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O frigorífico e a picanha assassina

A PICANHA ASSASSINA

OO frigorífico que gerou tumulto por anunciar a ‘picanha do mito’ a R$ 22 no dia da eleição foi autuado, nesta quarta-feira (5), pelo Procon-Go por vender alimentos impróprios para o consumo.

De acordo com o órgão, o estabelecimento também foi notificado a prestar esclarecimentos, em um prazo de 10 dias, sobre a promoção realizada no domingo (2), em Goiânia.

Segundo o Procon, o valor real da carne vendida a R$ 22 nas eleições era de R$ 129,99. Na promoção que tumultuou o estabelecimento no domingo, uma mulher passou mal e acabou morrendo.

Durante a fiscalização do Procon, foram apreendidos mais de 44 quilos de carne refrigerada sem informações sobre a data da embalagem e o prazo de validade, além de além de 5,5 kg de carne e 10 unidades de tempero e suco de laranja vencidos. Os alimentos vencidos foram descartados no local.

Com a autuação, a empresa pode pagar uma multa que varia de R$ 754 a R$ 11,3 milhões.

Procon ressalta que, no termo de notificação, solicitou a relação dos produtos ofertados no domingo, além das seguintes informações:

– Preços reais dos produtos;
– Preços promocionais ofertados;
– Duração da oferta;
– Condições impostas ao consumidor para participar da promoção;
– Cópias das notas fiscais de compra dos produtos colocados em ofertas, do período de 2 de setembro a 2 de outubro;
– Informações sobre o estoque inicial e final no dia da promoção.

Também foram solicitadas pelo órgão as imagens capturadas pelas câmeras de segurança do local durante a promoção, principalmente as do interior do estabelecimento.

Possível crime eleitoral
No domingo (2), o juiz eleitoral Wilton Muller Salomão suspendeu a propaganda e a venda da “picanha mito” a R$ 22 por quilo, anunciada neste domingo (2) pelo Frigorífico Goiás, em Goiânia.

A decisão ainda determinou multa de R$ 10 mil por hora em que a promoção ficar publicada no ar.

A propaganda usada pelo estabelecimento para a divulgação da promoção usava a imagem do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).

“A venda de carne nobre em preço manifestamente inferior ao praticado no mercado, no valor de R$ 22, revela indícios suficientes para caracterizar, em sede de um juízo não exauriente, conduta possivelmente abusiva do poder econômico em detrimento da legitimidade e isonomia do processo eleitoral”, escreveu o magistrado.

“Domingão dia 2 de Outubro, picanha mito R$22 reais kg limite de duas peças por cliente. Promoção válida para unidades de Goiânia, e para quem estiver com a camiseta do Brasil.

“Marque aqui seu amigo que ama uma Picanha Gordinha 😋”, descreve a postagem.

Um especialista em justiça eleitoral, que não quis se identificar, informou que o desconto de mais de R$ 100 no kg de picanha pode ser configurado como um “incentivo” ao eleitor votar em Bolsonaro.

“Pode ser um elemento para incentivar o voto. Claro que deve ser analisado, mas pode ser configurado crime de corrupção eleitoral”, disse o especialista.

Relembre o caso
Uma mulher morreu no último domingo (2) após um tumulto gerado por uma promoção do ‘Frigorífico Goiás’.

O estabelecimento comercial anunciou a venda da “picanha mito” por R$ 22 para quem usasse uma camiseta amarela de apoio a Jair Bolsonaro (PL).

Um vídeo mostra diversos clientes aglomerados tentando forçar a entrada no local. As portas de vidro se quebraram. Seguranças tentaram conter o tumulto, mas acabaram sendo empurrados.

A Polícia Militar foi chamada para tentar acabar com a confusão.

“Eles anunciaram que o quilo da picanha de R$ 129,00 seria vendido por R$ 22,00 para quem aparecesse no açougue vestido com roupas de apoio a Bolsonaro. As pessoas aglomeraram, começaram a se bater, foi um inferno. Lamento muito que a mulher tenha morrido, outras pessoas passaram mal”, relatou uma testemunha.

O caso foi registrado inicialmente como morte acidental.

O marido da vítima é bombeiro aposentado e disse a mulher acabou sendo espremida na porta. Ela conseguiu ser retirada do local e retornou para o carro, mas o homem relatou que a perna da esposa estava muito inchada e ela reclamava muito de dor.

A vítima foi levada para um hospital, mas não resistiu e morreu devido a uma hemorragia interna.

Antes da morte da mulher, a primeira-dama Michelle Bolsonaro elogiou a ação do frigorífico nas redes sociais. “Muito patriota”, comentou Michelle na postagem do açougue no Instagram.

RPP

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