Na sua transmissão semanal ao vivo pelas redes sociais, Jair Bolsonaro tratou na base do “não tem nada a ver” o senador Chico Rodrigues, com quem mantém uma amizade de mais de 20 anos —quase uma “união estável”, segundo sua própria definição.
A investigação que levou a Polícia Federal à casa do senador que escondia R$ 33 mil na cueca envolve o desvio de R$ 20 milhões em verbas da Saúde destinadas a combater a pandemia em Roraima.
Coisa obtida por meio de emendas parlamentares e liberada graças ao prestígio do senador no Planalto. Mas Bolsonaro não tem nada a ver com isso.
O senador exibe outras encrencas no prontuário. Deputado federal, confessou o desvio de verbas de combustível. Governador de Roraima, teve o mandato cassado.
É réu em ação penal sobre apropriação de verbas obtidas por meio de emendas ao Orçamento da União. Conhecendo-o, Bolsonaro achou que seria uma boa ideia nomeá-lo vice-líder do governo. Mas o senador não tem nada a ver com o governo.
Chico Rodrigues presta favores à família Bolsonaro. Seria o relator no Senado da frustrada indicação de Eduardo Bolsonaro para o posto de embaixador em Washington.
Empregou em seu gabinete um sobrinho do presidente, Leo Índio, muito próximo de Carlos Bolsonaro. Mas vincular o senador aos Bolsonaro é algo que não tem nada a ver.
O presidente poderia mandar gravar na sua testa a expressão “nada a ver”. Isso o eximiria de dar explicações.
E pouparia o país do seu ar de aborrecido. Se o Planalto não teve nada a ver com nada durante um ano e nove meses por que teria agora?de Souza
Josias de Souza