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General Rêgo Barros, Tasso e Merval indicam que militares e elite decidiram-se pelo impeachment de Bolsonaro

Impeachment de Bolsonaro está sendo aquecido

Num ataque sem precedentes de um militar de alta patente a um presidente da República pelo menos desde a redemocratização do país, o general Otávio Santana do Rêgo Barros praticamente deu a senha para o apoio das Forças Armadas ao impeachment de Jair Bolsonaro.

Com o apoio declarado do senador  Tasso Jereissati à derrubada de Bolsonaro e o artigo de Merval Pereira, porta-voz oficioso dos Marinho já antecipando clima de “tranquilidade” num eventual governo do general Mourão, as elites brasileiras indicam que o tempo de Jair Bolsonaro acabou e, em aliança com a esquerda, devem caminhar para o impeachment.

Rego Barros foi porta-voz de Bolsonaro de janeiro de 2019 a outubro de 2020 e deixou a função rompido com o ex-chefe.

Passou para a reserva em 2019, mas é um general respeitado na cúpula militar.

Em seu artigo, diz que o desejo de Bolsonaro de transformar as Forças Armadas “em uma estrutura de apoio político afronta tudo o que defendem as Forças Armadas em sua atitude profissional”.

Afirma que o atual presidente busca “adentrar as cantinas dos quartéis com a política partidária”.

Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB, é um líder respeitado na direita e no empresariado -ele também é empresário multimilionário.

Os dois fizeram, em seus pronunciamentos, referência direta ao estado emocional-mental de Bolsonaro.

Para Rêgo Barros, “o amadurecimento intelectual – característica marcante na formação dos atuais chefes – não esteve presente em sua trajetória [de Bolsonaro]”; Jereissati diz ter  “dúvida até sobre seu equilíbrio mental”.

Com o artigo de Merval Pereira, há uma clara indicação de que a constelação político-empresarial, midiática conservadora e da cúpula militar pela derrubada de Bolsonaro está configurada.

Leia a seguir a íntegra do texto do general Rêgo Barros:

Estamos diante de uma crise política que se avoluma diariamente, com efeitos não totalmente mensurados, embora eu não acredite que venha a se tornar institucional. Os sistemas de freios e contrapesos ajustarão a temperatura.

As mudanças constantes e atabalhoadas da gestão, às vezes deslocadas dos princípios mais salutares das democracias maduras, vêm promovendo preocupações em todos os estamentos da sociedade.

O chefe do poder executivo, por vezes, intenta estabelecer uma ligação emocional entre as suas deliberações e a instituição de Estado: Forças Armadas.

O processo deliberativo é arcaico. Está longe de tangenciar aquilo que é defendido no âmbito do estamento militar. Modernas ferramentas de profissionalização foram introduzidas nos atuais integrantes das Forças Armadas.

Na Academia Militar das Agulhas Negras, uma frase lapidar nos impacta diariamente ao avançarmos para o rancho, marchando no Pátio Marechal Mascarenhas de Moraes: “Cadete ides comandar aprendei a obedecer”.

  Mas a roupagem é contemporânea, não é antolhada, e lembra as lideranças que privilegiam a flexibilidade, o trabalho em equipe e o êxito individual como estímulo. É o co(+)mandar. Mandar com.

O mandatário não é mais um militar. Ele detém, tão somente, uma carta patente que indica ter obtido, em um determinado momento da vida, os requisitos para exercer as funções intermediárias na hierarquia da oficialidade das Forças Armadas.

O amadurecimento intelectual – característica marcante na formação dos atuais chefes – não esteve presente em sua trajetória.

Permaneceu como aluno, cadete e oficial cerca de quinze anos. Como político, mais de trinta anos. Naturalmente os atributos que lhe foram ensinados, enquanto militar, ficaram pelo caminho, substituídos por conceitos não aplicados dentro de uma instituição como é o Exército Brasileiro.

Seu aparente desejo de transformar essa centenária instituição, detentora dos mais altos índices de confiabilidade, em uma estrutura de apoio político, afronta tudo o que defendem as Forças Armadas em sua atitude profissional.

Buscar adentrar as cantinas dos quartéis com a política partidária é caminho impensado para as Forças Armadas. Elas já estão vacinadas contra esse vírus.

Não se pode também aceitar uma transformação no core da instituição Forças Armadas, cambiando as cláusulas pétreas que as sustentam secularmente: hierarquia e disciplina, pilares para o exercício da função de constitucional, conforme sobejamente referendado pelos nossos comandantes.

É preciso deixar claro, entretanto, que não há nenhum sinal de alerta pulsando.

A profissionalização castrense ultrapassa amadorismos atemporais que possam prejudicá-la.

As lideranças estão atentas: as de ontem, as de hoje e as de sempre. As ideias de legalidade, legitimidade e estabilidade permanecem indicando o caminho. E as Forças Armadas diariamente reforçam a sua imunidade.

General  Rêgo Barros,

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