações. Agora, depois das denúncias, ouvi dizer que ela está na Europa. Mas não estava sem dinheiro, passando fome?

 

O senhor a conhecia? Teve algum tipo de entendimento com ela ou com o instituto?


Ela era uma pessoa que buscava fazer relacionamentos. Levava flores, dava presentes. Eu a conhecia, mas nunca tive qualquer aproximação com ela. Sempre tive uma vida simples. Gosto de andar de sandália de couro no shopping, sem seguranças.
Se pudesse, usaria sandália de borracha, mas minha mulher não deixa (risos). Dispenso seguranças, e, na medida do possível, quero continuar assim. No final, acho que o tiro acabou saindo pela culatra.

 

Agora, com a vitória com quase 55% dos votos no primeiro turno, quais são os seus planos?

 

Não terei um só dia de descanso até a eleição. Dá para melhorar nas cidades maiores, diminuindo as abstenções. Em 2010, os votos de Marina na Bahia migraram para Dilma no segundo turno.

 

A candidata do PSB teve aqui quase exatamente a mesma votação de quatro anos atrás. Isso leva a crer que seus eleitores continuam os mesmos. Além do mais, no segundo turno as pessoas optam pelo pragmatismo.

 

Chega de voto de protesto. Sabem que, sendo eu o governador eleito pelo PT, a Bahia sairá ganhando com uma boa relação com o governo federal. Nosso desafio é conseguir mais um milhão de votos para Dilma aqui.

 

O escândalo da Petrobras pode atrapalhar Dilma?


Não sei dimensionar. O assunto já foi remoído. Será que esse bagaço ainda dá suco?            

Fonte: CHICO OTAVIO

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