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Quais são os tipos de queimadas ilegais mais utilizadas pelo agronegócio na Amazônia

AGRONEGÓCIO FAZ QUEIMADAS ILEGAIS

Com a recorrência das queimadas na floresta amazônica, as perdas para a biodiversidade são imensuráveis, afirmam cientistas.

Todos os anos, sobretudo a partir de julho, quando se vive o auge do clima seco do verão na região amazônica registra-se um aumento no número de queimadas.

Especialistas do Greenpeace afirmam que atualmente há três formas de utilizar o fogo. Todas estão ligadas à monetização da floresta e tem por trás o agronegócio.

Rômulo Batista, da Campanha Amazônia do Greenpeace, explica que praticamente todo o fogo na Amazônia precisa de alguém riscando um fósforo existir. Em geral, esse ato ilegal responde a uma dessas três intenções: renovação de pasto; para desmatamento; ou para terminar de desmatar.

O tipo mais recorrente varia de acordo com o período analisado. De acordo com recentes análises dos focos de calor vs uso da terra grande parte das queimadas têm ocorrido em áreas de floresta ou áreas recém-desmatadas.

“Isso indica o uso do fogo como parte do processo do desmatamento. Segundo análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em 2019, 34% dos focos do ano caíram sobre áreas recém desmatadas, 30% como incêndios florestais, ou seja, em áreas que ainda são floresta e 36% para o manejo agropecuário”, explica a gestora ambiental Cristiane Mazzetti, também da Campanha Amazônia do Greenpeace.

Pasto novo

“No verão da Amazônia, o pasto fica seco. Então eles queimam a área de pastagem, que queima rapidamente e não afeta as raízes. Depois quando volta a chuva, essas gramíneas nascem de novo. O problema é que esse fogo acaba escapando para áreas de florestas que, quando degradadas, pegam fogo”, explica Rômulo Batista.

Queimada de grande porte em área de desmatamento e vista no município de Apuí, Amazonas. / Bruno Kelly/Amazônia Real

“Limpar com fogo”

A segunda forma de queimada serve para matar árvores menores. As maiores, consideradas de valor pelos madeireiros, são retiradas. As que sobram, de menor porte, são queimadas.

Esse crime também é conhecido como “limpar com fogo” e como as árvores menores ficam mais expostas ao sol, isso as torna mais suscetíveis ao fogo.

Completar a devastação

A terceira maneira consiste também em terminar um processo de devastação já iniciado. Nesses casos, há a derrubada das árvores com motosserras ou com o que eles chamam de correntão – método de derrubada de árvores que utiliza dois grandes tratores para puxar uma corrente grossa que derruba tudo o que está em seu caminho.

Depois, os desmatadores deixam a área secar ao sol. Dias, semanas ou meses depois, fazem uma grande pilha com a floresta morta e ateiam fogo nessa matéria orgânica.

“O que tem se tornado mais comum é o fogo em área de floresta. A floresta intacta queima muito pouco, porque ela é muito úmida, mas essas florestas em áreas próximas a áreas de pecuária e outras atividades econômicas já foram muito exploradas”, explica Batista.

 A floresta intacta queima muito pouco, porque ela é muito úmida.

 “Elas passam por um processo chamado “broca”, que é limpar a floresta por baixo das copas das árvores, tirando as árvores menores e os arbustos e possibilitando que o sol chegue ao material orgânico que fica no solo da floresta.

Assim, essa matéria orgânica se torna inflamável, porque está sujeita a toda essa radiação do sol. Depois, põem fogo.

Foi isso que a gente identificou no Dia do Fogo, que 34% das áreas queimadas acabaram sendo áreas de florestas, que foram colocadas fogo”, complementa.

Na análise de Cristiane Mazzetti, do Greenpeace, todas as formas são muito agressivas para a floresta, para a biodiversidade e para o clima.

“Um fogo, seja para desmatar ou para renovação de área agrícola, pode escapar e atingir áreas de floresta, onde árvores morrem e emitem carbono. Além disso, o equilíbrio da floresta e sua biodiversidade são afetados”, argumenta a gestora ambiental.

“O fato é que qualquer situação gera emissões que contribuem com as mudanças climáticas. Quando é utilizado para desmatar impacta, também, diretamente os seres que compõem a floresta”, acrescenta.

Catarina Barbosa

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