O Ministério Público Federal (MPF) afirmou que pediu a prisão do ex-chefe da Casa Civil do Rio Régis Fichtner com base em evidências de que ele já tentou impedir investigações da operação Lava Jato. A Polícia Federal prendeu Fichtner e mais quatro pessoas na manhã desta quinta-feira (23), na Operação C’Est Fini.
“Régis já realizou alguns movimentos suspeitos que demonstram a tentativa de impedir as investigações a seu respeito, como o encerramento de conta de e-mail usualmente visto nas mensagens trocadas entre os integrantes das organizações criminosas”, diz o documento em que o MPF pede a prisão do ex-secretário.
Atualmente, Fichtner é procurador assessor no gabinete da Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o MPF, devido ao cargo, ele seguiria atuando dentro da administração pública enquanto é investigado, com acesso a documentos e dados das investigações.
A decisão de prender Régis Fichtner foi assinada pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pelos casos da Lava Jato no Rio.
Suspeitas
Segundo o documento do MPF, o ex-chefe da Casa Civil aparece em anotações feitas em agendas de Luiz Carlos Bezerra, ex-assessor do ex-governador Sérgio Cabral e apontado como operador do esquema criminoso investigado pela força-tarefa da Lava Jato no Rio.
Nos registros atribuídos à contabilidade do grupo, Fichtner era identificado com os codinomes “Régis”, “Alemão” e “Gaúcho”.
“No caso específico do investigado, como chefe da Casa Civil à época do Governo de Sérgio Cabral (2007 a 2014), verificam-se, inicialmente, o provável recebimento de propina e o cometimento de possíveis ilegalidades quanto às contratações públicas e aos pagamentos de precatórios deste Estado”, afirma o MPF.
Fichtner teria recebido pelo menos R$ 1,5 milhão em repasses ilícitos feitos em dinheiro vivo, de acordo com o documento do Ministério Público. Alguns dos malotes teriam sido entregues a ele dentro do Palácio Guanabara, sede do governo do RJ.
Propina no Palácio Guanabara
Segundo o depoimento de Luiz Carlos Bezerra, Fichtner teria recebido entregas em dinheiro pelo menos quatro vezes, entre 2013 e 2014, no Palácio Guanabara e no escritório de advocacia dele.
Bezerra afirmou, ainda, que sua função era a de operador, recolhendo o dinheiro em espécie e levando a locais determinados pelos outros membros da organização.
Ligações telefônicas entre Fichtner e outros integrantes da organização criminosa chefiada por Cabral também foram usadas como base para pedir a prisão. Apenas com Cabral foram registrados 135 telefonemas, sendo os últimos próximos da data de prisão do ex-governador, em novembro do ano passado.
Alguns atos de Fichtner como chefe da Casa Civil do governo do Rio também foram considerados suspeitos pelos promotores. É o caso da contratação de uma empresa de táxi aéreo pelo governo, que tinha como advogado o próprio Fichtner, em outubro de 2012.
O valor do contrato superava R$ 3,4 milhões e foi renovado em 2013 e 2014, alcançando mais de R$ 10 milhões. A empresa de táxi aéreo fez doações eleitorais ao PMDB, segundo o relatório.
Outra suspeita levantada é a compensação de precatórios no valor de mais de R$ 74 milhões para uma empresa que tinha como advogada Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, também presa por envolvimento no esquema.
Os promotores afirmam que, apesar de Fichtner ter pedido formalmente afastamento do escritório de advocacia do qual é sócio durante o tempo em que foi secretário, ele recebeu mais de R$ 16 milhões logo após a sua exoneração, em 2014. Para os investigadores, há indícios de lucro desproporcional.
Cristina Boeckel