Tempo - Tutiempo.net

Nando Reis homenageia Roberto em novo disco lançado nas plataformas digitais

Nando Reis homenageia o Rei em novo álbum (Foto: Jorge Bispo/Divulgação)

O novo disco do cantor, compositor e músico Nando Reis em homenagem ao Rei está nas plataformas digitais desde a sexta-feira da Paixão (19), data em que Roberto completou 78 anos. ‘Não Sou Nenhum Roberto, mas às Vezes Eu Chego Perto’ reúne 12 faixas com releituras das canções do Rei e tem produção de Pupillo (ex-baterista da Nação Zumbi) e direção artística de Marcus Preto.

Há muito tempo Nando flertava com a obra do Rei. Na década de 70 como ouvinte e nos anos 80 e 90 como músico profissional. Em 96 Nando compõe ‘Nenhum Roberto’, sucesso na voz de Cássia Eller e no ano seguinte divide o palco com o ídolo. “Em 1997 participei com os Titãs no especial do Roberto de Natal. Cantamos ‘Pra dizer adeus’ (Nando Reis/Tony Bellotto) e ‘É Preciso Saber Viver’ (Roberto e Erasmo)“, relembra.

A ideia do projeto começou nas férias de 2016, quando Nando e a esposa Vânia partiam para mais uma temporada no sítio da família no interior de São Paulo. No carro, além das malas e mantimentos, o artista levou o violão e uma caixa com 10 ou 12 discos de Rei. “Sempre tive uma relação forte com a música do Roberto, quis dar uma roupagem pessoal, mostrar a importância dele dentro da minha história“, relata.

Quando Roberto viu a lista das canções pré-selecionadas, bloqueou duas: ‘Detalhes’ e ‘De Tanto Amor’, ambas de 1971. Embora considere a primeira uma obra-prima, Nando lutou pela segunda. A música, apesar da tristeza inerente à sua letra, possui uma bela melodia e foi, também, parte de toda simbologia do casamento entre Nando e Vânia, que possuem mais de 30 anos de história juntos. Roberto voltou atrás com essa, que foi gravada e entrou como segunda faixa do álbum.

Canção mais nova do repertório, ‘Alô’ (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) é de 1994 e abre o disco. Nando considera a melodia arrebatadora. Lançada em 1979, ‘Me Conte a Sua História’ (Mauricio Duboc/ Carlos Colla) foi uma das últimas finalizadas no estúdio, devido à complexidade de encaixar um arranjo que satisfizesse a completude da música, uma das preferidas de Nando. “Pupillo foi genial quando sugeriu o arranjo que ficou gravado. E é uma música em que fiz uma intervenção. Durante a gravação, encaixei na música versos de um poema de minha autoria”.

‘Amada Amante’ é um clássico romântico e foi uma das faixas em que Nando fez questão de manter um arranjo semelhante ao original de 1971. “Não acho que haja uma necessidade de desfigurar versões originais sempre que se regrava uma música. Muitas vezes, a beleza da música está nela própria, na sua essência tal como está, por isso decidi manter o arranjo da canção original”.

‘Abandono’ não tem refrão e traz o enredo de uma narrativa poética. Escrita por Márcio Greyck e Cobel, ‘Vivendo Por Viver’ (1978) foi uma das primeiras escolhas definitivas para o disco. Nando relembra: “A melodia é incrível, eu amo. Retrata, sobretudo, a beleza, mesmo que haja dor na letra. Foi uma das que mais gostei de regravar”.

Nando ouviu uma versão de ‘Nosso Amor’ (Mauro Motta/ Eduardo Ribeiro) feita por Marina Lima em 1980 e então passou a tocá-la em seus shows, muito antes da ideia de conceber o álbum. “Fiz um arranjo inspirado na versão de ‘Vapor Barato’ (Jards Macalé/ Waly Salomão) da Gal Costa. Tentei fazer com que o arranjo encadeasse Roberto dentro de uma perspectiva que solucionasse a complexidade da canção”.

 ‘Todos Estão Surdos’ (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) é a primeira das três contidas no disco com cunho religioso. “Para mim, o desafio era mais amplo ainda. Eu tenho uma maneira diferente de pensar, não sou um homem exatamente religioso. Mas também, ao meu ver, a grande divindade da música está na forma como ela foi concebida”. Em ‘Nossa Senhora’, Nando se inspirou em João Gilberto para recriar a canção em arranjo instrumental.

Escrita por Roberto e Erasmo em 1976, ‘Você em Minha Vida’ foi o gatilho para Nando decidisse, na viagem de férias a Jaú, dar sua própria versão à obra de Roberto Carlos. “Ela abriu toda a perspectiva para a concepção da obra em si, depois que fui tirando as canções no violão e notando a beleza enorme delas. O arranjo de cordas ficou lindo”.

‘Procura-se’ (1980) é parceria bissexta entre Roberto e Ronaldo Bôscoli e marca a reaproximação de Nando com Bôscoli, citado de forma crítica na canção ‘Nome aos Bois’, dos Titãs, de 1987. “Acho que hoje em dia eu deixei aquela intolerância juvenil de lado. Ao Ronaldo, peço uma reconsideração por ter incluído seu nome naquela canção tão áspera, reconhecendo a beleza não só desta, mas de tantas outras canções que compôs”.

‘Guerra dos meninos’ (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos), ganha roupagem especial com a dramaticidade e o tom épico do multiartista Jorge Mautner. “Essa canção tem uma história engraçada. Fui encontrar minha filha Sophia enquanto ela viajava pelo Peru. Passeando pelo centro de Cuzco, vi a versão da música em espanhol, ‘La Guerra de Los Niños’, e fiquei impactado com aquilo. É de uma beleza insuperável a narrativa da guerra entre o Bem e o Mal transposta ali. E de como os meninos que combatem nela a encaram. Eu interpreto como sendo um observador, com um olhar clínico e sensível àquela narrativa”. A escolha de Mautner foi justamente pelo fato do compositor carioca ter encarado tais questões como a existência de Deus, do Bem, do Mal, do céu e do inferno de forma visceral durante sua carreira. “Ele teve um papel muito importante em minha vida. Ninguém melhor do que ele para ter dado vida à canção”, finaliza.

Jornal do Brasil

OUTRAS NOTÍCIAS