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Dianne Reeves canta hoje no theatro municipal com guitarrista brasileiro

(Foto: Divulgação)

Já são mais de 20 anos de amizade e parceria, com quatro prêmios Grammy e centenas de shows, em uma colaboração luxuosa ao ponto de merecer o palco do Theatro Municipal, onde o guitarrista e violonista brasileiro Romero Lubambo sobe hoje com Dianne Reeves, uma das mais consagradas cantoras do jazz americano atual, acompanhada ainda por baixo de Reginald Veal, o piano de Peter Martin e a bateria de Terreon Gully.

Hoje, é difícil pensar em Dianne Reeves sem Romero Lubambo e vice-versa – uma associação tão forte que só se ressalta ao lembrar que, quando uniram forças, ambos já tinham sólidas carreiras em projetos separados, como continuaram tendo.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1955, o guitarrista já morava desde 1985 nos Estados Unidos, onde havia baseado sua carreira, quando conheceu a cantora, em meados de década seguinte. “a primeira vez que trabalhamos juntos foi a convite do [pianista] César Camargo Mariano para ir ao Brasil juntamente com [o saxofonista americano] Michael Brecker e Ivan Lins

. Fizemos os shows no Brasil em 1997 e nunca paramos de trabalhar juntos depois disso”, recorda Lubambo, que sempre manteve uma ponte com o Brasil, inclusive musicalmente, desenvolvendo um forte trabalho de jazz em violão.

“Aprendi muito sozinho já que, quando era novo, não tinha professor para improvisação. Desenvolvi minha técnica comigo mesmo. Claro que ouvi muita música boa: Wes Montgomery, George Benson, Baden Powell, Hélio Delmiro, até Jimi Hendrix, John Scofield, [Andrés] Segovia, e todos os grandes músicos, não só de guitarra mas todos os instrumentos.

E o processo ainda continua hoje e sempre, tentando sempre melhorar a técnica. Estudei música clássica, que ajudou muito a entender a música em geral também”, explica o guitarrista.

Um ano mais nova que ele, Dianne Reeves, nascida em Detroit, criada em Denver e, depois radicada em Los Angeles, já havia tido contato prático direto com a música brasileira, tendo cantado com o grupo de Sérgio Mendes no início dos anos 1980, antes de começar a gravar seus álbuns solo, a partir de “Welcome to My Love”, em 1982. Foi o primeiro de seus 19 álbuns, sendo 15 de gravações inéditas em estúdio, dois ao vivo, um especial com canções de Natal e uma trilha sonora, do filme “Boa noite, boa sorte”, em 2005.

Com a presença de Lubambo, foram seis, além de uma participação especial dela com o Trio da Paz, que Lubambo integra com o baixista Nilson Matta e o baterista Duduka da Fonseca – no álbum “Café”, de 2002, Dianne cantou “Love is here to stay”, canção dos irmãos Gershwin que passou por vozes como as de Ella Fitzgerald e Frank Sinatra e que pode estar no repertório de hoje.

Do set list, Lubambo adianta “That’s All” (Alan Brandt e Bob Haymes), “Minuano” (Pat Metheny) e “All Blues” (Miles Davis). Um standard, a primeira também foi gravada por Sinatra, além de Nat King Cole e Mel Tormé, entre outros. Originalmente instrumentais, as outras duas são cantadas por Dianne em scats – improvisos vocais jazzísticos, sem letra. Para quem quiser conferir um teaser antes de assistir, o YouTube tem uma gravação de Dianne cantando “Minuano” com o próprio Metheny, em 2016, nos jardins da Casa Branca, em uma breve versão de dois minutos e meio.

“Dianne já havia trabalhado um tempo com Sérgio Mendes antes de me conhecer e já tinha noção boa de muita coisa da gente, mas estou sempre trazendo Edu Lobo, Dori Caymmi, Ivan Lins, João Bosco, Jobim e tudo mais que eu gosto do Brasil. E para mim tem sido maravilhoso trabalhar com o que há de melhor da tradição americana em voz e com a banda também: blues, swing, funk, pop music, estou sempre aprendendo com quem realmente vive isso”,

elogia Lubambo, que, com Edu Lobo e o saxofonista Mauro Senise, ganhou, no ano passado, o Grammy Latino de melhor álbum de MPB, por “Dos Navegantes”.

Com Dianne Reeves, ele tocou e fez arranjos em quatro dos cinco álbuns em que ela faturou o Grammy de melhor cantora de jazz: o ao vivo “In the moment – Live in concert” (2001), e os de estúdio “The calling: celebrating Sarah Vaughan” (2002), “A little moonlight” (2004) e o mais recente “Beautiful life”, de 2014, que baseia boa parte do set list de hoje.

Com repertório bem eclético, ele pende para o pop, indo do standard “Stormy Weather” a sucessos de Bob Marley e Fleetwood Mac, além de “32 flavors”, de Ani DiFranco – uma das músicas mais presentes nos shows recentes da cantora, na qual ela costuma apresentar a banda.

A cantora americana confirma o entusiasmo mútuo de trabalhar com o guitarrista brasileiro. “Gosto muito de trocar experiências com os músicos brasileiros, que têm um ritmo único. São dois países muito musicais – e o jazz é uma música universal”,

responde Dianne, que, em 2016, se apresentou com Lubambo em dupla de voz e violão no Bourbon Festival, em Paraty.

“Considero ele já parte da minha família, temos um carinho imenso e uma ligação musical que se reflete nesses anos todos de parceria. Essa admiração mútua é que faz a admiração durar tanto”, ressalta.

JB

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