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G20 à brasileira: quais pautas o país deve trazer à mesa para a presidência do grupo em 2024?

Brasil preside o G20

O Brasil assumiu oficialmente a presidência do G20 para o ano de 2024 pela primeira vez em sua história. O evento promete ser um dos principais marcos do terceiro mandato do presidente Lula à frente do país.

Compete ressaltar que, há tempos, o G20 se tornou o mais fundamental fórum global para a abordagem de questões econômicas e financeiras do mundo. Todos os anos, por sua vez, um país-membro assume a presidência do grupo, liderando as discussões sobre uma série de problemas urgentes.

Em 2022, a Índia assumiu o papel de presidente do G20, traçando um caminho para o desenvolvimento sustentável, a resiliência climática e um mundo mais equitativo na sequência da pandemia da COVID-19. Com o bastão da presidência agora entregue ao Brasil em 2024, é imperativo examinar a transição dos objetivos da liderança indiana para a liderança brasileira.

O Brasil, aliás, conhecido como uma nação culturalmente futebolística, está tratando a presidência rotativa do G20 como uma espécie de “Copa do Mundo” diplomática, por assim dizer.

Afinal, a reunião do G20 em Nova Deli já havia destacado que o grupo se estabeleceu definitivamente como um dos principais órgãos de governação global do planeta, situação com a qual os países do G7 — o núcleo duro do Ocidente — precisarão lidar como a realidade deste novo século XXI.

O Brasil, por sua vez, pretende usar sua liderança para combater a disparidade existente entre as nações desenvolvidas e em desenvolvimento no plano internacional, assim como a disparidade social existente — em maior ou menor grau — no âmbito de praticamente todos os Estados-membros do G20.

Tal condição exige abordar a desigualdade de renda, de cuidados de saúde, do acesso à educação e do acesso à alimentação de qualidade para uma grande parcela da população mundial.

Ora, a fim de instigar mudanças significativas entre os Estados, primeiramente é necessário dar atenção à redução das desigualdades domésticas dos países, fator bastante repetido pela diplomacia brasileira.

Esse tipo de abordagem “de baixo para cima” — adotada pelo Brasil para a resolução de problemas graves enfrentados por milhões de pessoas em todo o mundo — parece ser, de fato, o único caminho viável para a promoção do desenvolvimento sustentável global.

Não obstante, como líder do G20 em 2024, o Brasil também continuará a abordar os principais problemas associados ao neoliberalismo promovido pelo Ocidente.

O neoliberalismo, aliás, como vertente do pensamento econômico nascido na Europa em meados do século XIX, enfatiza uma intervenção governamental limitada na sociedade, a desregulamentação, a privatização e o capitalismo de livre mercado, preferencialmente sem quaisquer restrições.

Embora essa vertente de pensamento tenha sido adotada a nível mundial e em larga escala, sobretudo durante a década de 1990 como parte do chamado Consenso de Washington, isso acabou por exacerbar a desigualdade entre as nações, mesmo dentro das nações, dada a concentração desproporcional de riqueza em algumas poucas mãos e o não atendimento de necessidades básicas de grandes parcelas da população mundial, que terminaram marginalizadas.

Sob a presidência da Índia do G20 em 2023, uma grande preocupação era justamente a inadequação das políticas econômicas neoliberais na abordagem dessas questões.

Sendo um país com um longo histórico de desigualdade e disparidade sociais, o Brasil deve pressionar por um sistema econômico global mais equitativo em 2024, aproveitando sua liderança rotativa do G20 para levantar as deficiências do neoliberalismo no tocante à promoção de uma condição mais justa para aqueles menos favorecidos.

O Brasil, além do mais, deve enfatizar também a necessidade de mudanças substanciais no sistema financeiro global, que testemunhou vários distúrbios recentes, incluindo a crise financeira de 2008, a pandemia de COVID-19, o aumento no preço dos combustíveis em 2022, entre outros.

Vale lembrar que a necessidade de reformas que visem à criação de um sistema financeiro mais estável e resiliente tem sido uma questão recorrente nas discussões do G20, o que já não é de agora.

Tais reformas envolvem medidas para melhorar a regulamentação dos fluxos de capital entre os Estados, assim como a proteção contra futuros choques econômicos globais para os países mais vulneráveis do sistema.

Valdir da Silva Bezerra

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