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A LOUCURA ENTRE NÓS É DOCUMENTÁRIO POLÊMICO

CINEMA: DOCUMENTÁRIO

A Loucura Entre Nós, dirigido por Fernanda Fontes Vairelle, Brasil (Bahia), 2015. Todo soteropolitano que se preze já ouviu falar do Hospital Juliano Moreira; e todo artista certamente desta terra miscigenada já deve ter ouvido, ao menos uma vez na sua vida, alguma frase do tipo: “ Rapaz, se você continuar agindo assim foi te levar para o Juliano Moreira, por isso se plante, viu? ”.

O hospital Juliano Moreira era, e ainda é o centro público psiquiátrico do estado, e não só mais o importante e lendário de Salvador, mas do estado da Bahia como um todo, e ainda das suas redondezas como os estados de Sergipe e das Alagoas.

O documentário adentra na vida destes internos e instala uma câmera 24 horas a fim de captar as reações daquelas pessoas doentes mentalmente desprovidas do mais importante para qualquer ser humano: A capacidade de entender o mundo a sua volta e conseguir conviver socialmente com ele, ou ao menos conseguir “bater uma bola” com a sociedade e esta os aceitarem como pessoas “comuns”.

Seria a situação destes internos uma questão de carma de vidas passadas? Dúvidas deste crítico deixadas a parte, porque neste momento não seria a coisa mais importante para a compreensão de um documentário “pra lá” de complexo por mexer pela falta de sanidade dos seus personagens reais fazendo seus próprios papéis de vida.

Como crítico de cinema e apesar da produtora executiva do filme ser minha conhecida (Amanda Gracioli), não poderia deixar de comentar a falta de ética da direção do filme em colocar uma câmera ligada vinte quatro horas por dia e noite, captando aquela gente defecando nas calças ou nas camas ou até no chão mesmo, delirando, se agredindo, vomitando, comendo restos, dormindo em situações precaríssimas, vivendo ao redor de ratos podres, tendo relações entre si de uma espécie explicita , e outras cositas mais.

Embora sejam enfermos mentais, alguns com mais e outros com menos transtornos, mas acho inadmissível a falta de caráter que o documentário teve em expor estas pessoas sofríveis nas suas rotinas , que não são exatamente as nossas rotinas; então achei uma baita falta de bom senso e até de oportunismo explorar a imagem deles dessa forma completamente desumana e insana, até talvez bem mais insana do que a mente dos próprios enfermos internados por livre e espontânea pressão da sociedade e familiares.

Claro que fica nítido também o envolvimento emocional da diretora Fernanda no filme, em especial com duas internas das quais ela dá uma atenção maior para contar as suas estórias de vida, de que forma chegaram lá e porque ainda se encontram no Juliano Moreira. São duas histórias de vida sensacionais.

Quero crer que no afã da emoção a diretora e seu corpo de filmagem não perceberam que estava trocando “os pés pelas mãos” por invadir demasiadamente a privacidade dos internos do Juliano Moreira, deixando uma câmera o tempo todo ligada registrando tudo e mais um pouco; todavia se a diretora tinha essa lucidez e mesmo assim o fez, não tem como desculpá-la por se tratar de princípios básicos de ética para qualquer ser humano, seja este doente ou não.

Também seria injusto da minha parte em escrever que o filme não emociona.

Acompanhar relatos de pessoas puras e cristalinas, como a água, de fato não tem como não se emocionar pelo estado em que se encontram.

Um documentário forte, mas que poderia ter uma pegada mais leve respeitando o espaço e a situação que outros se encontravam por uma questão de carma de vidas passadas que pagam com juros e correções monetárias nesta vida para virem mais evoluídas numa próxima reencarnação.

Enfim, trata-se de um documentário que teve um deslize ético, ao meu ponto de vista, mas que “se remede” por permitir que pessoas ditas normais possam sentir na pele o que é ser outra pessoa dita como não normal ou enferma, ou mentalmente perturbada, como queiram classificá-las. Por este aspecto o documentário vale muito ser visto.
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House Of Cards( Primeira e Segunda temporada), de Vários diretores, EUA, 2016. Se olharmos só um pouco mais pra trás , com o Temer sendo um vice totalmente vegetativo da Dilma, veremos que a série mais vista da Netflix tem muita coisa em comum com nossa política atual.

Na primeira temporada da série, leia-se 13 episódios com cinquenta minutos cada, temos o líder no congresso do partido dos democratas como protagonista, Frank, que torna-se vice presidente dos EUA na segunda temporada.

Um sujeito bem audaz e periculoso, mas inteligente também. Ao seu lado se tem Claire, sua fiel esposa e jogadora do ramo político.

O casal, ou melhor, os parceiros dão o tom e as cartadas da trama onde vemos as tramas políticas de Washington D.C. bem mais de perto e transparentes.

No decorrer dos episódios entram e saem personagens importantes que fazem a trama rodar, porém estes são marionetados sempre pelo casal, que nem sempre parece ser um casal, apostando suas emoções ( se é que as têm) em nome do poder.

Frank, logo de inicio quebra a quarta parede e vem conversar com o espectador indagando uma afirmativa:

” Existem dois tipos de pessoas: as que gostam mais de dinheiro e as que gostam mais de poder, me incluo na segunda lista e você?” .

A quarta parede vira marca registrada da série ; isso quem agradece é o público, pois a cada artimanha ou estratégia política, o Frank nos deixa mais atentos já que é uma sacanagem atrás da outra atrás do poder, e quem pensa que pode se colocar fora desse jogo está redondamente enganado, pois é engolido pelo jogo querendo ser manipulado ou não, afinal estamos vivendo na bolha, então ou você sopra pra um lado ou pra outro , e não tem jeito: uma hora alguém saberá seu ponto fraco e bingo!

Você perdeu achando que iria ganhar. Os episódios são viciantes, não consigo parar de assistir, passo o dia todo vendo.

O poder tem essa magia de colocar tudo em um mix (ambições, emoções humanas, família, fraquezas, etc) e te sacudir, de modo que não dá pra não ver essa excelente série ( ainda bem que tem 4 temporadas).

Diversão com inteligência garantida, e não venha dizer que a série não te pegou, porque pega geral querendo ou não porque o sistema é bruto e só os mais fortes e preparados sobreviverão.

Diogo Bern

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