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Crise brasileira agora Esquerda, centro e direita se unem contra Sérgio Moro

Juiz Sérgio Moro

Da noite para o dia, o ministro Gilmar Mendes deixou de ser um supremo defensor das posições e interesses direitistas; o senador Aloysio Nunes, aquele ex-guerrilheiro da ALN que se deslocou para o extremo oposto do espectro político (tornando-se anticomunista furibundo!), obteve a absolvição de tal pecadilho, sem nem mesmo ter de rezar uns tantos pai-nossos e ave-marias; e o senador Renan Calheiros, atolado em denúncias de ilegalidades até o pescoço (tanto quanto estava em 2007, quando precisou abandonar sob vara a Presidência do Senado), deve agora ser visto como um paladino da luta contra o regime de exceção.

Já notaram As mudanças de comportamento. São as voltas que o mundo dá…

Vale tudo para deter a Lava Jato antes que encarcere Lula.

Ou seja, mais uma vez o PT coloca a sobrevivência política do partido acima da revolução, da justiça social, dos trabalhadores, dos valores da esquerda e de tudo que se comprometeu a defender em 1980.

Pactua nos bastidores com o PSDB e o PMDB para, juntos, cortarem as asas de Moro, no exato instante em que as delações premiadas de Marcelo Odebrecht e mais 50 executivos de sua empresa ameaçam decepar mãos sujas de figurões de todos os partidos, não deixando pedra sobre pedra em Brasília.

Todo aquele blablablá contra o Michel Temer, portanto, não era pra valer.

Essa nova rodada de delações premiadas decerto vai causar-lhe imensos embaraços e talvez até o derrube; e há, ainda, a possibilidade de Eduardo Cunha também fechar um acordo para salvar o pescoço, o que equivaleria a outra bomba arrasa-quarteirão.

Mas, se abortar tudo isso for o preço para evitar a prisão de Lula, o PT se mostra disposto a pagá-lo de bom grado.

Por quê? Porque faz das tripas coração para se manter como força hegemônica da esquerda, apesar dos erros crassos que tem cometido e das acachapantes derrotas que vem sofrendo ultimamente.

E, como continua sem qualquer outra figura de proa com prestígio nacional, sua única esperança de não repetir nas eleições de 2018 o desempenho pífio das de 2016 é ter Lula como candidato a presidente da República, puxando votos para os pleiteantes aos governos estaduais, Senado, Câmara Federal e assembleias legislativas.

O desespero é tamanho que o coordenador do MST, Miguel Stedile, constrangeu Dom Paulo Evaristo Arns no ato comemorativo do seu 95º aniversário, ao pedir-lhe: “Reze, faça tudo o que o senhor puder para salvarmos o Lula desse impostor”, fazendo referência a Moro, a quem ele também qualificou de imperador de Curitiba.

A fala foi tão descabida e inoportuna que só restou a Dom Paulo a opção de manter-se em silêncio.

A minha impressão é que a cruzada de direita, centro e esquerda contra a Lava Jato acabará vitoriosa.

Divirto-me ao ler artigos enfáticos do Reinaldo Azevedo desaconselhando a aceitação da delação premiada de Eduardo Cunha sob mil pretextos, menos o motivo real, de que causaria uma enorme devastação no coração do poder.

Moro passou a ser o alvo de diversas metralhadoras políticas, diz Lungaretti ao tomar conhecimento de alguns excessos caricatos em que incorrem os petistas para preservarem seu último trunfo, como o de mobilizarem-se ruidosamente para resistirem ao que depois acaba se evidenciando como mero boato.

E fico imaginando a cara dos visitantes de Moro que vão lhe perguntar quando mandará a Polícia Federal atrás da bola da vez, ao dele receberem como resposta apenas o indicativo apontando a placa jocosa que pendurou na parede do gabinete: “Prisão do Lula só amanhã”.

Mas, o strip-tease dos poderosos já durou demais e suas pudendas são muito feias de se olhar. Se levada às últimas consequências, a luta contra a corrupção vai se esfarelar de tal forma, que o poder político não servirá mais nem para continuar cumprindo seu tradicional papel de fachada do poder dominante (o econômico).

Só os ingênuos não percebem – neste instante não existe qualquer possibilidade de o povo tomar nas mãos seu destino; se a desqualificação generalizada dos políticos abrir caminho para uma solução alternativa, o beneficiário será algum demagogo carismático que decerto vai se apresentar como um outsider, mas ideologicamente rezará pela cartilha da direita mais selvagem!

Resgato a sábia advertência do jornalista Mário Sérgio Conti, com a qual também concordo:

“Depois do tacão militar, da Nova República, do pesadelo collorido, do apagão tucano, da deterioração petista e do golpe democrático – após o fracasso total virá o Salvador da Pátria…

Eu,  ainda acrescento, se não for isso será o domínio da Justiça, uma ditadura muito mas forte do que a dos militares.

E quem sabe, um Bonaparte poderá vir até mesmo antes do próximo pleito, caso um desses cruzados contra a corrupção se meta na política.

Como tantas almas crédulas seguiram Jânio, os milicos e Collor, dá para imaginar o tamanho da procissão atrás de um histrião moralista”.

Mas, se Moro for mesmo enquadrado, para o bem de todos que se lambuzaram com o poder e felicidade geral dos políticos profissionais, merecerá ser respeitosamente lembrado como um Gulliver que os liliputianos terão imobilizado, mas não vencido.

CELSO LUNGARETTI/247/CLJORNAL

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