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AS MENINAS DA FERREIRA VIANA POR MILTON BRITO

Eram três irmãs. A mais velha, Julia, tinha 25 anos, branca, calada, chegava e saía sem muita conversa, cumprimentando o Porteiro do prédio, de vez em quando. Era a mais vista.

Dava a impressão que trabalhava em algum lugar e buscava uma formação universitária, que justificava a sua introspectividade. Preocupava-se consigo e com as duas irmãs, Lívia e Letícia, morenas claras, que aparentavam 17 e 19 anos, respectivamente.

Nenhuma tinha atrativo de mulher desejada. Franzinas, iam e vinham sem notoriedade. Passaram-se dois anos, quando Julia, ao descer do prédio, ainda na portaria, aonde se encontrava Roberto, pôde o mesmo, notar que aquela mulher que passava despercebida, deixava os seus olhos brilhando ao deparar com tamanha beleza.

Corpo escultural, compenetrada, exibia charme e elegância, como se tivesse operado um verdadeiro milagre na transformação humana.

Questionaram alguns amigos, moradores do prédio, aquela cena e ficaram durante algum tempo sem resposta.

Descobriu-se pouco tempo depois que Julia estava para concluir o curso de Direito na Cândido Mendes e se encontrava às voltas para traduzir alguns trechos do livro “L’ESPRIT DES LOIX” de Montesquieu, sabendo através de uma amiga que Roberto estava para concluir o Curso de Francês na Maison de France.

Foi a oportunidade para o encontro dos dois, que infelizmente ficou constituído numa amizade platônica, tendo em vista que Roberto mantinha convivência marital com Ivone, no mesmo Edifício e no mesmo andar.

Algum tempo depois as suas irmãs se avolumavam em suas formas físicas, com contornos aviolados, desfilando pela sossegada Rua que conduzia até a praia do Flamengo, em biquines estonteantes.

Era o desejo em dose tripla a infernizar a libido de um homem que pretendia ser fiel, situação que Roberto não pôde suportar e partiu para a primeira conquista, conseguindo numa tarde de verão uma conversa agradável com Julia, terminando no leito de um apartamento cedido por um amigo, o que se repetiu por dezenas de vezes.

Apaixonaram-se. Roberto, no entanto, era um homem volúvel, já não se contentava com Ivone e Julia ao mesmo tempo e era tentado pelas belezas novas que surgiam em Lívia e Letícia.

Dias e noites atormentavam Roberto, com o desejo incontido de ter em seus braços suas cunhadas. Um dia, Julia, ao participar de uma audiência no Forum, conheceu um colega, solteiro e simpático, nascendo ali uma nova amizade, desencadeando o rompimento do romance com Roberto, que teve a oportunidade de se relacionar com Lívia que lhe propiciou noites por Copacabana.

Sextas-feiras frequentavam a Boate ZUM ZUM, para assistirem as apresentações de Vinícius, Baden, Quarteto em Cy, Oscar Castro Neves e algumas vezes Tom Jobim.

Aos sábados, em sua tournée, passava pela Boate Cangaceiro para ouvir Helena de Lima, principalmente pelo amor que tinha pelas musicas “Verdade da Vida” e “Estão voltando as Flores”, e, após a entrega do Bouquet por Pedro das Flores, à sua amada, ia o casal ouvir Milton Brito no Bar Michel e finalmente no Le Rond Point, para a sopa de cebola, com o encerramento da noitada no apartamento de encontros na Barata Ribeiro.

Lívia que se fez bela e cobiçada despertou interesse por outros rapazes mais jovens e mais sedentos de paixão, adiando a cada dia os encontros que mantinha com Roberto, até tomarem rumos diferentes.

Roberto ainda tentou Letícia, mas esta lhe negou a possibilidade de um romance, até pela experiência que vivenciou com suas irmãs.

Roberto, separado de Ivone, não encontrou mais abrigo aconchegante, terminando por residir em um apartamento de sala e quarto na Praia do Flamengo, ouvindo a sua musica de fossa:

“Quantas noites não durmo/ a rolar-me na cama/ a dizer tantas coisas/ que a gente não diz, afinal, quando ama/ O calor das cobertas não me aquece direito/ não há nada no mundo/ que possa afastar esse frio do meu peito./ Volta, vem viver outra vez ao meu lado…”. (composição de Lupicínio Rodrigues).

Ficou-se sabendo que o responsável pela grande transformação física das três irmãs, foi nada menos que o “Postafen”.
Rio de Janeiro de muito encontros e desencontros.

Milton Brito

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