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Julio Machado atua em terror com masculinidade tóxica: ‘Homem também é vítima do machismo’

Julio Machado vive o pedreiro Jorge em 'A sombra do pai' — Foto: Divulgação

Julio Machado tem medo de filme terror, mas mais ainda da sociedade atual. Agora, o ator enfrenta estes dois monstros para estrelar seu primeiro longa do gênero: o brasileiro “A sombra do pai”, dirigido por Gabriela Amaral.

Machado vive Jorge, pedreiro viúvo e pai da pequena Dalva (Nina Medeiros). A menina acredita ter poderes sobrenaturais e tenta trazer a mãe de volta à vida quando o pai – bruto e desumanizado – se torna cada vez mais ausente – e perigoso.

O filme levou três prêmios no Festival de Brasília em 2018 e foi selecionado para o Festival de Cinema de Tóquio no mesmo ano. Ele chega aos cinemas nesta quinta-feira (2).

A diretora descreve o personagem de Machado como lixo tóxico da sociedade. E foi justamente a decadência que o atraiu. “Ele representa a falência do masculino. Trabalha três turnos por dia e é tomado por essa masculinidade tóxica. O Jorge está em todos nós”, conta.

“Fui criado por uma família amorosa, mas herdei, como qualquer homem, um comportamento social duro. Acho que o homem também é vítima do machismo, de forma muito menos brutal é claro. Quanto mais o homem negar isso, mais ele vai causar sofrimento aos outros e a ele mesmo”.

Julio Machado no Festival do Rio — Foto: Divulgação
Julio Machado no Festival do Rio — Foto: Divulgação

Machado também está no ar em “Malhação”, como o major da polícia Marco Rodrigo. Assim como Jorge, seu personagem da trama adolescente também é viúvo e pai. Mas ao contrário daquele, é cheio de ternura.

Boa safra de terror no Brasil

Para o ator, “A sombra do pai” não se trata de um terror tradicional. “É cheio de sutilezas, porque fica evidente que estamos retratando o Brasil, a questão de classes, o sistema de trabalho que rouba a humanidade das pessoas, criando monstros”, explica.

Alguns críticos de cinema classificam filmes do estilo descrito por Machado como “pós-terror”, em alta no cinema americano.

O horror passa por um bom momento, com títulos entre as maiores bilheterias mundiais e críticas positivas aos seus lançamentos. Para o ator, o Brasil começa a viver isso também e pode se consolidar como um produtor importante do gênero.

“Tem uma galera nova muito interessada, já produzindo obras importantes. A gente não fica sabendo, muitas vezes, porque o cinema brasileiro fica em segundo plano, mas muitas obras são reconhecidas fora do país”, conta.

Nina Medeiros e Clara Moura em cena de 'A sombra do pai' — Foto: Divulgação
Nina Medeiros e Clara Moura em cena de ‘A sombra do pai’ — Foto: Divulgação

Para o ator, o terreno é fértil porque o terror é mais reconfortante que a realidade.

“Vivemos um estado de insegurança social. Não temos muita clareza do que pode nos acontecer, então surge no campo da representação e das artes filmes que procuram nos libertar dessa angústia, assim como foi a tragédia grega.”

Julio confessa que não assistiu a muitos títulos do gênero por medo. Mas tem uma admiração sádica por “Cemitério Maldito”. Coincidentemente, um remake do filme de 1989 estreia dia 9, uma semana após “A sombra do pai”.

Pelas mãos de Gabriela Amaral

O convite para o longa parece história de comédia leve: ator e diretora foram apresentados um por uma colega em comum, tomaram café despretensiosamente e conversaram por horas, as personalidades bateram e, dias depois, chegou o convite por e-mail.

Para ele, ser dirigido por Amaral foi fundamental para encontrar o tom do personagem. “Ela é uma estudiosa voraz do tema, sabe tudo não só do ponto de vista técnico e do roteiro, mas da construção das cenas, dos enquadramentos e da atmosfera do medo”, elogia.

A diretora tem no currículo o longa “O animal cordial” (2018) e curtas elogiados, como o premiado “A mão que afaga” (2012).

G1

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