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Bolsonarista: filha que sequestrou e internou mãe à força em clínica psiquiátrica dizia ser “a favor da família”

Filha bolsonarista interna mãe em clínica pasiquiátrica

Uma mulher decidiu sequestrar a própria mãe e interná-la à força em uma clínica psiquiátrica. Investigações revelaram que a idosa não tinha nenhum problema psiquiátrico, mas foi mantida na clínica para ser coagida a retirar denúncia que fez sobre maus-tratos sofridos pelo dois netos, de 2 e 9 anos.

Além disso, a filha pretendia desqualificar a mãe para ficar com a pensão dela. Vítima já havia solicitado medida protetiva, mas Justiça negou

Patrícia de Paiva Reis sequestrou a própria mãe, Maria Aparecida de Paiva, de 65 anos, e internou a idosa em duas clínicas psiquiátricas no Rio de Janeiro.

A vítima viveu 15 dias de terror até conseguir esclarecer o caso e desmascarar a filha.

De acordo com a polícia, as investigações apontaram que a idosa não tinha doenças psiquiátricas, mas foi mantida em clínicas para ser coagida a retirar uma denúncia que fez sobre maus-tratos sofridos pelo dois netos, de 2 e 9 anos, na DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima).

Além de Patrícia de Paiva Reis, o genro da vítima também foi preso por participação no crime. A polícia informou que eles pretendiam desqualificar a vítima para ficar com a pensão dela.

“Patrícia ficou com raiva porque Maria Aparecida denunciou que seus netos sofriam violência física. Além disso, a acusada divide uma pensão com a mãe e queria ficar com o valor integral”, disse o delegado que investiga o caso.

Primeira clínica
Inicialmente, a idosa foi sequestrada na zona sul do Rio de Janeiro no dia 6 de fevereiro. A abordagem ocorreu quando ela saía de uma agência bancária e foi rendida por dois homens, que a colocaram em uma ambulância. Ela foi levada à Clínica Vista Alegre, em Corrêas, na região serrana do estado.

A vítima chegou a pensar que se tratava de uma ‘saidinha de banco’ ou sequestro relâmpago, mas percebeu a trama quando o sequestrador disse que “era uma coisa de família”.

Na clínica, a vítima diz que recebeu uma ficha e foi encaminhada para uma sala. No local, uma mulher tirou sua bolsa e celular, e mandou a idosa se despir e se agachar várias vezes. Depois, ela foi levada para um quarto, sem janela e sem contato com outras pessoas, com somente uma cama, um vaso sanitário e uma pia.

Ela ficou três dias nesse espaço com “intenso calor”, recebendo duas refeições por dia, sem acesso fácil à água. Depois foi transferida para um quarto coletivo, onde tinha café da manhã e maior acesso à água.

A idosa conta que não teve contato com nenhum médico e que era obrigada a ingerir medicações.

A vítima dizia que precisava receber alta, mas pessoas da clínica respondiam que ela precisava falar com a filha, que foi visitá-la no Carnaval com o genro.

Na visita, Patrícia ameaçou colocar a mãe em uma clínica psiquiátrica pública caso ela não colaborasse.

Segunda clínica
Depois de alguns dias, Patrícia e Raphael Machado Costa Neves colocaram a idosa à força em outra ambulância e a internaram na Clínica Revitalis, na mesma região. No espaço, a idosa foi levada para um quarto coletivo.

Apenas no dia 22 de fevereiro, a mulher foi atendida por uma médica e conseguiu explicar a situação. No dia 23, a Polícia Civil e um administrador da clínica avisaram que ela seria liberada.

De acordo com um médico psiquiatra da clínica, Maria deu entrada no local no dia 17, mas ele só foi informado da chegada dela no dia 22, durante reunião de equipe.

Segundo o homem, a médica que fez a avaliação inicial de Maria colocou uma avaliação na ficha que não condiz com a realidade:

“Paciente com quadro depressivo grave e recorrente, interrompeu o tratamento em agosto de 2022, por conta própria, evoluindo com agravamento do quadro depressivo e posteriormente com quadro de delírio persecutório.”

A médica que emitiu laudo dizendo que Maria aparecida apresentava quadro grave de depressão e delírio e o diretor da Clínica Revitalis devem prestar depoimento na polícia nesta semana. As duas clínicas foram fechadas pela polícia após a repercussão do caso.

Durante o período das internações, Patrícia alugou o apartamento da mãe para o Carnaval. “Foi tudo premeditado. Ela contratou duas faxineiras para limpar o apartamento da mãe e alugou o imóvel. Já estava lucrando enquanto a vítima estava sofrendo nas clínicas”, relatou o delegado.

Patrícia já tinha tentado internar a mãe, pelo Samu, no dia 27 de janeiro. Mas o plano não deu certo. A equipe não constatou nada de errado clinicamente com Maria Aparecida.

“Cidadã de bem”
Nas redes sociais, Patrícia de Paiva Reis dizia ser ‘a favor da família’ e se autodenominava cidadã de bem. Ela posava com armas de fogo e camisetas do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Patrícia, naturalmente, escondia sua ficha corrida. Ela responde a cinco processos por calúnia, estelionato, extorsão e furto em veículo, entre 2019 e 2020.

Justiça negou medida protetiva
Uma semana antes de ser sequestrada, Maria Aparecida de Paiva chegou a ingressar com um pedido de medida protetiva contra Patrícia.

Na ação, ela alegou ter sido vítima de violência doméstica por parte da filha, que se negava a deixar seu apartamento e a ameaçava de internação. A juíza Camila Rocha Guerin avaliou que o caso não se enquadrava no âmbito da Lei Maria da Penha.

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