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Um apêndice sobre Literatura/por Carlos Lima

Literatura

O que realmente é mais importante culturalmente, o objetivo da literatura ou o estimatório?

É do conhecimento amplo que a especificidade da literatura só se tornou conhecida praticamente no apagar das lizes do século XVIII, início do século XIX, quando academicamente foi adotado, sob a designação de história da literatura.

E a literatura no Brasil?

Aqui, para se consolidar, ela teria de se contrapor ao pensamento de Gonçalves de Magalhães, entre 1811-82.

No discurso proferido por ele  em 1836, sobre a História da Literatura no Brasil, ele foi apresentada como “a quintessência do que haveria de melhorar e mais autêntico em um povo”.

Citava também que o país se tornara independente desconhecendo o verdadeiro sentido de nacionalidade que unificasse suas regiões, o mais importante no momento era consolidá-lo fortalecendo-o em todo território.

 A cultura na época era rala e rara, a inteligência não era a vocação do saber (com raras exceções), apenas a prática de uma minoria privilegiada da população. A razão chegava pela forma de como se dizia ou se determinava.

A preocupação era com a formação de um Estado e a divisão do poder, nada mais, a cultura e a literatura era um capítulo insignificante na ciranda que o poder estava construindo.

Nesse período os textos possuíam uma linguagem de fácil compreensão e a literatura estava bem distante do circulo de reflexão mais apurada. Os destaques não atingia a necessidade de formação, o analfabetismo um obstáculo, na época, intransponível.

Em resumo, nacionalidade, explicação histórico-determinista e linguagem de fácil entendimento eram traços que mantinham o fazer literário bem distante do circuito reflexivo.

A Academia Brasileira de Letras, para evitar conflitos e inimigos poderosos criou um ambiente de relações extremamente cordiais, para não dizer servil, com os homens considerados letrados e os poderosos, donos absolutos do poder.

Com isso não tivemos os avanços alcançados pela Alemanha como centro de referência nem entendemos a linha considerada ético-pragmática da Inglaterra.

Ficou tradicionalmente a América hispânica com a marca da aplicação da palavra retórica.

Alguns críticos comentam que “o léxico podia ser complicado, como em “Os Sertões” ou ainda em Augusto dos Anjos, desde que não fosse uma névoa, com aparência erudita”.

Esse período foi de 1960 a 1980 e durante essa fração de tempo ocorreu a reflexão teórica internacional.

Nessas duas décadas sabe-se que a teoria da literatura esteve presente em outras áreas, como a reflexão sobre a escrita e a revisão da prática antropológica. Um tanto quanto superada.

No considerado primeiro mundo ainda nos deparamos com obras teóricas, analíticas de livros importantes de literatura, aqui no Brasil, com exceção do romance, enquanto que obras poéticas e teóricas enfrentam a realidade de que seus títulos raramente sejam conhecidos por não existir uma valorização pertinente, cada vez mais as editoras os rejeitam.

Fato que obriga os autores serem seus próprios editores.

Como mudar isso?

Que tal analisar a possibilidade de repensar a valorização e divulgação da literatura nacional e a forma de aplicação dos seus projetos culturais, que enriquecem alguns e valorizam o superficial.

O Éter produzido nessas pseudos produções culturais, se levando em conta as devidas exceções, são absorvidos pelos seus produtores e autores.

A fábrica de penduricalhos é infinita.

 

Carlos Lima

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