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VIVER É PERIGOSO/POR ANTONIO BRITO

Meu saudoso amigo irmão Antonio Brito

Ao sair do velho-novo posto, o intenso trânsito noturno me diz que todo cuidado é pouco. “Já perdi amigos…” Tensão nos nervos! Mas até isto anima e alerta.

Capacete preso, pedal suspenso, moto no ponto, engrenada, aceleração e embreagem seguras, para não interromper no exato segundo de entrar na pista, respiração exata, partida perfeita, sem um tico de dúvida, o acostamento livre, que o imprevisto acontece, carros atrás e ao seu lado também querem arrancar no seu tempo, quatro rodas não respeita duas.

Checo a paciência, elogiada por muitos, mas duvido dela.

Viagem é pra chegar!

Se um dia me pegar sem reflexos para calcular distância e velocidade do que se move na estrada, paro de pilotar! Podem duvidar Orlandino Rocha Passos
, Carlos Lima Carlos Lima
, Bruno Melo
: paro com moto!

Não paro é de sentir a voz de Betânia quando vejo a placa para sua Santo Amaro, do bonde puxado a burro no tempo de dona Canô. Nem paro de ‘puxar pro play da mente’ as canções de Dorival Caymmi.

Só em passar nos canaviais que escondem a vila de Maracangalha, parada no tempo, inspiradora do cancioneiro. Cismo, Sergio Emmanoel Teixeira, de que ele jamais pisou nessa Macondo à brasileira…

Do posto, ficam-me conotações afetivas adoráveis: aquela ‘flor vermelha’ proibida, eu a colhi pelo imaginário.

A cada acelerada deixo que suas pétalas pousem com amorosidade no passado e presente de todos os meus caminhos.

Neles enfeito o peito de seres estimados, que nem acreditam, mas é onde faço rescender perfumes do meu afeto.

Na estrada, dezenas de placas e marcos sentimentais me dizem, em festa, da distância para chegar ao destino.

Agrada-me viajar nesse ‘tempo psicológico’ em que o corpo segue sua viagem física objetiva enquanto a mente aguça a subjetividade na percepção da paisagem…

O relógio da abstração adianta e atrasa a ordem cronológica de qualquer fato.

Ao tempo em que veículos voadores sopram no asfalto, acolho e estabilizo o açoite em brisas de acalanto pro Raul Seixas, lá nos ‘dez mil anos atrás’…

Em décimos de segundo penetro sua “sociedade alternativa”… Num lapso, estou em Canudos, ao lado de Conselheiro íntegro e do túmulo de 20 mil a 30 mil sertanejos pobres assassinados um a um por vândalos oficiais da renitente República (das elites de ontem e de hoje) desavergonhada do Brasil…

Deponho aos mártires uma ‘pétala vermelha’ – a do seu querer…

Nem pisco, já chego ao deleite de “além do arco-íris”, por onde também voam libertários pássaros poéticos, sem quebrantos, do verso de Fernando Coelho…

Estou atento!

As torres do Aeroporto estão suavemente visíveis ao meu olhar, entretanto nubladas. De fato, “tudo se transforma”…

Desta vez, porém, como um…

Antonio Brito

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