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Família Bolsonaro é uma grande lavanderia de dinheiro, mostra investigação

Mansão de Flávio Bolsonaro

Há quem não confie no sistema bancário e guarde seu dinheiro em colchões e potes de arroz.

Outros contam com tantas dívidas que abandonam suas contas, pois elas engolem qualquer depósito instantaneamente.

Sem contar os trabalhadores informais, que operam fora do sistema porque o sistema lhes deu as costas. E há a família Bolsonaro.

Uma extensa e meticulosa investigação de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, do UOL, mostrou que Jair Bolsonaro, três de seus filhos, duas ex-esposas, cinco irmãos e até sua mãe compraram mais da metade de seu patrimônio em imóveis usando dinheiro vivo.

Sim, não foi em cheque, DOC, TED e nem PIX, mas muitas, muitas notas.

Desde a década de 1990 até agora, foram 107 imóveis negociados, dos quais 51 adquiridos total ou parcialmente com grana em espécie, segundo declarações dos próprios envolvidos, consultadas em cartórios pelos jornalistas. Em valores corrigidos, isso dá R$ 25,6 milhões.

Não é necessário ser um gênio das finanças para entender que o uso de grandes quantias de dinheiro vivo na compra de imóveis é uma forma usada para lavar recursos de procedência ilegal.

Normalmente, a prática é usada por traficantes, milicianos, golpistas e organizações criminosas para evitar que órgãos do governo, como o Coaf, identifiquem operações esquisitas e as investiguem.

Foi numa “movimentação atípica”, que veio a público no final de 2018 através de matéria no jornal O Estado de S. Paulo, quando ficamos sabendo que o gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro usava funcionários fantasmas que repassavam parte de seus salários de volta ao clã, através do assessor Fabrício Queiroz. O escândalo ficou conhecido como “rachadinha”, mas é corrupção mesmo.

Investigações mostraram que esse dinheiro era sacado em grandes quantias e ia se convertendo em imóveis.

O gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro também apareceu no esquema, que teve de tudo, até repasse de recursos à família de um dos mais temidos milicianos do Rio de Janeiro, Adriano da Nóbrega.

Também há evidências de que Jair usava “fantasmas” da família de uma ex-esposa para desviar salários quando deputado federal.

O fato do atual presidente nunca ter feito parte do centro do poder na época em que era parlamentar, permanecendo fora dos grandes esquemas, fez com que procurasse outras formas de garantir o seu cascalho.

Não foram grandes somas vindas de estatais, mas pequenos desvios dos salários dos servidores.

E o cambalacho não ficava só em compra de imóveis, claro.

Uma reportagem da Folha de S. Paulo já havia mostrado que tanto Jair quanto seus filhos fizeram doações em dinheiro vivo para suas próprias campanhas eleitorais entre 2008 e 2014.

Era comum um membro da família doar a outro. Já presidente da República, Bolsonaro doou R$ 10 mil em dinheiro vivo para a campanha de seu filho Carlos, candidato à reeleição ao cargo de vereador no Rio de Janeiro.

E chegava à vida cotidiana. Queiroz foi gravado por câmeras de segurança pagando boletos de mensalidades escolares das filhas de Flávio usando dinheiro em espécie.

Diante de uma família que usa tanto dinheiro vivo, a criação pelo atual governo da nota de R$ 200 vira uma piada sem graça.

Organizações que atuam no controle de lavagem de dinheiro alertaram que isso ajudaria quem se beneficiava de esquemas porque facilita o uso de malas a fim de transportar grana ilegal. Jair deu de ombros.

Claro que essa discussão é distante para dezenas de milhões de brasileiros que abriram uma conta bancária pela primeira vez em 2020, para poder receber o auxílio emergencial – aquele benefício que seria de apenas um lobo-guará se dependesse do ministro Paulo Guedes, mas o Congresso aumentou para três lobinhos.

Para muitos de seus fãs, o fato de o presidente usar dinheiro vivo seria um exemplo de que Bolsonaro é “gente como a gente”.

Mas não é. “Gente como a gente”.

Ocupa, há décadas, cargos políticos, vivendo com mordomias e não tendo ideia do que é trabalhar na informalidade – bem, não oficialmente, pelo menos.

“Gente como a gente” não enriquece com dinheiro público, muito menos consegue dar tapinha nas costas do juiz que vai analisar o caso do seu filho.

“Gente como a gente” não tem uma família com um vasto patrimônio em imóveis comprados sabe-se lá como e abaixo do radar das autoridades.

Leonardo Sakamoto

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