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Brasil sempre foi um dos países mais desiguais do mundo/ Sérgio Jones

A desigualdade no Brasil

Para Tereza Campello, coordenadora do relatório Faces da desigualdade no Brasil/ Um olhar sobre os que ficam para trás. É afirmativa quanto a existência perversa que nos torna um país tão desigual.

Por isso mesmo pontua com precisão o quanto é fundamental analisar o enfrentamento das desigualdades em perspectiva, considerando, inclusive, os avanços em outras áreas que não apenas a renda. Considera importante olhar o que vem mudando ao longo do tempo.

O olhar voltado somente para o retrato atual, ele causa uma paralisia, porque o Brasil sempre foi um dos países mais desiguais do mundo e continua sendo. Por conta disso, a impressão que se tem é que não é possível mudar essa realidade, mas isso não é verdade.

Para a coordenadora é possível mudar a realidade através de investimentos de caráter público, com consistentes medidas políticas para que se altere o atual status quo. O Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. E esta realidade de 500 anos de história não se muda em um curto período de tempo, mudanças concretas só serão possíveis se houver continuidade de investimento na redução da desigualdade.

Outro aspecto abordado pela pesquisa é que o segmento dos ricos tem acumulado, ao longo da história, muito e de forma radical, enquanto os pobres sempre ganham muito pouco. E para agravar ainda mais a situação esdrúxula, os ricos não pagam impostos, mas os pobres, sim.

O que significa observar a existência de um processo, seja pelo lado do gasto público, seja pelo lado da arrecadação pública, de muita injustiça social no Brasil.

Todo o trabalho da pesquisadora tem como objetivo analisar as desigualdades entre os 5% e os 20% e o total da população. A pesquisa abre a perspectiva de desmistificar o conceito do 1% mais rico e dos 99% da população, como se os 99% fossem pobres do mesmo modo, e não são.

Garante ela, que a desigualdade no Brasil é tão perversa, que há uma diferença gigantesca entre a situação dos que são mais pobres, aqueles abaixo dos 20%, e os demais. O que deixa claro o que está a acontecer com os ricos e o restante da população; a população precisa ser olhada como um todo, para que não deixe transparecer equívocos.

Também é citado no trabalho, em termos comparativo, o percentual de brasileiros que têm acesso à energia elétrica: em 2002, 96,7% dos brasileiros tinham acesso à energia elétrica, e somente 3% dos brasileiros não tinham.

Então, se considerar esse dado, a impressão é de que todos têm acesso à energia elétrica, porém, quando debruça o olhar sobre os pobres, aqueles 20%, o que se constata é que eles não tinham energia elétrica. E este percentual da população pobre no Brasil, não é nada desprezível.

Outro aspecto captado pela pesquisa é que em 2002, existiam 75,9 milhões de pessoas negras com acesso à energia elétrica, contra 91 milhões de brancos, só que a população de pretos e pardos é maior do que a população de brancos.

Esse número aumentou de 75,9 milhões para 109 milhões, ou seja, aproximadamente mais 30 milhões de pessoas negras passaram a ter energia elétrica.

Por isso que quando se olhavam os dados gerais parecia que todo mundo tinha acesso à energia, porque estava sendo observada uma média. Assim a análise dos dados gerais, olhando para os 99% da população, dava a impressão de que alguns problemas já estavam resolvidos no Brasil, quando não estavam.

“Nós não estamos dizendo que esse é o único modo de olhar as desigualdades, mas esse era um olhar que faltava no Brasil, porque só tratamos as desigualdades olhando o 1% riquíssimo contra o resto da população, como se o restante da população fosse um todo igual”, garante.

Sérgio Jones, jornalista (sergiojones@live.com)

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