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Relatório sobre as urnas ‘mal redigido e com vários erros’ provocou racha entre militares

Relatório das Forças Armadas tem omissões e teorias da conspiratórias

Um relatório sobre supostas fraudes em urnas eletrônicas, que nunca foram comprovadas, determinou um racha entre o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Junior, comandantes do Exército e da Aeronáutica, e o almirante Garnier, comandante da Marinha, em 2022.

As informações estão nos depoimentos de pessoas investigadas pela tentativa de golpe no país, entre elas militares de alta patente. Os documentos foram liberados por Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

De acordo com os depoimentos, no dia 14 de novembro de 2022, Baptista Junior apresentou o relatório ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ocupava o Palácio do Planalto na época.

O militar explicou que o documento estava “mal redigido e com vários erros” e que “não tinha embasamento técnico.”

O relatório havia sido produzido pelo Instituto Voto Legal, que recebeu R$ 1 milhão do PL para organizar uma fiscalização paralela do processo eleitoral.

No documento, o grupo afirmava que Bolsonaro havia recebido mais votos do que o vencedor daquela eleição, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em urnas novas. Porém, não havia apontamento de qualquer irregularidade.

Entre os bolsonaristas, o relatório foi recebido com otimismo e com esperança, mas era preciso convencer os militares de que o documento poderia ser usado para um golpe. Uma reunião no dia 14 de dezembro selou o racha no alto comando das Forças Armadas.

Durante o encontro, Baptista Junior e Freire Gomes se opuseram à minuta do golpe, mas Garnier concordou em seguir adiante com o planto. O ministro da Defesa na época, Paulo Sérgio Nogueira, também participou da reunião.

Em seu depoimento, Baptista Júnior afirmou que Garnier chegou a dizer que colocaria as tropas à disposição de Bolsonaro para atender ao golpe. O caminho escolhido seria implantar uma operação via Garantia da Lei e Ordem (GLO) no país.

Ainda de acordo com Baptista Júnior, após a negativa ao golpe, bolsonaristas passaram a atacar alguns comandantes das Forças Armadas. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) teria dito que o general “não pode deixar Bolsonaro na mão.”

Heleno “atônito”

Em seu depoimento, Baptista Júnior conta que Augusto Heleno, ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), ficou “atônito” após ouvir que a Força Aérea Brasileira (FAB) não aderiria ao golpe.

Heleno teria sido informado na decisão da FAB no dia 16 de dezembro de 2022, dias antes de Bolsonaro sair da presidência da República, durante um breve encontro no Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São Paulo.

Edição: Raquel Setz

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