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Personalidades lançam manifesto anti-Bolsonaro, candidato do saudosismo autoritário

FAMOSOS CONTRA BOLSONARO

Mais de 350 personalidades brasileiras, entre atores, cantores, artistas, cineastas, professores, chefs de cozinha, economistas, escritores, jornalistas e empresários, lançaram um manifesto suprapartidário contra a eleição do candidato de extrema-direita e do saudosismo autoritário Jair Bolsonaro, pela “ameaça” que ele representa à democracia.

Pela primeira vez em quase 30 anos, desde o segundo turno da eleição de 1989, quando Fernando Collor derrotou Lula, setores progressistas se juntam contra um candidato.

“Prezamos a democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós”, diz o texto. “Não são, certamente, poucos os desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.”

Mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial.

É preciso recusar sua normalização e somar forças na defesa da liberdade.

Assinam o manifesto nomes como o dos cantores Gilberto Gil, Caetano Veloso, as atrizes Camila Pitanga e Fernanda Torres, o humorista Gregório Duvivier, a chef Bel Coelho, o ex-presidente da Petrobras Philippe Reichstul, a cartunista Laerte, os escritores Lílian Schwarcz, Milton Hatoum e Fernando Morais, o rapper Mano Brown, o jurista (e autor do pedido de impeachment de Dilma) Miguel Reale Jr., os cineastas Fernando Meirelles e Luis Bolognesi, o diretor de teatro Ivam Cabral, a cientista política Esther Solano… E a lista continua a receber adesões, no site criado para difundir o manifesto.

Os signatários fazem questão de destacar que são um grupo heterogêneo: tem gente ali que vota não só em Haddad ou Boulos, mas em Marina, em Ciro, em Alckmin, provavelmente até no Amoêdo ou no Meirelles.

O que os une é a repulsa por um candidato que, se eleito, fará o Brasil retroceder à época da ditadura militar. O texto lembra a diferença entre divergir dentro da democracia e simplesmente abrir mão dela como o melhor sistema.

“Podemos divergir intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais ou ambientais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação. Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de ideias e projetos no debate público”, diz o texto.

Entre os signatários, há quem vota em Haddad, Boulos, Marina, Ciro, Alckmin, provavelmente até no Amoêdo ou no Meirelles. O que os une é a repulsa por um candidato que, se eleito, fará o Brasil retroceder à época da ditadura militar.

“Quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático.”

O texto faz referência à defesa, pelo vice de Bolsonaro, o general Mourão, de que seja feita uma nova Constituição sem deputados eleitos pelo povo, e sim através de uma comissão de notáveis escolhida pelo presidente.

Mourão também defendeu a possibilidade de o presidente fazer um “autogolpe” com apoio das Forças Armadas “em caso de anarquia”. A defesa do uso de tortura já foi repetida pelo próprio candidato do PSL inúmeras vezes, assim como as declarações xenofóbicas e discriminatórias.

Líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários
“Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários”, afirma o manifesto.

“É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.”

Em 1989, no segundo turno, Mário Covas, do PSDB, e Leonel Brizola, do PDT, se uniram para apoiar Lula, do PT. De que lado ficará a Globo desta vez?

Em 1989, como em 1964, optou pelo reacionarismo e apoiou Collor, que ganhou, para sofrer impeachment dois anos depois. Se bem que, comparado a Bolsonaro e seu bando de nostálgicos da ditadura, Collor parece a fina flor do progressismo.

JM

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