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Homofóbicos podem ser homossexuais reprimidos, afirmam cientistas

Eu tinha 16 anos e ficava com uma menina que ia estrear na passarela em um evento de moda. Fomos eu e o irmão dela, da mesma idade que eu. Fomos para prestigiá-la e também porque o agente tinha visto no irmão um grande potencial para também seguir a carreira de modelo.

 

Quando entramos no backstage após o desfile, o agente, homossexual assumido, cuidava dos trâmites finais de camarim gesticulando, rindo e balançando as mãos de forma bem estereotipada. Normal né? Mas ao ver aquela cena, o irmão da menina cerrou dentes e olhos enfurecidos, deu meia volta e saiu. Transtornado, disse à irmã que nunca iria “entrar num negócio que só tinha ‘viado'(sic)”. “Pouca vergonha… Eu sou é homem, porra”. Eu particularmente vi mais do que raiva naquela cena. Mesmo sem entender, eu vi um pouco de medo. Mas relevei aquilo. Afinal, medo do que? Logo ele, que xingava, chutava e perseguia um colega de classe notavelmente afeminado.

 

Oito anos depois, o vejo de mãos dadas com seu namorado. Não fiquei surpreso, porque já tinha lido as pesquisas de Harry Adams. Em 1996, ele e outros pesquisadores da University of Georgia (EUA), realizaram uma pesquisa com mais de 70 pessoas, que foram divididas em dois grupos: homofóbicos e não-homofóbicos. Esses grupos foram caracterizados a partir de entrevistas prévias com os participantes, que depois tinham que assistir a vídeos eróticos com aparelhos ligados para medir excitação sexual. Os autores mostraram que a maioria dos homofóbicos, bem como os não homofóbicos, ficaram excitados com vídeos de cena heterossexual. Porém, a maior parte dos homofóbicos também ficou excitada ao ver cenas de conteúdo homossexual, enquanto os não homofóbicos não apresentaram excitação.

 

É uma pesquisa antiga, de fato. E ainda há trabalhos indicando isso desde a década de 80, como o dos norte-americanos Walter Hudson e Wendell Ricketts. Entretanto, outros estudos desde então tem reforçado essa ideia de forma cada vez mais consistente. Um artigo mais recente e de caráter muito mais complexo, envolvendo quase 800 pessoas, foi conduzido nos Estados Unidos e Alemanha por Netta Weistein e sua equipe. Os pesquisadores indicaram que 20% das pessoas que se demonstravam agressivas contra homossexuais apresentavam desejos por pessoas do mesmo sexo, de acordo com os testes. O trabalho ainda mostra uma correlação muito forte entre homofobia e um histórico de educação rígida dos pais, onde os filhos possuem pouca autonomia. Como essas crianças crescem em um ambiente muito repressor, a não aceitação do próprio desejo passa a ser transferida para a não aceitação social da homossexualidade.

 

Essa amostra é um reflexo da nossa sociedade. Há, por exemplo, grupos extremamente conservadores que são capazes de promover boicote a uma marca de perfumes, porque essa resolveu colocar casais gays em sua campanha publicitária. Felizmente, as lutas sociais atreladas a pilhas de informações históricas e científicas sobre o tema conseguiram, a muito custo (e até sangue), mostrar para uma parcela enorme da sociedade que esse padrão homofóbico, antigamente normalizado, é atualmente inaceitável.

 

Embora ainda falte muito a ser feito, não tenho dúvidas de que os homofóbicos de hoje pensarão duas vezes antes de, no futuro, contar aos netos e bisnetos sobre os impropérios que eles falavam e faziam contra homossexuais.

 

Fonte: Por hugofernandesbio

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