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Chomsky: “Moro estava envolvido em esforços corruptos para tentar garantir a prisão de Lula”

(Foto: Foto: ChinaPress)

Os jornalistas Aldo Sauda, Cauê Ameni, Guilherme Ziggy e Hugo Albuquerque entrevistaram Noam Chomsky, maior intelectual de esquerda nos Estados Unidos, na Jacobin Brasil.

JB: Os vazamentos do The Intercept Brasil mostram como o judiciário brasileiro não seguiu as regras das democracias modernas onde há uma clara divisão de poderes? E o que dizer da cooperação entre o judiciário brasileiro e os Departamentos de Justiça dos Estados Unidos e Suíça?

NC: As revelações de Glenn Greenwald deixaram absolutamente claro que o juiz Moro era tudo menos um herói, ao contrário do que foi apresentado pela imprensa. Moro estava envolvido em esforços corruptos para tentar garantir a prisão de Lula. Tornou-se pública a informação de que o próprio Ministério Público não tinha provas suficientes para uma acusação e o Moro os incentivou a fazer, mesmo assim, uma denúncia para se livrar daquela figura perigosa e o golpe da direita pudesse se concretizar.

Quanto mais a corrupção de Moro é exposta, mais ele lança ataques para poder suprimi-la, mostrando o quão corrupto ele é — e fica mais claro o profundo ataque a democracia brasileira.

Em relação à cooperação internacional, nós podemos apenas especular, mas claramente ocorreram contatos com o Departamento de Justiça  dos Estados Unidos. O que eles fizeram exatamente, não tenho informações precisas, mas algo parecido ocorreu com outros países. 

É difícil dizer, pelo menos nos Estados Unidos, durante o governo Trump, que apoiou intensamente esses esforços, quais foram as forças diretas que eles empregaram, mas as revelações em si são dramáticas. 

Outra coisa que me chamou a atenção foram as revelações de que Moro, cuidadosamente, deixou de fora das investigações do governo FHC. Isso é importante porque provavelmente o pior crime de Bolsonaro, que é a destruição da Amazônia, tem precedente no governo FHC, onde o desmatamento cresceu em uma velocidade incrível, talvez a maior de todas — e no governo FHC, lembremos, havia muita corrupção. 

A insistência de evitar que FHC fosse investigado, enquanto fabricava acusações contra Lula, é uma coisa muito grave. Por isso, segundo qualquer parâmetro, Lula é um preso político, o principal preso político do mundo.

JB: E você visitou Lula em Curitiba recentemente?

NC: Um pouco antes das eleições, junto com a minha esposa Valéria, que é brasileira. Lula estava muito otimista naquela ocasião. Ele achava que apesar de ter sido silenciado, havia uma grande chance do PT ganhar, isso antes dessa campanha massacrante nas redes sociais. Eu fui informado hoje, 07 de agosto, e provavelmente vocês saibam disso melhor do que eu, que Lula pode ser transferido para uma prisão comum no interior de São Paulo.  

Isso é mais um esforço para calar sua voz, mais uma voz calada por vinte anos. Até a segurança de Lula está em risco pelo que está acontecendo. Por essa razão, eu acho que comparar Bolsonaro a Mussolini não é exagerado. Isso resgata uma frase de Marx a respeito de uma observação de Hegel: uma vez como tragédia, depois como farsa.  

Do DCM

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