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Escritor Demétrio Panarotto flerta com surrealismo em “Ares-Condicionados”

Demétrio Panarotto

Cenas de surrealismo e personagens fantasiosos percorrem a maior parte das narrativas de Panarotto.

Os ares-condicionados do conto-título, por exemplo, despencam do céu diante de um personagem um tanto indiferente, que lá pelas tantas se vê numa cidade que mais parece um videogame. Distante da realidade? Nem tanto. Cabe ao leitor encontrar – ou criar – algum vínculo com seu cotidiano, como faz o próprio autor:

– O conto é uma maneira de mostrar as ranhuras da cidade, aquelas coisas pelas quais passamos e nos condicionamos a não olhar, por achar que tudo está muito bem estruturado. Mas muita coisa pode romper a qualquer momento – explica Demétrio.

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Com muito humor, característica também marcante da banda Repolho, grupo musical do qual participa desde 1991, o escritor questiona os limites da poesia e o papel das leis de incentivo para a literatura.

Para tanto, além de graça, as histórias usam de autoironia, já que o próprio Panarotto é poeta e teve seu livro publicado com apoio do Funcultural, iniciativa do governo de Santa Catarina.

O conto Charles, o Poeta, por exemplo, trata de um personagem que já tentou ser um poeta do campo, depois urbano e, finalmente, apostou em fazer canções, mas fracassou em todas estas apostas.

Depois de conquistar um prêmio para publicar seu livro, Charles é então visto vagando à noite por prostíbulos, carregando “algo que lhe parecia mais forte (que o prêmio), a insegurança do quê e do como fazer”.

– É um modo de questionar o próprio espaço do livro. Não se trata de contestar o prêmio, e sim de pensar em como se relacionar com ele – diz Demétrio.

Fugindo de esquemas narrativos usuais, Ares-Condicionados faz com que cada leitor crie suas próprias histórias, imagens e interpretações a partir da leitura.

Pode dar trabalho a quem está acostumado a padrões de narrativa mais tradicionais, mas é coerente com sua proposta de colocar em questão o modo de ver e fazer certas coisas – sendo o próprio ato de ler mais uma delas.

Alexandre Lucchese

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