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Candidatura Maia, a quem favorece ou prejudica

O movimento do presidente da Câmara prejudica Meirelles. Num primeiro momento, favorece Alckmin. Em seguida, Bolsonaro

É saudável para a democracia brasileira que o deputado Rodrigo Maia tente ser candidato a presidente. Sua entrada na corrida neste momento tem dois efeitos concomitantes, de resultante ainda incerta.

O primeiro, e mais óbvio, efeito é enfraquecer a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Maia tem muito daquilo que falta a Meirelles: base política e capacidade de articulação.

Na presidência da Câmara, sucedeu com serenidade a gestão turbulenta do ex-deputado Eduardo Cunha. Ao contrário do comportamento mitômano, histérico e prepotente de Cunha diante do cerco da Operação Lava Jato, Maia soube usar de modo inteligente as denúncias contra o presidente Michel Temer para ampliar seu poder (na ocasião, comparei sua estratégia cautelosa à canção “despacito”).

Em vez de aderir à grita pela derrubada de Temer, foi leal ao Planalto. Ao mesmo tempo, costurou relações sólidas com partidos da base do governo, como PP e Solidariedade. Seu nome lhes aparece agora como alternativa natural diante da impopularidade irrecuperável de Temer. Maia pode escolher o lado que lhe for mais vantajoso.

Meirelles, em contrapartida, tem dificuldade para dissociar-se do governo. Verdade que conduz a gestão mais bem-sucedida na economia em pelo menos uma década. Mesmo assim, sofre desgaste com a dificuldade para aprovar a reforma da Previdência e, neste início do ano, com a tentativa de revogar o artigo da Constituição que obriga o governo a não contrair dívidas para pagar despesas, conhecido como “regra de ouro”.

Arquivada ontem por Maia, a tentativa representava um retrocesso na imagem de austeridade fiscal de Meirelles. O episódio revela uma desvantagem adicional de Meirelles: ele depende de Maia para aprovar qualquer medida econômica, em especial a reforma da Previdência.

Nessa situação, é natural que Maia aproveite o mês de fevereiro para testar sua candidatura. Duas oportunidades se apresentam naturalmente: a convenção do DEM e a própria votação da reforma. O crédito por qualquer vitória que o governo obtiver no Congresso será, no mínimo, dividido. Só isso já representará uma derrota para Meirelles.

O segundo efeito da entrada oficial de Maia está no eleitorado. Nesse ponto, tanto ele quanto Meirelles padecem do mesmo problema: falta de voto. Nenhum tem muito apelo nas pesquisas, embora Meirelles tenha ganhado algum espaço, graças à campanha disfarçada que faz desde o final do ano passado.

Eles disputam o mesmo eleitor de perfil moderado, insatisfeito com as opções polarizadoras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do deputado Jair Bolsonaro. Nessa disputa, não estão sozinhos. Quanto mais nomes houver, melhor para Bolsonaro, cujo eleitorado cativo não o abandonará, mesmo que ele enfrente dificuldade para crescer.

O principal adversário de Maia e Meirelles na disputa pelo centro continua a ser o governador paulista, Geraldo Alckmin. Os dois podem abrir mão a qualquer momento da própria candidatura em favor de um nome mais viável sem muito ônus. Alckmin não. Precisa (e deverá) ser candidato até o fim.

Representa o partido que esteve no segundo turno nas últimas quatro eleições. Ainda que não chegue 10% nas pesquisas, seu nome, mais conhecido, aparece na frente dos outros dois. Dispõe ainda da máquina do governo paulista, com uma série de inaugurações e eventos previstos para este ano. Não faz sentido desistir.

Ao tornar mais difíceis os planos de Meirelles, Maia acaba por fortalecer os de Alckmin. O passo natural agora seria uma tentativa de reaproximação entre MDB e PSDB, oferecida pela votação da reforma da Previdência. Temer resiste, por causa da atitude omissa (ou até mais que isso) de Alckmin na votação das denúncias em 2017. Mas a circunstância política mudou.

Se houver um acordo, ainda que tácito, entre MDB e PSDB, nem Maia nem Meirelles terão fôlego para uma candidatura própria. Se não houver, tudo é possível (até mesmo a ressurreição da candidatura Luciano Huck, sepultada no final do ano passado). Caso os três – Maia, Meirelles e Alckmin – insistam em ser candidatos, o mais favorecido será Bolsonaro.

Helio Gurovitz

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