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Brasil pode se favorecer com o fim do acordo de grãos entre Rússia e Ucrânia, dizem analistas

Grãos ucranianos não tem por onde sair

Após a suspensão da participação de Moscou na Iniciativa de Grãos do Mar Negro, países compradores de grãos podem buscar parceiros mais estáveis na América Latina, como avalia o vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Ingo Plöger.

De acordo com o Estadão, a economista e analista da Tendências Consultoria Integrada, especializada em agropecuária e biocombustíveis, Gabriela Faria, também afirma que o Brasil tem mais a ganhar do que a perder com a interrupção do acordo.

“Se a Ucrânia normalmente exporta para União Europeia [UE] e Norte da África e deixa de exportar, o Brasil pode ocupar esse espaço, ainda mais porque temos uma safra muito grande de milho neste ano”, afirma a especialista.

Ainda no ano passado, Ucrânia e Rússia assinaram dois acordos para reabrir três portos ucranianos do mar Negro que estavam bloqueados em razão do conflito ucraniano e para facilitar a exportação de alimentos e fertilizantes russos.

No cenário global agrícola, os dois países são importantes exportadores de trigo, cevada e outros produtos alimentícios.

“O fato de a Ucrânia e a Europa estarem sujeitas a esse tipo de políticas coercitivas, leva compradores a buscarem no longo prazo opções mais ‘seguras’ e vão aderir a estratégia de safeshoring ou friendshoring, o que favorece a América Latina”, afirma Ingo Plöger, da Abag.

Outro fato é que, após fim de acordo de grãos, entregas de armas para Ucrânia podem se tornar mais difíceis

Ainda para o vice-presidente da Abag, o recente encontro em Bruxelas entre a UE e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) deve servir para que as prioridades do bloco europeu sejam revistas em relação à América Latina.

A economista da Tendências concorda que o Brasil é uma boa alternativa aos países mais voláteis, afirma o Estadão.

“O Brasil está bem longe do conflito e tem potencial de ser um grande exportador”, disse Plöger.

A Rússia já vinha sinalizando que para estender o acordo de grãos uma série de demandas — como a reconexão do Rosselkhozbank (banco agrícola russo) ao sistema SWIFT — precisava ser atendida.

Como o Ocidente não desprendeu esforços na direção de Moscou, o país se retirou do acordo que deve impactar nos preços globais de alimentos.

Na avaliação de Plöger, a decisão de segunda-feira (17), no momento da colheita ucraniana, “afeta não só a Ucrânia, mas o mercado comprador destes grãos, que são em primeira linha a Europa no seu sentido mais amplo”.

No curto prazo, diz o vice-presidente, isso também pode ser favorável ao Brasil já que outros mercados ofertantes podem obter melhor preço nas próximas semanas graças a escassez de curto prazo, uma “especulação de curto prazo, que neste momento é favorável ao Brasil”.

Segundo Gabriela Faria, no entanto, o choque neste ano, com a interrupção do acordo, tende a ser menor do que o ocorrido no início do conflito já que a safra de milho da Ucrânia, prevista para este ano, não era tão positiva.

Desde o início das tratativas em 2022, o acordo de grãos não apresenta garantias permanentes de estabilidade, razão pela qual alguns analistas acreditam que o escoamento de grãos pode ser normalizado em algum momento, mas a situação é imprevisível.

O aumento da oferta no Brasil é um dos cenários que, na visão da especialista, deve conter uma alta de preços dos grãos e alimentos dentro do Brasil.

De acordo com Gabriela Faria, por uma série de fatores que vão do preço do petróleo à produção dos países envolvidos nesse mercado, dificilmente teremos um aumento tão grande como o ano passado.

“O risco é os preços não caírem tanto quanto cairiam”, disse a economista.

Sputnik.

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