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Será que o controle da obesidade infantil não pode ser mais divertido?

Nutricionista propõe uma abordagem mais positiva para enfrentar um dos principais desafios do Brasil e do mundo

Com o crescimento da obesidade pelo mundo e o conhecimento de seus impactos na saúde e na autoestima das crianças, muitos pais acreditam que precisam falar sobre excesso de peso e restrição alimentar com seus filhos. No entanto, essa não parece ser a melhor estratégia para engajar os mais novinhos a ter um estilo de vida saudável.

A família tem papel fundamental no combate à obesidade infantil, mas o discurso e os alertas sobre o peso, bem como a proibição de certos alimentos, se mostram medidas contraproducentes. Pior: elas ainda estão associadas ao desenvolvimento de transtornos alimentares, caso haja suscetibilidade.

Pare para pensar: se pedirmos para você não pensar em uma maçã, o que lhe vem à cabeça? A mesma lógica se aplica à restrição de guloseimas e afins para as crianças.

Há outro caminho, bem mais efetivo. E se a dieta dos pequenos fosse pautada pela inclusão de novos alimentos e novas receitas e na participação ativa dos pais em todo o processo? E se eles se comprometessem a escolher melhor a comida que entra em casa, a preparar lanches bacanas e equilibrados e a realizar mais refeições em família?

Para que essa proposta funcione, devo destacar quatro mensagens:

  1. Se a criança está acima do peso, precisa de acompanhamento e tratamento. Quanto antes, melhor. Muitas doenças associadas à obesidade já aparecem na infância. Falamos de diabetes, pressão alta, gordura no fígado, problemas osteoarticulares… Sem contar que é grande a probabilidade de uma criança com excesso de peso se manter assim na vida adulta, especialmente se não emagrecer até a puberdade.
  2. Falar sobre dieta, peso e restrições traz impactos negativos que podem atravessar gerações. Um estudo recente investigou o efeito do discurso dos pais acerca do peso e da alimentação na próxima geração e constatou que os adolescentes que receberam encorajamento para fazer dieta transmitiram a mesma mensagem para seus filhos 15 anos mais tarde. Além de endossar regimes restritivos, esses pais reclamavam sobre a própria imagem corporal na frente dos familiares.
  3. Para cuidar de uma criança com sobrepeso ou obesidade, é preciso que o profissional de saúde e os pais estejam cientes de que esse é um processo de aprendizagem, que ocorre em longo prazo e tem o objetivo de incorporar novos hábitos. O comportamento alimentar é estabelecido nos primeiros anos e repercute ao longo de toda a vida. Sempre é hora de mudar, mas, de novo, quanto antes isso acontecer, melhor.
  4. A disponibilidade de alimentos saudáveis, a companhia durante as refeições, o local e o número de refeições diárias… Todos esses pontos interferem nas escolhas alimentares da criança. E a família tem papel fundamental em cada uma dessas etapas.

Dra. Mariana Del Bosco, nutricionista

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