Depois de verificar que estavam bem acomodados no avião presidencial os filhotes 01, 02 e 03, os ministros mais chegados e o maior rato que já existiu na face da Terra, o capitão Jair Messias ordenou que levantassem voo.
– Pra onde? – perguntou solícito o piloto, sem tirar os olhos do ratão.
– Pra onde houver um navio afundando.
O piloto, sem entender a ordem, olhou para o copiloto que, imediatamente, ligou para o serviço de informações da marinha.
– Quem é responsável pelos navios em afundamento?
– Não seja idiota, cara! – respondeu de lá um mequetrefe descontente. – Navio em afundamento não tem responsável, só tem irresponsável.
– Então me passa o irresponsável de plantão.
Esperou alguns minutos, olhando de banda o ratão.
– Alô? – disse uma voz irritada.
– Você é o irresponsável pelos navios em afundamento?
– Eu mesmo.
– Sabe me dizer onde tem algum navio afundando neste momento?
– Estamos em falta. Todos os que estavam afundando já afundaram.
– Obrigado, cara – agradeceu o copiloto e, virando-se para o piloto, confirmou a informação: – Por ora estão em falta, comandante.
O piloto se voltou para o capitão:
– Sinto muito, capitão, mas afundando não tem nenhum.
FAZER O QUÊ?
O piloto verificou os comandos e viu que estava tudo ok. Olhou para o capitão e percebeu que nem tudo estava ok.
– Desculpe, capitão. Mas por que procura um navio afundando?
– Você quer saber do navio ou prefere saber o que esse ratão tá fazendo aqui?
– As duas coisas, acho – confessou o piloto.
– Explica pra ele, meu chapa – disse o capitão ao escudeiro – Moro –, você que é ministro da injustiça e anda devendo explicações.
– Mas explicar o quê, capitão, se a ideia foi sua?
– Minha, não, a ideia foi do Guedes. Ou do Salles. Alguém sugeriu e eu topei.
– A ideia foi minha, capitão – disse o ministro que tem nome de pedra.
– Ah, eu sabia que tinha sido um de vocês! – vociferou o capitão. – Uma ideia tão idiota só podia ser de um ministro. Explica aí, ó nome-de-pedra.
RATÃO MADE IN USA
Mais que depressa, o ministro nome-de-pedra começou a explicar:
– Estava eu no gabinete jogando porrinha com minha secretária, quando lembrei de um ditado muito popular: “Quando um navio afunda, os ratos são os primeiros a cair fora”. Me pareceu perfeito pra situação atual do Brasil.
– Não entendi – confessou o piloto.
– Vê se eu explicando você entende, porra! – explodiu o capitão. – O Brasil tá uma merda só, não tá? Hein? Tá ou não tá?
– Se o senhor tá dizendo… – anuiu o piloto.
– Pois então? – continuou o capitão. – Faça de conta que o Brasil é um navio e o navio tá afundando. Ficou claro?
– Se o senhor tá dizendo… repetiu o piloto.
– Se o navio, quer dizer, se o Brasil tá afundando como um navio, os primeiros a cair fora são os ratos. Como pensamos em cair fora antes do navio, quer dizer, do Brasil afundar, montamos nesse ratão e agora precisamos de um navio afundando.
– Até aí tudo bem. Mas eu nunca tinha visto um ratão desse tamanhão.
– Isso foi ideia do Guedes – explicou o capitão. – Como o bosta não consegue sair do atoleiro econômico, encomendou esse ratão aí pra gente montar nele e fugir do navio afundando, quer dizer, do Brasil afundando.
– Encomendou de quem? – insistiu o piloto.
– Encomendou da CIA, cara. Ligou pro Trump e na CIA fabricaram esse ratão e mandaram pra nós. A CIA é capaz de tudo, cara! É ou não é?
– Mas mandaram numa boa? – duvidou o piloto. – Sem pedir nada em troca?
– Claro que pediram, meu chapa – riu-se o capitão. – O sacana do Trump pediu a Amazônia em troca. Mas, esperto como sou, ele só vai levar a metade, depois que nossa gente incendiar ela, tudinho. Ele leva metade e o resto fica pra gente criar boi. O nome-de-pedra tá preparando a minuta da escritura pro congresso aprovar.
– Isso aí, papai! – aplaudiram a uma voz os filhotes 01, 02 e 03, felizes por terem um pai tão esperto e tão bom negociador.
Sebastião Nunes