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Para o PT, caso Siemens é ‘trensalão’

PT e PSDB nacionalizaram, nesta sexta-feira (9), a guerra política originada com a denúncia de pagamento de propinas em processos de licitação dos trens do Metrô nos governos tucanos em São Paulo.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, batizou o caso de “trensalão”, numa referência ao esquema do mensalão, que atingiu o PT em 2005.

Na outra ponta, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o PSDB “não é farinha do mesmo saco”, numa referência ao PT.

Falcão reclamou do tratamento dado pela imprensa ao caso em São Paulo. “Se houvesse alguns de nossos partidos envolvidos, seria a maior corrupção da história. Mas dizem que é cartel e que a vítima é o Estado”, discursou o dirigente petista no Rio, em seminário que analisava os protestos de junho.

“As manifestações não vão cessar. Haverá uma em São Paulo, no próximo dia 14, contra o propinoduto ou o trensalão”, disse. À noite, em encontro do PT em Bauru, Falcão retomou o caso e foi mais direto: “Chega de tucanos em São Paulo”.

Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique saiu em defesa dos quadros tucanos, apesar de o presidente da legenda, Aécio Neves (MG), não ter assinado a única nota oficial do diretório nacional do partido sobre o caso.

Segundo FHC, “há muita agitação, mas pouca coisa concreta a respeito” da denúncia. “Não houve acusação de que o governo de São Paulo tivesse sido favorecido ou que algum político do PSDB tivesse se beneficiado”, disse o tucano, que também estava no Rio nesta sexta.

“Quando começam a misturar as águas, não é bom. Isso pode dar a impressão de que é parecido com o que outros fizeram. (…) A população ficaria pensando que é tudo farinha do mesmo saco. E não é”, disse FHC.

O caso de acerto em licitações foi delatado pela multinacional Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A empresa fez com o Cade um “acordo de leniência”, ou seja, admite negociatas e, em troca, fornece provas e informações sobre o ilícito.

Fernando Henrique Cardoso admitiu que licitações podem gerar corrupção e afirmou que o ex-governador José Serra foi transparente ao dar respostas sobre denúncias.

Reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira revelou a existência de e-mail de executivo da Siemens relatando conversa com o então governador José Serra na qual ele teria sugerido que a empresa fizesse acordo com a primeira colocada, a espanhola CAF, para a licitação não ter de ser cancelada. Serra nega.

“A concorrência para compra de 40 trens de São Paulo, realizada em 2008, foi uma verdadeira ação anticartel (…) Ganhou a CAF, uma empresa espanhola que ofereceu o menor preço. O Estado economizou cerca de R$ 200 milhões (…) A Siemens ofereceu preços bem mais altos. Por isso perdeu, ficando em segundo lugar”.

“Diga-se que não recebeu nenhum tipo de compensação. Não foi subcontratada nem ganhou contratos novos. Ou seja, os fatos sugeridos nesse(s) e-mail(s) de executivo(s)da Siemens não aconteceram”, disse Serra, em nota.

Resistência.

O comando nacional do PT trabalha para criar em Brasília, na Câmara, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias que atingem o PSDB. A estratégia encontra resistência nos partidos da base.

A situação não interessa às demais legendas, como o PSB, PDT, PP, PTB, que fazem alianças com tucanos e petistas nos Estados.

Como na Câmara há 17 investigações à espera de instalação, o PT quer emplacar uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista, envolvendo deputados e senadores, que teria criação facilitada.

“Os fatos estão vindo muito rapidamente. Isso requer uma investigação forte”, justificou Paulo Teixeira (PT-SP), encarregado pelo partido de recolher as assinaturas.

“Por que vamos nos meter nisso?”, questiona o 2.º vice-presidente do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). “O que move isso é uma questão política. Nós não vamos entrar nessa briga”, avisou o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE).

“Nossa tendência é de não assinar a CPI nesse momento de crise e de véspera de eleição. Há uma investigação grande do Ministério Público e da Polícia Federal”.

“Não estamos a fim de participar dessa guerra entre PT e PSDB”, emendou o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (SP). “Ninguém vai assinar isso agora com a nuvem de dúvidas sobre a eleição do ano que vem”, resumiu um parlamentar.  

Fonte: Estadão

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