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Serraglio e a imprensa de carne fraca

Eles chegaram

A crise provocada pela repercussão da tal Operação Carne Fraca é de proporções muito graves, por mais que se o minimize.

Não dá para deixar de ver a repercussão, hoje, da proibição de Hong Kong, o maior importador de carne bovina brasileira, de que nosso produto entre em suas fronteiras.

Criticada publicamente, a meganhagem reagiu a Blairo Maggi fazendo vazar para a imprensa que seu nome está entre os investigados da Lava Jato.

Ais demais, intimidou na base do “muito mais está por vir”.

Só um personagem está desaparecido desde o início deste trabalhada, justamente aquele que não só é o responsável máximo pela Polícia Federal e quem tem sua voz gravada, chamando de “grande chefe” o fiscal corrupto do Paraná, pelo qual ele, com o testemunho pessoal da ex-ministra Kátia Abreu, fez lobby para manter.

Posso estar ficando velho, mas no meu tempo haveria uma multidão de repórteres pressionando Serraglio a falar.

Ainda que se recusasse, a recusa seria notícia.

Você mesmo pode imaginar as imagens dele, fugindo dos microfones, entrando num carrão de vidros opacos.

Afinal de contas, há uma comoção popular, porque, afinal, todos estamos comendo carne de frango com papelão, não é?

Mas não.

Há quatro dias, Serraglio está desaparecido, embora sua agenda indique que está dentro do ministério, metido na mais grossa politicagem  – só hoje teve ou está tendo reuniões com sete deputados federais, um senador e um prefeito, além do presidente da Samarco.

Está tão grave o desemprego que não tem um repórter, uma equipe de TV para mandar lá e apertar o ministro a se pronunciar?

É suficiente plantar uma nota na imprensa, dizendo que o “padrinho” do fiscal era o falecido deputado Moacir Micheletto e ele apenas subscreveu a indicação?

Isso dá direito a chama-lo de “grande chefe”?

Aliás, segundo o Estadão, investigadores (leia-se, a Polícia) estão encampando esta versão inacreditável, quem sabe pela docilidade com que Serraglio se comporta.

O “jornalismo investigativo” deste país está resumido a receber vazamentos de policiais e promotores?

Não dá nem pra fazer um “quebra-queixo”, que é como chamamos aquelas coletivas rápidas, de pé, com um mar de celulares, gravadores e microfones engolfando o entrevistado?

Se estamos assim, acho bom tomarmos todos um banho numa piscina de “ácido ascórbico”, o perigoso aditivo que foi denunciado pelo delegado.

Se for com aquele de pastilha, efervescente, vai ficar bacaninha.

Fernando Brito

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