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EUA estudam adoção de política de redução de danos para conter morte por overdose

Scott Gottlieb, representante do FDA, defendeu também redução do estigma entre aqueles que passam por abstinência após usar opioides para dores relacionadas a doenças crônicas, como o câncer. "Isso é diferente de ser viciado", defendeu. (Foto: Eduardo Munoz/Reuters )

Para conter mortes por overdose de medicamentos e heroína, os Estados Unidos planejam incentivar o uso de drogas do tipo opioides menos nocivas, como metadona e buprenorfina, entre os americanos que passaram por uma oversose não letal. As informações são da agência Reuters.

Sem a indução de abstinência, essas drogas podem ser usadas na transição para o tratamento de abstinência de drogas mais fortes, como o OxyContin — o derivado do oxicodona, análogo sintético da morfina usado para dores crônicas fortes.

A iniciativa é consistente com políticas de redução de danos — que defendem que a substituição de substâncias ajudam a diminuir o uso. A defesa da política, feita pelo FDA (orgão americano equivalente à Anvisa) na quarta-feira (25), é polêmica e pode gerar reações entre os defensores de políticas de abstinência.

O uso de drogas como o OxyContin e heroína têm levado a uma crise de saúde pública nos Estados Unidos. O uso de opioides no país causam um’11 de Setembro’ em mortes a cada três semanas, ceifando a vida de 142 americanos por dia.

“A epidemia de vício em opioide que está devastando o nosso país é a maior crise de saúde pública enfrentada pelas autoridades de saúde”, disse Scott Gottlieb, representante do FDA (Food And Drug Administration, na sigla em inglês).

Gottlieb foi chamado à Câmara de Deputados americana para prestar depoimento nos esforços para o combate do problema. A transcrição do depoimento foi divulgada pelo FDA.

Medidas duras

No depoimento, Gottlieb disse que as medidas do FDA serão “duras” — o que pode incluir educação mandatória de médicos e restrições severas na prescrição. Para Gottlieb, a prevenção também não será suficiente — e, por isso, defendeu o uso de drogas menos nocivas.

Gottlieb citou dados do estado de Massachusetts que mostraram uma redução de mais de 50% no risco de morte por sobredosagem entre aqueles tratados com metadona ou buprenorfina após uma overdose, informa a Reuters.

De acordo com a agência, o plano de Gottlieb reflete sua recente proposta de reduzir a nicotina nos cigarros, ao mesmo tempo que amplia o acesso a dispositivos de entrega de nicotina potencialmente menos prejudiciais, como os cigarros eletrônicos. Ambas as propostas abrangem uma abordagem do abuso de substâncias que visa reduzir o dano ao invés de insistir na abstinência completa.

O presidente Donald Trump deverá declarar a epidemia de opiáceos uma emergência nacional esta semana, dois meses depois de declarar sua intenção de fazê-lo. Não está claro se tal declaração será acompanhada por mais fundos para resolver o problema, diz a Reuters.

O FDA também emitirá orientação para os fabricantes de medicamentos para promover o desenvolvimento de novos tratamentos que não induzam dependência, informa a agência. O interesse da agência é em produtos inovadores que não deflagrem abstinência.

Diferença entre dependência física e vício

O representante do FDA também defendeu a redução do estigma entre aqueles que precisam da droga, muitas vezes durante a vida inteira, para conter um problema de saúde.

“O estigma reflete uma visão que alguns têm; que um paciente ainda sofre de dependência mesmo quando está em plena recuperação, apenas porque eles precisam de medicação para tratar sua doença”, disse.

“Essa atitude revela uma interpretação errada da ciência. Isso decorre de um mal-entendido fundamental que muitos de nós temos, da diferença entre uma dependência física e um vício.”

No depoimento, o representante do FDA explicou sua posição. De acordo com ele, devido à biologia do corpo humano, todos os que usam opioides por qualquer período de tempo desenvolvem uma dependência física — o que significa que há sintomas de abstinência após a interrupção do uso.

Mesmo um paciente com câncer, diz ele, que requer tratamento a longo prazo para o manejo adequado da dor metastática, desenvolve uma dependência física da medicação opióide.

G1

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